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Safra global 2025/26 deve apresentar queda na produção

Apesar da queda, o estoque deve permanecer em níveis altos



A safra global 2025/26 de algodão deve apresentar queda na produção, diante da expectativa de menor oferta de 3 dos 4 maiores produtores mundiais, porém os estoques devem permanecer em níveis confortáveis.

• Embora haja expectativa de crescimento para o consumo mundial, a expectativa de baixo crescimento global, restrições comerciais e incertezas políticas podem afetar a demanda.

• Os EUA reduziram a área plantada em 2025/26, porém a produção deve cair apenas 100 mil toneladas em relação à safra anterior, mas o balanço de oferta e demanda deve apresentar redução do estoque final, com perspectiva de aumento das exportações.

• Para o Brasil, o aumento do custo de produção e a queda dos preços devem afetar de maneira importante as margens em 2025/26. Isso pode reduzir o ritmo de expansão de área com a cultura.

• Além das questões macro, como PIB e preços do petróleo, a taxa de câmbio será importante na formação dos preços, mas as boas safras de EUA e Brasil deverão evitar grandes reações para os preços

A safra global 2025/26 de algodão deve apresentar queda na produção, diante da expectativa de menor oferta de 3 dos 4 maiores produtores mundiais. Sendo assim, o USDA projeta redução de 2% para a produção global frente a safra 2024/25, para 25,5 MM t de pluma. Para o consumo, a expectativa é de pequena elevação de 1% ou 260 mil toneladas sobre a safra anterior. Embora ainda não se saiba qual será, de fato, a postura comercial e o conjunto de políticas tarifárias dos EUA, a expectativa é de que elas tenham implicações para a economia global, bem como para a demanda em diversas cadeias, inclusive para o algodão.

Os dados mais recentes do Banco Mundial sugerem que o crescimento econômico global em 2025 será meio ponto percentual menor do que o projetado no início do ano, passando para 2,3%, enquanto a área de Pesquisa Econômica do Itaú Unibanco estima 2,9% frente a uma média de 3,4% entre 2000 e 2019 (pré pandemia). Para 2026, a projeção sugere apenas uma leve recuperação, com o PIB global subindo 0,1 ponto percentual, ou seja, a expectativa do órgão é que o ritmo lento permaneça. O crescimento poderá ser ainda menor, caso as restrições comerciais se intensifiquem ou a incerteza política persista. Com isso, os estoques devem cair 1%, para 16,7 MM t e a relação estoque/uso sairá de 66% para 65%.

Apesar da queda, o estoque deve permanecer em níveis altos, marcando o segundo maior patamar desde a safra 2019/20 (pandemia), quando os estoques atingiram nível recorde de 18,2 MM t. A área plantada 2025/26 nos EUA deve cair 11%, para 4 milhões de hectares. O plantio andou mais lento que a média nessa temporada, com o excesso de chuva atrapalhando o avanço em algumas áreas.

Diante disso, a condição das lavouras também está abaixo da média dos últimos 5 anos, o que, em conjunto com o atraso da semeadura, já resultou em revisão para baixo na área colhida e na produtividade por parte do USDA, o que comprova que, nos EUA, hectares plantados são apenas parte da história quando se trata da produção de algodão.

Com isso, a expectativa é de uma colheita americana de 3 MM t, o que, com o aumento projetado para as exportações, resultaria em leve redução dos estoquesfinais do país. A China, maior produtora da fibra, deve ver uma safra menor em 2025/26, diante da estimativa de redução das produtividades. Ainda que, em relação a expectativa inicial, o número da safra já tenha subido de 6,3 para 6,5 MM t, mas ainda ficando 6,3% abaixo das 7 MM t colhidas em 2024/25. Mesmo assim, as importações do país devem crescer pouco, cerca de 200 mil toneladas em relação à safra passada, com a China novamente pouco ativa nas compras.

A temporada de monções na Índia e Paquistão começou mais cedo que o esperado, com previsão de ser acima da média. Caso se confirme, podemos observar potenciais produtivos maiores nesses dois países, com incremento da oferta mundial. Para o Brasil, o aumento da área observado na safra 2024/25 em conjunto com a boa condição climática, levará a uma nova produção recorde, estimada entre 3,7 e 3,9 MM t pelos órgãos oficiais USDA e Conab, mas acima de 4 MM t para alguns agentes do mercado. No entanto, para o curto prazo, cabe a atenção com o excesso de chuvas fora de época no MT, o que pode comprometer a qualidade da pluma, frustrando um pouco as expectativas iniciais.

