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Respeito e solidariedade às mulheres


Arnaldo Calil Pereira Jardim
Oito de março, dia Internacional da Mulher. A data tem grande valor por destacar a importância e o papel da mulher na sociedade não só como mãe e companheira, mas como agente econômica, social e política. Deve porem ir além dos gestos de oferecer agrados, distribuir galanteios e reverências que duram pouco.

Se é verdade que a mulher – mesmo em comunidades mais fechadas e conservadoras – começou a se destacar somente no século passado como ponto de referência das conquistas sociais e do desenvolvimento humano, também é mais do que evidente o quanto lhe tem custado essa proeminência, qualquer que seja o ponto de vista da análise. Um exemplo dramático refere-se à competição com os homens por postos de trabalho semelhantes que seguem remunerando melhor a “força” masculina.
Especialmente nas classes menos favorecidas, a mulher segue penalizada no direito à saúde, à educação, ao lazer e quanto às responsabilidades familiares, que a obrigam a cumprir duas ou mais jornadas de trabalho se a essas somamos as obrigações de funcionária, especialmente nas grandes cidades brasileiras onde o transporte público é desqualificado e os pobres são cada vez mais afastados para as periferias onde não existem empregos ou presença do Estado. Ao mesmo tempo, aliadas ao consumo e à consumação da própria mulher, as tendências cada vez mais fortes e explícitas de glamourização, mercantilização, “beleza”  e vulgarização do feminino minam os esforços de autoafirmação do gênero perante os homens e até diante de outras mulheres.
Lutas recentes já promoveram muitos e reconhecidos avanços, como a licença maternidade e a proteção contra a violência – especialmente masculina, mas se iniciaram a muito antes. As ideias de reconstruir o papel da mulher nasceram do movimento socialista mundial, no final do século XIX e começo do século XX. Lá nos escritos de Marx e Engels é possível identificar as raízes. A visão da família, da mulher proletária e da burguesa que permeiam A Origem da Família, da Propriedade e do Estado, de Engels, é a base da visão dos socialistas sobre a necessidade da libertação da mulher proletária. Na observação de Marx, a opressão do homem pelo homem iniciou-se com a opressão da mulher pelo homem.
A tradição anarquista de uma parte do movimento operário também exigia a igualdade de homens e mulheres. Em meio às lutas operárias e às discussões teóricas, no campo socialista, nasceu a luta pela participação política e, pouco a pouco, pela libertação da mulher. E no começo do século XX cruzaram-se as batalhas das socialistas com a do movimento das mulheres independentes, de classes média e alta, em campanha pelo direito de voto, nos Estados Unidos e na Inglaterra. As relações eram conflituosas, por causa das visões e posições diferentes de classe. Mas as mulheres e a sociedade avançaram.
Nas últimas décadas a dinâmica demográfica brasileira foi influenciada por mudanças decorrentes da transformação de uma sociedade rural para uma sociedade urbana e industrial, com destacada importância das mulheres na consolidação do novo perfil populacional do País, com forte redução das taxas de natalidade e mortalidade.

Vejam o quadro eloquente para entendermos o peso da mulher na vida nacional. Segundo o último Censo Demográfico (2010) o Brasil possui a quinta maior população mundial, 51% dela constituída de mulheres. E diferentemente das décadas anteriores, metade da população feminina declarou-se de cor/raça negra1. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2011, havia no Brasil cerca de 195,2 milhões de pessoas, das quais 100 milhões eram mulheres. Nesse grupo, 50% eram negras (pretas ou pardas), 49% eram brancas e 1% era indígena ou amarela.
Mesmo tendo uma Presidente da República, a participação feminina brasileira no poder, por exemplo, é muito baixa. A União Interparlamentar (IPU), entidade com sede na Suíça, criou um ranking baseado na composição dos parlamentos. Em 2012, de 190 países, o Brasil ocupou a 158ª posição, com 8,6% de mulheres no legislativo. As mulheres do Iraque (com 25,2%), do Afeganistão (com 27,7%) e de Moçambique (com 39,2%) estão em melhor situação do que as brasileiras.
Nas eleições do ano passado, 13,3% dos vereadores eleitos foram do sexo feminino. Em Florianópolis e Palmas, nenhuma mulher se elegeu. Esse retrato não é fiel à nossa representação demográfica e social. E se o eleitorado brasileiro, como se diz, não tem preconceito em votar nas mulheres, por que a participação feminina na política cresce apenas 1%, em média, a cada eleição? Precisamos procurar as respostas. E elas não estão em pesquisas, mas na própria estrutura social, econômica e política brasileira.
Temos muito que fazer. E tudo começa por uma atitude individual, de reflexão – de homens e mulheres – sobre as mulheres que estão ao nosso lado, que trabalham conosco, com as quais nos encontramos diariamente na condução, nas ruas, nas igrejas, nos hospitais, ao lado dos nossos filhos ou apartadas deles... É esse esforço de olhar diário que precisa emergir do dia oito de março para que além de uma homenagem sejamos capazes de cotidiano respeito pelo gênero e permanente solidariedade às mulheres.

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