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Possível relação entre comportamento e alimentação


Martha Zavariz de Miranda

Acreditar que o comportamento humano é afetado pela dieta não é nada novo, basta lembrar o antigo ditado: “o homem é o que ele come”. A célebre frase do grego Hipócrates, pai da medicina, “faça do seu alimento, o seu medicamento”, no século V antes de Cristo, indicava que alimentação adequada e água de boa qualidade seriam condição para um comportamento saudável.

Nos tempos primitivos acreditava-se que ao se ingerir determinado alimento se estaria adquirindo as qualidades desejáveis do animal (ou mais raramente, vegetal) ingerido. O próprio canibalismo baseava-se na idéia de que comer carne e beber sangue de um oponente combativo poderia transferir esta bravura para quem os ingeria. Ou seja, a alimentação regia o comportamento desses grupos.

Evidências sugerem que comportamentos como violência e agressividade, podem estar relacionados com a alimentação. Segundo artigo de maio de 2006 da revista The Guardian, da Inglaterra, numa prisão, os infratores reincidentes de 13 a 17 anos possuíam deficiência de certos nutrientes. Um conjunto de presos foi tratado com nutrientes como ferro, magnésio, folato (ácido fólico ou vitamina M), zinco, vitamina B12 (grupo tratado), o outro com placebo (grupo controle), sendo todos aconselhados a melhorarem seus hábitos alimentares. Concluiu-se que o número de incidentes violentos no grupo tratado caiu 80%, e no grupo controle reduziu 56% para aqueles que seguiram o conselho mudando a alimentação e não se alterou para aqueles que resistiram em mudar seus hábitos alimentares.

Na mesma revista, em outubro de 2006, foi publicada matéria relacionada ao comportamento violento, a deficiência de ácidos graxos ômega-3 (presentes em salmão, atum, bacalhau, arenque, cavalinha, sardinha, truta, óleos de peixe, sementes de linhaça etc) e a alimentação de baixo valor nutritivo (bebidas carbonatadas, alimentos crocantes, biscoitos, doces, hamburgueres etc).

Reclusos submetidos a mudança na alimentação, onde foram incluídos alimentos contendo ácidos graxos ômega-3 modificaram notavelmente o seu comportamento, tornando-se menos agressivos. A explicação para o comportamento violento seria porque a deficiência de ácidos graxos ômega-3 diminui os níveis de serotonina do cérebro em períodos críticos do desenvolvimento neurológico, provocando uma evolução deficiente dos sistemas de neurotransmissão cerebrais, limitando o funcionamento ótimo do sistema límbico e do córtex cerebral frontal.

Outra pesquisa realizada em prisão de alta segurança para jovens delinqüentes demonstrou que os comportamentos violentos podiam ser atribuíveis, ao menos em parte, a deficiências alimentares. Foram fornecidas aos jovens presos, complementos como multivitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais, o que levou a redução de 37% dos delitos violentos registrados dentro da própria prisão e de 26% dos demais delitos.

Em outro estudo foi mostrado que a composição das membranas das células nervosas do cérebro de pessoas do Ocidente era diferente de pessoas japonesas, que ingerem mais alimentos com ácidos graxos ômega-3. As membranas das células nervosas cerebrais dos Ocidentais continha maior quantidade de ácidos graxos ômega-6 (presente em óleo de soja, de milho etc), menos propiciadoras de sinapses, enquanto que os japoneses tinham nas suas membranas celulares maior quantidade de ácidos graxos ômega-3, que são mais flexíveis.

Evidentemente que a dieta não é a única causa do aumento da violência no Ocidente, no entanto, sugere-se que pode ter certa influência, ou seja, a alimentação pode afetar não somente a saúde do organismo, mas também o comportamento do indivíduo.

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