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UTILIZAÇÃO DA QUEIMA CONTROLADA EM CARONAL


Sandra Mara Araújo Crispim

Por: Sandra Mara Araújo Crispim

Evaldo Luís Cardoso

A comunidade denominada caronal caracteriza-se pela dominância da espécie Elyonurus muticus. Está localizada na unidade de paisagem, savana gramíneo-lenhosa, definida como área de campo, situada em mesorelevo mais elevado, ou seja, pouco ou não alagável. Essa comunidade está presente na sub-região da Nhecolândia, em torno de 20% e também nas sub-regiões de Paiaguás, Cáceres, Abobral e Aquidauana. A espécie Elyonurus muticus é perene, cespitosa e apresenta parte aérea aromática com presença de óleos essenciais. A presença de óleos essenciais faz com que a planta seja consumida, pelos bovinos, no máximo até 15 dias após a queima.

Por ser a queima um instrumento de manejo em áreas tropicais e por ser uma ferramenta bastante utilizada na região, a Embrapa Pantanal, há muito tempo vêm estudando a utilização da queima controlada, principalmente em área de caronal. A grande quantidade de macega acumulada nessa fitofisionomia pode contribuir para o maior número de incêndios no Pantanal, assim o uso da queima controlada, mesmo sendo uma prática de manejo polêmica e com alguns impactos negativos, pode constituir uma prevenção aos incêndios na região.

Com mais ênfase a partir de 1995, os estudos da Embrapa Pantanal tiveram como objetivo avaliar o efeito da freqüência da queima (anual e bienal) na produção e composição química da matéria seca produzida, e assim gerar informações sobre o uso do fogo de maneira racional. A queima controlada deve ser sempre realizada uns dois dias após uma boa chuva, para garantir um eficiente umedecimento do solo.

Os resultados indicam que a queima no campo de capim carona não promove efeitos drásticos sobre a produtividade primária liquida aérea (variável para cada espécie), sobre a freqüência absoluta das espécies, a composição florística e o número de espécies. O teor de proteína bruta das gramíneas aumenta com a rebrota das plantas pós-queima, devido a eliminação da parte aérea velha e promoção da rebrota (com maior volume protéico) das gramíneas E. muticus, Axonopus purpusii, Mesosetum chaseae Andropogon selloanus. A cobertura do solo em áreas queimadas reduz-se expressivamente e tem levado cerca de quatro a seis meses para igualar-se à área sem queima. A queima determinou alteração do teor de umidade do solo imediatamente após a queima, pois há evaporação da umidade do solo devido à elevação da temperatura do solo promovida pelo fogo. A pós-queima altera os teores de alguns minerais do solo nas áreas de caronal; teor de sódio diminui e os de cálcio, potássio e PH aumentam, temporariamente.

Com base em resultados de pesquisas constata-se que um período de seca seguido de cheia curta, alternados, propiciam modificações de maior intensidade na freqüência das espécies na comunidade do campo de capim carona, do que a utilização da queima. E como garantia para manutenção da biodiversidade presente na área de caronal, recomenda-se que a mesma área seja queimada somente a cada dois ou três anos.

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Sandra Mara Araújo Crispim ([email protected]) e Evaldo Luís Cardoso ([email protected]) são pesquisadores da Embrapa Pantanal.

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