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Sistema Agropastoril e Produção de Leite Bovino no Litoral do Piauí


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

Parnaíba, 04 de junho de 2007 - Como amplamente divulgado, a característica mais marcante da região Nordeste é a instabilidade pluviométrica. Dentre outras conseqüências desta característica, está sua contribuição para que o custo de produção de leite no Nordeste seja superior ao de outras regiões do Brasil, em decorrência da necessidade de suplementação alimentar do rebanho com concentrados de preços elevados, em geral não produzidos na região. Em adição, a falta de capital e, principalmente, a falta de conhecimento do produtor contribuem para que a tecnologia adotada na produção de leite no Nordeste seja a mais deficiente do país.

O estado do Piauí é o último produtor de leite na região Nordeste, ocupando o 23o lugar no ranking nacional, com uma produção de apenas 74 milhões de litros/ano. No estado existem duas bacias leiteiras tradicionais: a de Teresina e a de Parnaíba, que apresentam produção média de 169,7 e 114,8 L de leite por produtor/ano, respectivamente, sendo que, em ambas, 82% dos produtores têm rebanhos com produtividade abaixo de 10 L de leite/vaca/dia (Sebrae, 2004). Esta baixa produtividade eleva os custos de produção e é decorrente de vários fatores, dentre os quais destacam-se manejos sanitário, reprodutivo e alimentar inadequados.

Em relação à alimentação, se destaca o uso intensivo de concentrados, sendo baixa a produção de leite a pasto, apesar dos esforços da Embrapa Meio-Norte na transferência desta tecnologia junto aos produtores da região. Um dos fatores relacionados à intensa utilização de concentrados é a sazonalidade da produção de forrageiras, que dificulta uma maior produção de leite a pasto.  Este entrave vem sendo contornado com a utilização de pastagens irrigadas. Entretanto, em adição, vem sendo detectado outro problema no que se relaciona às condições climáticas desfavoráveis à produção de leite, especialmente de vacas de origem européia, as mais utilizadas na região: a elevada temperatura ambiente que permanece estável praticamente durante todo o ano.

O estresse térmico por calor é um fator restritivo à produtividade animal em áreas tropicais, influenciando os parâmetros fisiológicos, o comportamento dos animais, a reprodução, o consumo de alimentos, principalmente de volumosos, e a qualidade e quantidade do leite produzido.

O estresse térmico indica ausência de bem-estar animal. A preocupação com o bem-estar dos animais está ganhando importância nos países desenvolvidos, onde é crescente o número de organizações sociais que tratam do assunto e condenam o confinamento como método de produção. Muito tem sido estudado sobre a resposta animal em sistemas intensivos de criação em condições de estresse térmico provocado pelo calor, como atestam diversos artigos já publicados. Contudo, existe pouca discussão na literatura científica sobre situações de manejo extensivo, principalmente no que se refere à produção de leite a pasto. Do ponto de vista de alimentação do rebanho, o pasto é o mais barato de todos os alimentos, além de ocasionar menor impacto negativo sobre o meio ambiente que os sistemas em confinamento.

Em ambiente aberto a radiação solar é a maior fonte de calor para os animais. Uma alternativa para evitar este estresse térmico é o uso de sombreamento natural. Porém, em geral, as árvores são retiradas na implantação da pastagem, sob o pretexto de dificultar sua formação e manejo.

Considerando que os animais procuram localizar-se em ambientes termoneutros, muitas vezes a procura de locais sombreados é a única opção em condição de estresse calórico. Em pastagem sem sombra, os bovinos apresentam sinais de estresse térmico que se manifestam por movimentação excessiva, a fim de otimizar o resfriamento através da evaporação, ou redução na movimentação, a fim de reduzir a produção de calor, além de agrupamento nos extremos do piquete, ingestão freqüente de água e descanso na posição deitada.

Com o recente reconhecimento e a conscientização da importância dos valores ambientais os Sistemas Agroflorestais (SAFs), dentre os quais os sistemas agropastoris, silvipastoris e agrosilvipastoris se constituem em alternativas sustentáveis para aumentar os níveis de produtividade. Os SAFs referem-se a uma ampla variedade de formas de uso da terra, onde árvores e arbustos são cultivados de forma interativa com cultivos agrícolas, pastagens e/ou animais, visando múltiplos propósitos, constituindo-se em opções viáveis de manejo sustentável da terra. Entre os benefícios ambientais destes sistemas, destaca-se o melhor controle da temperatura ambiente, da umidade relativa do ar e da umidade do solo, que se alteram bastante em áreas abertas, sem árvores. Nos SAFs, a presença do componente arbóreo contribui para regular a temperatura do ar, reduzindo sua variação ao longo do dia e, conseqüentemente, tornando o ambiente mais estável, o que traz benefícios às plantas e aos animais componentes desses sistemas.

Em relação aos bovinos, a disponibilidade adequada de sombra produz mudanças favoráveis no comportamento de pastoreio e sobre a produtividade: os animais dedicam mais horas diárias ao pastejo e à ruminação; o consumo de alimento se maximiza sob conforto térmico, diminui a necessidade de água, a conversão alimentar melhora, com a menor utilização de energia para dissipação do calor excessivo.

O coqueiro (Cocos nucifera), cuja produção é de fundamental importância econômica e social para a região Nordeste, pode ser utilizado como um dos componentes do sistema agropastoril, vindo a fornecer o coco para a venda e agregando valor à propriedade rural produtora de leite. O Nordeste é responsável pela maior produção de coco do país. Em 2001 esta região respondeu por cerca de 71% da produção nacional, sendo a Bahia o principal produtor, seguida do Ceará e Pará (Agrianual, 2003). A produtividade média brasileira de coco é baixa, na ordem de 20 a 30 frutos/planta/ano e a produção não tem sido suficiente para atender a demanda do mercado interno.

Apesar do grande potencial da cocoicultura no Brasil, em especial do Nordeste, pouco se sabe sobre o consórcio entre a produção de coco, pasto e produtividade de bovinos leiteiros. Assim, a Embrapa Meio-Norte aprovou recentemente um projeto de pesquisa com o objetivo de avaliar a eficiência de um sistema de produção de leite agropastoril rotacionado e irrigado com base na produtividade da atividade pecuária e fruticultura de coco. Este projeto encontra-se em fase de implantação e espera-se que nos próximos dois anos os resultados sejam positivos e possam ser transmitidos para os produtores de leite/coco da região litorânea dos estados do Piauí e Maranhão, em dias de campo e visitas técnicas.

Referências Citadas

AGRIANUAL. Anuário Estatístico da Agricultura Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 2003.

SEBRAE.  Diagnóstico das bacias leiteiras de Teresina e Parnaíba. 2004.

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