Demanda deve apresentar redução dos estoques finais
Aumento da área plantada nos EUA deve levar o país à maior safra

Apesar do recorde projetado para a safra mundial em 2025/26, o balanço global de oferta e demanda deve apresentar redução dos estoques finais pelo segundo ano consecutivo.
O aumento da área plantada nos EUA deve levar o país à maior safra de sua história, com crescimento expressivo dos estoques finais da safra 2025/26. Para a China, a expectativa é de bons níveis de produção e pequeno aumento para a importação, mas que pode crescer, uma vez que o clima não tem sido tão positivo para as lavouras como na safra 2024/25. O aumento dos custos de produção deve refletir em queda das margens na safra 2025/26, com os fertilizantes liderando as altas dos insumos. Custos altos e preços estáveis podem resultar em menor incremento de área. A segunda safra 2025/26 pode ficar ainda mais cara, dado que apenas cerca de 1/3 do fertilizante foi comercializado até o momento e o insumo não apresenta sinais de arrefecimento para os preços.
O USDA projeta oferta mundial recorde de milho para a safra 2025/26, com a produção alcançando 1,266 bilhão de toneladas, impulsionada por aumento de área nos EUA, Argentina e Ucrânia. A safra 2025/26 já começou no Hemisfério Norte e, para a temporada americana, o USDA projeta uma produção de cerca de 402 milhões de toneladas, que, se confirmada, será a maior colheita da história do país. A projeção é fruto de um aumento de cerca de 5% na área plantada, atingindo 38,6 milhões de hectares, combinada a uma perspectiva de produtividade média na faixa de 11,4 t/ha. O ritmo de plantio ficou à frente da média dos últimos anos e as chuvas têm acontecido de forma regular em praticamente todas as regiões produtoras, o que sinaliza um bom começo para a safra. Porém, o clima nas próximas semanas é o que vai determinar, de fato, o potencial produtivo das lavouras no Meio-Oeste.
Perante a expectativa de grande produção, o balanço americano de oferta e demanda do cereal deve apresentar grande conforto na safra 2025/26, com um estoque final 28% maior, projetado em 44,5 milhões de toneladas. Com isso, a relação estoque/uso americana de milho passará de 8,9% (2024/25) para 11,3% (2025/26), o que deve atuar como fator de pressão para os preços do milho em Chicago. Na Argentina, a perspectiva também é de crescimento da área de milho em detrimento da soja. O USDA projeta aumento superior a 1 milhão de hectares no país, para 7,5 milhões de hectares e um potencial de produção de 53 milhões de toneladas, aumento de 6% ante 2024/25.
Já para a China, segundo maior produtor global, o USDA projeta manutenção da produção em 295 milhões de toneladas e ligeiro aumento das importações, de 7 para 10 milhões de toneladas. O clima no país não foi tão regular durante o plantio como na safra anterior e é possível que as produtividades sejam menores, o que resultaria em uma safra abaixo do esperado, com possibilidade de aumento da necessidade de importação.
O consumo global deve superar a produção pelo segundo ano seguido, puxado pela demanda de rações e etanol. A expectativa do USDA é de um consumo mundial de 1,267 bilhão de toneladas, crescimento de 2% ante 2024/25. Com isso, os estoques finais da safra 2025/26 devem cair para 275 milhões de toneladas, o menor nível desde a temporada 2013/14 e a relação estoque/uso pode passar de 23% para 22%. Apesar do balanço global mais apertado, a expectativa de forte crescimento para os estoques americanos do cereal ajuda a mitigar o efeito de alta para os preços.
Para falarmos do Brasil, começaremos por um breve panorama da safra 2024/25, cuja colheita está em andamento. Com o aumento da área plantada e comportamento regular das chuvas durante o desenvolvimento da segunda safra, o Brasil deve fechar a safra 2024/25 como a segunda maior da história, com 130 milhões de toneladas, atrás apenas da 2022/23 (137 milhões), contando com um desempenho excepcional da safrinha, com grande parte das estimativas entre 105 e 110 milhões de toneladas.
Já na 2025/26, para o USDA, a safra brasileira deverá alcançar 131 milhões de toneladas, com a projeção de produção considerando um aumento de área de 300 mil hectares (+1,3%) em relação à safra 2024/25, mas leve redução nos níveis de produtividade. A Consultoria Agro do Itaú BBA projeta um crescimento de 1,5% para a área total de milho, para 22,6 milhões de hectares e uma produção de 130 milhões de toneladas. Damos algum desconto de produtividade em relação aos níveis observados para a segunda safra atual, cujo clima foi extremamente positivo.
Entretanto, os recentes acontecimentos geopolíticos, além de questões relacionadas à oferta e demanda, resultaram em expressivo aumento para os preços dos fertilizantes, inclusive dos nitrogenados, macronutriente importante para a produção do milho. Nos últimos 12 meses, a ureia CFR Brasil subiu 8%, o KCl 17% e o MAP, 12%. Porém, mais recentemente, o conflito entre Israel e Irã fez com que o nitrogenado escalasse mais, trazendo apreensão quanto a disponibilidade para a segunda safra 2025/26. A maior parte da necessidade do insumo para o milho primeira safra já está comprada, porém, para a segunda safra, cerca de 30% apenas foi comprado. A elevação do preço dos fertilizantes em conjunto com a queda expressiva para os preços domésticos do milho observada nos últimos 60 dias piorou de forma importante a relação de troca, o que pode amenizar a expectativa de crescimento da área em 2025/26.
Com a confirmação do grande potencial da segunda safra, os preços domésticos começaram a recuar em todas as regiões, com quedas de 23% e 37% para Campinas e Sorriso, respectivamente, desde o pico de preços do ano em março. Com isso, o diferencial do preço interno com o preço em Chicago praticamente zerou, com o milho brasileiro voltando a ficar competitivo na exportação.