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Boro - tudo o que você precisa saber sobre este adubo

Leia sobre a importância do boro nas plantas.



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Introdução
O boro nas plantas

      - Mobilidade do boro nas plantas
      - O boro e o potássio
      - Sintomas de deficiência de boro nas plantas
      - Sintomas de excesso / toxidez de boro nas plantas
O boro no solo
      - Fatores que influenciam a disponibilidade de boro no solo
Fertilizantes com boro
Adubação com boro
O boro nas culturas

      - O boro no algodão
      - O boro no café
      - O boro na soja
      - O boro na batata

 

Introdução 

O boro é um micronutriente, exigido pelas plantas em pequenas quantidades, mas com igual importância para estas quando comparado à outros nutrientes. As plantas dicotiledôneas possuem necessidade maior deste elemento do que dos demais micronutrientes.

Como no Brasil temos solos altamente intemperizados devido ao clima, é comum haver carência do nutriente. Esta pode ser mais evidente em solos arenosos e com pouca matéria orgânica. Leia as informações abaixo para entender melhor o comportamento deste nutriente, e como fornecê-lo de forma adequada para sua lavoura.

 

O boro nas plantas

O boro faz parte da parede celular e atua na integridade da membrana plasmática das plantas, sendo fundamental para a formação de novos tecidos. Participa também no metabolismo, através da síntese e transporte de carboidratos, síntese de proteínas, fixação de nitrogênio, transporte de açúcares, divisão celular, germinação do grão de pólen e crescimento do tubo polínico, sendo a fase reprodutiva da cultura altamente exigente do nutriente. O boro também diminui a esterilidade masculina e o chochamento de grãos (Malavolta, 2016), e proporciona resistência às doenças (Fernandes, 2016).

Este efeito benéfico na resistência às doenças ocorre da seguinte forma: o boro atua na síntese da parede celular e alongamento celular, e atua na biossíntese das células auxiliando o cálcio na deposição e formação de pectatos (presente nas paredes celulares), fundamental para a integridade da parede celular, sendo esta última, importante na defesa contra a penetração de patógenos. Graham e Webb (1991) constataram este efeito relatando a influência do Boro na redução da infecção das hifas de fungos patogênicos. Plantas com deficiência de Boro possuem menor teor de cálcio nas paredes celulares, reduzindo a integridade destas. O boro também participa na formação de lignina, que proporciona maior resistência à doenças. 

O boro é um micronutriente altamente exigido em culturas dicotiledôneas, exigindo em média de 20 a 80 mg do nutriente por kg de matéria seca. Já em monocotiledôneas, a exigência é de 5 a 20 mg/kg. Tal fato ocorre pois o boro está relacionado à quantidade de pectina na parede celular, e gramíneas contêm menos pectina do que dicotiledôneas. Geralmente, no Brasil, as culturas necessitam de 0,5 a 2 kg de boro por hectare.

Em culturas frutíferas, a deficiência de boro prejudica a multiplicação das células nos vasos condutores, reduzindo o transporte de produtos da fotossíntese para as raízes e consequentemente a absorção de água e nutrientes, resultando em menor crescimento da planta.

 

Mobilidade do boro nas plantas

A mobilidade do boro na planta depende do estado nutricional desta, e também do tempo em que a planta fica privada do nutriente (quanto maior o tempo com carência de boro, menor a translocação deste elemento). Além disso, a mobilidade do boro na planta é diferente entre as espécies. Para a grande maioria das plantas, o boro tem mobilidade restrita: uma vez incorporado no tecido da planta, não pode se movimentar para suprir necessidades em outras partes mais novas da planta. Em espécies que o boro é relativamente imóvel, os sintomas de deficiência inicial ocorrem com o desenvolvimento anormal dos pontos de crescimento, e posterior morte de gemas apicais.

Um experimento conduzido em laranjeira concluiu que o boro aplicado via foliar permaneceu principalmente nas folhas que receberam a aplicação. Quando o nutriente foi absorvido pelas raízes, translocou-se para toda a parte aérea da laranjeira, e o boro aplicado no substrato foi mais eficiente em aumentar o teor nas folhas dos ramos novos quando comparado à aplicação foliar (Boaretto et al., 2016). No xilema, tecido que absorve a solução do solo e distribui para a parte aérea da planta, o boro é móvel e pode ser transportado nestes vasos.

Já em outras espécies, como em algumas frutíferas pode ocorrer o transporte do boro (aplicado via foliar) para outras partes da planta via floema, como no caso da amendoeira, ameixeira, cerejeira e macieira. 

 

O boro e o potássio

O boro possui um efeito sinérgico com o potássio, que é outro nutriente importante para as culturas. Plantas que crescem em solos com disponibilidade adequada de boro têm uma melhor absorção de potássio. 

 

Sintomas de deficiência de boro nas plantas

- Frutos duros que caem precocemente;
- Deformação e redução do tamanho de folhas novas;
- Paralisia dos meristemas apicais das raízes e parte aérea;
- Sementes mal formadas;
- Manchas escuras na goma dentro do fruto;
- Menor crescimento foliar e radicular;
- Abortamento floral;
- Menor resistência às infecções;
- Fendas em ramos, pecíolos, folhas e frutos.

Observe na imagem abaixo, o sintoma foliar da deficiência de boro: aspecto coriáceo, com as bordas da folha viradas para baixo.

Foto: George Wellington Bastos de Melo / EMBRAPA

 

Os sintomas de deficiência também podem se apresentar em diferentes formas em algumas culturas específicas:

  • