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Preços atuais desestimulam aumento de área de trigo

Com a baixa liquidez no mercado interno e preços internacionais sem sustentação devido à ampla oferta russa de trigo


O cenário é desafiador para os preços do trigo

Com a baixa liquidez no mercado interno e preços internacionais sem sustentação devido à ampla oferta russa de trigo, os preços do cereal doméstico não estimulam um aumento de área para a safra 2024, que deve começar emalgumassemanas. Na última semana de março, a tonelada do cereal cedeu, encerrando em R$ 1.244, queda de 0,53% no período. Já no estado do Rio Grande do Sul, os preços do produto tiveram maiores quedas nos últimos 30 dias, com o trigo gaúcho cotado por volta de R$ 1.173/t, queda de 2%.

A CONAB, em seu último relatório, corrigiu para baixo a área total para a próxima safra de trigo em 210 mil ha, somando uma área de 3,2 milhões de ha, queda de 6,5% frente à safra anterior. As justificativas são preços desfavoráveis ao produtor e uma relação de troca com os insumos acima da média das últimas 5 safras, com exceção ao KCl. A combinação entre área menor e uma produtividade média das últimas safras (2,9 t/ha) resulta em produção de 9,6 milhões de t, aumento de 18,9% frente à última safra.

Mesmo com a redução de área, a La Niña no segundo semestre deve favorecer a qualidade e produtividade da cultura no campo. Quanto às exportações, essas perderam tração, mas no acumulado do ano seguem em bons níveis. A realocação das rotas e fretes criam janelas de oportunidade para vender trigo a custos menores para os países asiáticos. O acumulado entre jan-fev de 2024 foi de 1,3 milhão de t, alta de 16,8% frente ao mesmo período do ano passado. Nas importações, com a necessidade da indústria adquirir produto de qualidade para os blends de farinhas, as aquisições nos dois meses do ano cresceram 56,6% frente ao mesmo período do ano passado, totalizando 1,145 milhão de t.

Mesmo com preços em queda, volatilidades oriundas das incertezas políticas e do conflito no Mar Negro podem gerar oportunidades de preço para o cereal no mundo. No principal exportador de trigo, depois da eleição local, a Rússia agora deve focar esforços no conflito no Mar Negro e na resolução do atentado ocorrido no último domingo do mês de março. Essas incertezas políticas na região podem trazer volatilidade para os preços nas principais praças do cereal. Vale destacar que a Rússia tem um excedente de trigo por volta de 50 milhões de t, cuja janela de exportação é curta em função de clima e, com a chegada da próxima safra, esse quadro de necessidade de venda de trigo pode jogar contra às cotaçõeslocais do cereal.

Nos EUA, as exportações estão mais lentas do que no ano passado e, consequentemente, aumentando o volume dos estoques locais. Essa percepção de maiores volumes nos armazéns tem sido um dos fatores que pressiona as cotações na CBOT. Na bolsa americana, até o início da última semana de março, as cotações caíram 5,0% em 30 dias, cotadas em USD 5,44/bu (26/mar). No Brasil, o cenário de preços deve acompanhar o cenário global. As importações da Argentina, nosso principal fornecedor, devem continuar firmes em função da dificuldade local de encontrar trigo de qualidade em consequência da quebra de safra na temporada passada. A exportação argentina deve ficar em torno de 10 MM t e competir com preços baixos e fretes com os grandes mercados como Rússia, EUA e UE, logo, aumentos de preços significativos em função das paridades de importação não parecem ser uma possibilidade no curto e médio prazo. Para a indústria, esse cenário alivia a pressão dos consumidores quanto à inflação dos alimentos e mantém as margens. Aos produtores, as margens devem seguir espremidas ao longo da safra.

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