CI

VIVA A FRANÇA!


Paulo Lot Calixto Lemos

Considero dona Francina de Andrade, a nossa sempre querida e respeitada dona França, um dos grandes ícones do seleto grupo dos passenses mais ilustres que já viveram nessas paragens. Personalidade forte e marcante foi por muitos e muitos anos, não apenas a diretora, mas a diretriz, o rumo, a marca registrada da escola publica Grupo Escolar Wenceslau Braz. Por suas mãos passaram, e sob sua responsabilidade foi alfabetizada e educada a maioria das gerações que hoje fazem a “cidade que anda” (como diz o Gustavo) não parar.

Falo isso de cátedra, pois foi no Wenceslau Braz que iniciei meus estudos, foi lá que incutiram em meu caráter o senso de discernimento entre o certo e o errado; sempre sob a batuta da dona França, a coordenação de dona Landinha e dona Elizabete, e através do trabalho “braçal” das professoras dona Blandina, do pré-primário, dona Elzinha, minha alfabetizadora, dona Letícia, dona Izabel entre outras, que recebi minhas primeiras e inesquecíveis lições de vida. Infelizmente foi-se o tempo em que podíamos nos orgulhar das nossas escolas publicas...

Bem, um pouco antes desse tempo, em 1.944, o mundo estava em polvorosa. Em 6 de junho – o famoso “dia D” – os aliados desembarcaram na Normandia e parecia que a nação Francesa estava prestes a ser libertada do jugo nazista.

Enquanto isso, aqui em Passos, a vida, apesar dos racionamentos, transcorria normalmente. Logicamente que todas as noites rodas se formavam para ouvir as ultimas noticias da famigerada guerra, e o assunto de todos os dias não podia ser diferente: “os alemães recuaram e se encastelaram em Aachen, na Alemanha...” repetiam os repórteres de carteirinha. “Não dou mais 3 meses para que Hitler assine a rendição...” afirmavam os mais otimistas. “Ouvi dizer que os alemães estão preparando um contra-ataque que irá fazer pó dos aliados...” cochichavam os agourentos de plantão.

Assim foi, até que numa manhã de agosto do mesmo ano, estourou a noticia que a França enfim estava totalmente livre dos nazistas. A noticia correu como “fogo morro acima”, em poucas horas o largo do Rosário estava lotado de gente, de discursos e de falatório.

No meio da multidão que se formava, acompanhando tudo que acontecia, estava João Silveira Machado, homem simplório e de pouco estudo, que vinha a ser irmão do “Zé Caita”, mais tarde o dono do famoso bar do “Zé Feio”, e primo da dona França e de suas irmãs Cotinha, Oraida, Expedita e Aninha. Primas que ele, na sua autenticidade e simplicidade, muito apreciava.

A multidão cada vez mais animada não demorou a se organizar. Uma banda de musica logo se formou, e acompanhada do indispensável foguetório saiu em passeata pelas tuas ruas da cidade a tocar marchinhas, espocar rojões e a soltar compassados gritos de:

- Viva a França!

- Viva a França!

E dá-lhe estrondo de foguete e marchinha de guerra...

- Viva a França!

- Viva a França!

Quando a passeata descia a atual rua Antonio Carlos, em frente ao casarão onde sempre moraram as primas do seu João, este não se agüentou mais. Do alto de um degrau elevado, imediatamente após o ultimo “viva a França”, ele juntou toda sua força e a plenos pulmões, bradou:

- Viva a Cotinha também!!! E a Oraida também!!! E...

Paulo Lot Calixto Lemos

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.