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OS POBRES E O MEIO AMBIENTE


Amélio Dall’Agnol

“Não se pode conceber um planeta ambientalmente sadio, num mundo socialmente injusto” (ECO 92)

Com relação ao ambiente, a humanidade vive o dilema de um duplo problema, como a necessidade de preservar os recursos naturais – que são finitos e vulneráveis - e a de alimentar uma população sempre crescente. Daí surge a pergunta: como satisfazer as atuais necessidades alimentares de mais de um bilhão de subnutridos sem alterar a capacidade de alimentar outros milhões de seres humanos, que nascerão nas próximas décadas?!

Recentemente, comemorou-se o Dia Mundial do Meio Ambiente, quando muito se falou sobre a destruição ambiental já realizada e as ameaças que ainda pairam sobre a sustentabilidade futura do Planeta, a persistir o atual modelo de desenvolvimento agressivo à natureza, praticado conscientemente pelos ricos, mas inconscientemente pelos pobres.

Sim, o pobre é agente inconsciente da destruição ambiental e essa sua agressão é uma resposta, também inconsciente, das agressões que ele suporta da sociedade. O pobre destrói a natureza sem sabê-lo e o faz no afã de buscar a própria sobrevivência e a de seus familiares. Sua condição de ignorância e pobreza não o estimulam a preocupar-se com o entendimento e o uso das tecnologias que preservam o ambiente, essenciais para o êxito do novo paradigma de desenvolvimento, que busca a produção com conservação dos recursos naturais. Que lhe importa a sustentabilidade da produção, que preservará a vida de gerações futuras, se a sua própria não consegue sobreviver? A preocupação com as gerações futuras só poderá ser considerada por quem já tenha satisfeitas as necessidades presentes.

A pobreza é um importante agente de destruição ambiental, pelo que seria irracional propor um programa de preservação sem considerar os pobres, que têm na exploração dos recursos naturais sua única opção para sobreviver. Marginalizados e sem horizonte de esperança para um futuro melhor, esses “cidadãos” são ameaça, não apenas ao meio ambiente, mas também à sociedade que os despreza; desesperados, eles investem contra o patrimônio alheio e contra a natureza, destruindo a capacidade de provimento do próprio sustento. Pobreza e violência estão em sintonia, andam de mãos dadas e compartilham o mesmo cenário.

Quando se compara o mundo de hoje com o de décadas passadas, não há como desconhecer que o mundo avançou. Mas avançou enviesado. Cresceu mais para um lado, formando tumores no tecido social da humanidade. Os benefícios desse crescimento econômico mundial não foram distribuídos por igual. Os que precisavam menos ficaram com mais e, conseqüentemente, os ricos ficaram mais ricos e os pobres mais pobres.

Estudos do Banco Mundial, sobre o desenvolvimento econômico/social mundial dos últimos 130 anos, concluiu que o rendimento dos ricos cresceu seis vezes mais que o dos pobres e responsabiliza as políticas desleais de subsídios e protecionismo praticadas pelos países desenvolvidos como uma das causas desse desajuste. As nações industrializadas, ao tempo que estimulam a abertura dos mercados nacionais, para promover o aumento de intercâmbio comercial entre os povos e, assim, gerar riquezas para o bem estar geral, cinicamente fecham os próprios mercados para produtos de terceiros países (os países pobres são mais vulneráveis), valendo-se de ridículas desculpas travestidas de salvaguardas sanitárias, ambientais ou sociais, o que dificulta e inibe as exportações dos produtos comercializados pelas nações pobres. Essas, conseqüentemente privadas dos ingressos pelas exportações não realizadas, não dispõem dos recursos financeiros necessários para combater a pobreza e inserir social e economicamente os seus miseráveis – atores importantes no processo de degradação ambiental. Sensibilidade para preservar a natureza, tudo tem a ver com o desenvolvimento humano da sociedade, que as nações pobres buscam desesperadamente, mas não conseguem.

As nações industrializadas, utilizando deslealmente seus poderes econômico e tecnológico, impõem às subdesenvolvidas as regras do “livre comércio”. Essas regras estabelecem, na prática, o preço a pagar pelos produtos de baixa tecnologia que importam, bem como o valor a receber pelos bens de alta tecnologia que exportam, resultando num injusto intercâmbio de mercadorias. As nações pobres - quando conseguem exportar - são forçadas a vender cada vez mais para comprar cada vez menos, sem considerar a dupla perda que já sofrem por causa dos subsídios, onde perdem porque o Primeiro Mundo se autoabastece e perdem, novamente, porque os excedentes subsidiados são exportados, deprimindo os preços no mercado internacional.

Assim, fica difícil para uma nação pobre investir em preservação ambiental, quando outras necessidades mais prementes (saúde, educação e segurança) não estão ainda satisfeitas. A persistirem as distorções no intercâmbio comercial entre nações pobres e ricas, ao invés de uma economia globalizada, onde todos se beneficiam, Ter-se-á uma convulsão generalizada, onde todos perdem.

As nações ricas precisarão ser mais solidárias com o desenvolvimento sustentável das nações pobres, para não acabarem, também, vítimas do vandalismo dos miseráveis, que, na desesperança de uma vida digna em seus países de origem, tentarão migrar – legal ou ilegalmente - para os seus territórios, onde poderão representar riscos de desestabilização social, como parece já estar ocorrendo com latino-americanos nos Estados Unidos e africanos na Europa. “Se uma sociedade livre não pode ajudar os muitos que são pobres, acabará não podendo salvar os poucos que são ricos” (John Kennedy).

É verdade que a destruição ambiental é responsabilidade tanto das nações pobres quanto das ricas, mas, convenhamos, a responsabilidade destas é muito maior. Segundo a ONU, apesar do dano causado à natureza pela massa de despossuídos, são os países ricos os grandes vilões da destruição ambiental, pois, respondendo por apenas 25% da população, consomem 80% dos recursos do Planeta.

A propósito: uma política racional de proteção ambiental passa pela erradicação da pobreza.

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