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Baixos preços tendem a dificultar os investimentos

Cenário tende a se manter enquanto não houver ajustes na demanda



Projeção de oferta global recorde na safra 2025/26, de 542 MM t, 1 % superior a 2024/25. Os estoques finais globais também projetados em volume recorde, em 185,1 MM t.

• Índia alcançando novo recorde histórico de produção – este é o 10º consecutivo – alcançando 151 MM t, devido a maior área plantada e início precoce das monções. Estoques iniciais elevados, diante da retomada das exportações após 2023/24, como resultado, os preços devem ser bastante competitivos.

• Nos EUA, áreas estão em desenvolvimento, com a maioria das lavouras em boas condições.

• No Brasil, a elevada oferta combinada à forte concorrência externa continua pressionando a liquidez do mercado interno — um cenário que tende a se manter enquanto não houver ajustes na demanda ou redução dos estoques disponíveis..

• Os baixos preços tendem a dificultar os investimentos para safra 2025/26 brasileira. USDA projeta queda na produção em relação a 2024/25, estimada em 7,6

O balanço global de arroz para a safra 2025/26 projeta novo recorde de produção, de 542 MM t, ligeira alta de 0,1% frente ao ano anterior, que já vinha de um aumento expressivo da produção. A alta é impulsionada pelo aumento em importantes produtores como Índia, Bangladesh, Burma e Filipinas, compensando a queda na Indonésia, Vietnã e Tailândia.

Os estoques iniciais estão mais elevados, em 187 MM t, reflexo da maior oferta da safra 2024/25, que resultou em maiores estoques finais naquela temporada e ampliou a oferta global estimada em 2025/26 para 729 MM t. O consumo é estimado para se elevar em 2%, de 530 para 538 MM t, sendo a Índia a principal responsável pelo aumento. Tudo indica um balanço de oferta e demanda mais confortável, mantendo a relação estoque/consumo em 35%, compensado pela expectativa de um consumo mais robusto.

A safra 2025/26 no Brasil pode ter menor produção, segundo as estimativas iniciais do USDA, queda de 7% frente a 2024/25. O recuo é estimado após os preços baixos atuais, que devem restringir as margens dos produtores na temporada e se refletir em menores investimentos na cultura para a safra seguinte. Ainda é cedo para consolidação das perspectivas de retração de área, migração de cultura e/ou tecnologia de manejo, mas tudo indica falta de apetite para investimentos.

A safra brasileira de arroz atual (2024/25) caminha para ser a maior dos últimos oito anos, com produção estimada em 12,15 MM t, um crescimento de 14,9% em relação à safra anterior, segundo a Conab. Esse desempenho é resultado de uma combinação de fatores positivos: aumento de 6,9% na área cultivada, que alcançou 1,717 milhão de hectares, e incremento de 7,5% na produtividade média, que chegou a 7,1 t/ha.

A estimativa do USDA para 2025/26 indica uma redução de 5,4% da área plantada para os principais países do Mercosul, considerando Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, para 2,1 MM ha. Todos os países reduzirão a área destinada ao arroz, com exceção do Paraguai, com expectativa de aumento de 210 para 215 mil ha. Com isso, a produção do bloco deve ser 6,7% inferior, somando 9,5 MM t.

As estimativas refletem a oferta elevada e a pressão dos preços nesta safra 2024/25, que somou 10,2 MM t nestes países – um aumento de 4,8% em relação ao período anterior. Para os EUA, a produção 2025/26 está projetada para cair 3,5%, para 9,7 MM t. Essa redução é resultado de uma queda na área colhida, devido às chuvas excessivas no Delta que não foram compensadas pela expansão na Califórnia.

As exportações deverão se manter em relação ao ano anterior, mas com aumento para o arroz beneficiado (2,9 MM t) e redução para o arroz em casca (1,4 MM t). A janela de exportação dos EUA se inicia com a colheita, em agosto, e, como o arroz norte-americano compete diretamente com o brasileiro, sua entrada tende a afetar a competitividade do Brasil nas exportações para países da América Central. As menores projeções para exportação de arroz em casca pelos EUA podem criar um espaço para o Brasil, mas, a diferença de preços entre Brasil e EUA, mesmo com o arroz brasileiro atualmente estando mais barato que o estadunidense, ainda não é vantajosa ao Brasil. Na Índia, pelo segundo ano consecutivo, as chuvas anuais (monções) chegaram mais cedo, aproximadamente 8 dias antes do esperado.