O fato é que o recorde de safra será batido novamente e, por mais um ano, precisaremos de grandes volumes de exportação para escoar o excedente de oferta. As exportações devem ficar entre 2,9 e 3 MM t na safra atual e com os estoques finais ainda apresentando crescimento. Para a safra 2025/26, é provável que vejamos uma diminuição do ritmo de crescimento da área plantada no Brasil em relação às últimas safras, diante do aumento do custo de produção. O algodão é uma cultura extremamente exigente em nutrição e o dispêndio com fertilizantes representa aproximadamente 40% do custo operacional, portanto, a elevação dos preços desse insumo afeta de forma importante o custo. Apesar de o USDA projetar aumento de 8% para a área brasileira 2025/26, entendemos que todo esse crescimento pode não se concretizar diante da perspectiva de margens mais pressionadas para o próximo ano.

Os preços têm se mantido estáveis no mercado internacional nos últimos meses, na média entre USDc 65/lb e USDc 67/lb, o que representa queda em relação à mesma época do ano passado, como reflexo da maior oferta global e elevação do estoque em 2024/25. Para 2025/26, apesar de, na média, os preços apontarem alguma valorização em Nova Iorque, o panorama de oferta não deixa muito espaço para grandes altas. Será importante também o acompanhamento do mercado de petróleo. O recuo no preço da commodity torna os concorrentes sintéticos mais baratos e, consequentemente, exerce pressão contra o algodão no terminal de Nova Iorque. A curva de preços do petróleo no mercado futuro está em formato invertido, ou seja, os contratos mais longos valendo menos que os mais curtos, o que pode servir como um fator limitante para a alta da pluma.

Vale ressaltar que, nem mesmo o conflito entre Israel e Irã e a alta momentânea do petróleo surtiu efeito nas cotaçõesinternacionais do algodão. Para as cotações no Brasil, o preço internacional do algodão, embora enfraquecido, acaba parcialmente compensado pelo prêmio mais firme nesse período de transição entre as safras por aqui e diante da boa procura externa, o que eleva a paridade de exportação e ajuda os preços internos. A sólida demanda pelo algodão brasileiro, combinada com a redução da oferta de outras origens, tem sustentado o basis em patamares bastante elevados. Esse cenário ofereceu suporte ao produtor nacional frente aos preços internacionais mais baixos. O que tem chamado a atenção é o preço do caroço, que segue em alta no mercado doméstico, com cotações na faixa de R$ 1.500/t no Mato Grosso. Em geral, alguns fatores, assim como a menor disponibilidade sazonal, abriram espaço para negociações com valores mais elevados, proporcionando rentabilidade mais atrativa aos produtores de algodão.

Aproveitando os bons preços, os agricultores do MT já venderam 55% de todo caroço da temporada 2024/25 segundo o IMEA, 15 p.p. acima da temporada passada nessa época. Para 2025/26, apesar de o clima, neste momento, estar favorável para as áreas americanas de algodão, um cenário de piora nas condições climáticas e de umidade do solo durante o segundo semestre poderá aumentar a taxa de abandono e reduzir o potencial de produção do país. Uma safra menor nos EUA implica em menor produção global exportável, mas o aumento dos estoques americanos em 2024/25 e a série de colheitas recordes no Brasil devem limitar quaisquer preocupações com a escassez e grandes reações para os preços. 

Os custos de produção de algodão para a safra 2025/26 voltarão a subir, após terem caído na safra 2024/25, com o forte aumento dos preços dos fertilizantes. Estimamos uma elevação de cerca de 20% do gasto com adubo em relação à safra anterior, o que deve levar a um aumento do custo operacional em torno de 9%.  O cenário para os fertilizantes deteriorou diante de questões relacionadas à restrição de oferta e demanda aquecida. Conflitos em regiões produtoras de matérias-primas adicionaram um prêmio de risco ao preço do insumo, encarecendo o produto. A relação de troca entre a pluma e o fertilizante caminhou para as máximas dos últimos 5 anos para Ureia e map e com o KCl, passou a ficar bem acima da média para o mesmo período. Diante do exposto, nosso cenário aponta para uma piora das margens operacionais em relação aos níveis observados na safra 2024/25. Vale ressaltar que os preços do caroço de algodão ajudaram de forma importante a composição da rentabilidade do produtor e esperamos que isso siga acontecendo, porém com menor intensidade. As cotações do caroço de algodão deverão ceder, a depender da pressão esperada para os preços do farelo de soja.

A expectativa da manutenção de preços mais pressionados no cenário internacional afetando a precificação no Brasil, em conjunto com o aumento do custo e com perspectiva de algum decréscimo na produtividade, dado que os últimos anos foram de produtividades acima da média no MT, resulta na queda esperada para as margens, de 37% em 2024/25 para 24% em 2025/26. A margem dependerá da formação do custo do produtor, baseado na relação de troca com os insumos. Por isso, é importante o acompanhamento desse indicador para aproveitar as oportunidades de compra. Vale ressaltar, também, a importância da fixação do preço da commodity simultaneamente a compra dos insumos e na mesma moeda, para mitigar o risco do descasamento cambial, principalmente diante da forte volatilidade apresentada pela taxa de câmbio.

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