Assim, até o fechamento deste relatório, as condições são favoráveis à temporada 2025/26, com o plantio do arroz (kharif) progredindo bem e em ritmo mais rápido que o normal. As boas condições esperadas para o restante da safra indicam uma produção de 151 MM t, estimada pelo USDA, um aumento de 1% em relação à safra passada. Vale lembrar que a produção em 2024/25 também foi favorável, com um aumento de 9% em relação à temporada anterior. Desta forma, houve um aumento expressivo dos estoques e, com o retorno ao mercado internacional após as restrições, a Índia deve atingir novo recorde de exportações na safra 2025/26.

Apesar das variedades e qualidades diferentes em relação ao arroz brasileiro, uma maior oferta na Ásia tende a pressionar as cotações em nível global, podendo impactar negativamente também o mercado doméstico. O panorama internacional traz preocupação para as perspectivas de margens ao produtor de arroz, pois os preços caíram expressivamente desde o início da colheita, em março. O arroz em casca fechou junho/25 na média de R$ 67,19/sc de 50 kg, valores 41% inferiores ao mesmo período do ano passado. Este cenário preocupa quanto aos investimentos para a safra 2025/26, uma vez que a rentabilidade de 2024/25 deve ser restrita.

Havia a expectativa de que as exportações pudessem escoar parte do excesso de produção e contribuir para um maior equilíbrio entre oferta e demanda. Porém, a balança comercial sinalizou movimento oposto, fechando negativa nos primeiros meses de safra, com importações superiores às exportações. Entre março e maio, foram enviadas 237,2 mil t enquanto as importações foram de 247,6 mil t, segundo dados da Secex. Com a abertura da janela de exportação dos EUA entre agosto e setembro, o cenário tende a ficar ainda mais competitivo para o arroz brasileiro, dificultando um escoamento em maior volume. O setor se movimenta para pleitear políticas públicas que minimizem os impactos negativos do mercado à rentabilidade do produtor, que tem poucas alternativas de gestão de risco para se proteger dos preços baixos. Considerando apenas os custos de custeio da atividade, ou seja, o desembolso na safra com fertilizantes, defensivos, semente, entre outros, o Itaú BBA projeta uma redução expressiva na margem nesta temporada (2024/25).

Apesar de positiva no cálculo, quando consideramos as despesas administrativas, financeiras e depreciações, o custo se eleva significativamente e restringe o retorno ao produtor. Neste contexto, a principal preocupação é com relação à rentabilidade para investimentos para 2025/26, que tem plantio previsto para iniciar entre setembro e outubro, de modo que os produtores sinalizam falta de apetite para investimentos. O mercado de arroz atravessa um momento de forte correção nos preços. Após o pico observado em 2023/24, os valores recuaram expressivamente no acumulado de 2025, superando as expectativas de alívio pós-colheita. Diante dos maiores estoques, a perspectiva é de preços mais baixos para a matériaprima, após as elevadas cotações nos últimos dois anos, o que pode beneficiar as margens de contribuição da indústria.

Apesar do movimento de baixa no mercado reduzir o custo da matéria-prima, as indústrias relatam dificuldade no repasse dos custos logísticos e de embalagem, diante de uma postura cautelosa do setor varejista, com estoques limitados. Além disso, apesar de uma queda dos preços no atacado, estes não caíram na mesma proporção em relação ao produtor. Em um ambiente de consumo cauteloso, o escoamento do produto a preços que garantam uma margem positiva tornou-se mais difícil no primeiro trimestre da comercialização da safra 2024/25.

Assim, há um desafio da indústria no gerenciamento dos estoques, que foram formados em período de preços mais altos. Apesar da oferta interna elevada, a boa disponibilidade no Mercosul e o dólar mais fraco tenderão a seguir incentivando a aquisição de arroz importado a preços competitivos. Já no caso das importações de arroz beneficiado, a entrada pressiona as margens da indústria. Do lado do varejo, uma retomada nos estoques deve ocorrer apenas quando os preços do arroz se estabilizarem. Porém, as aquisições vêm mostrando níveis fracos por um longo período, o que significa que o reabastecimento não deve demorar muito a acontecer

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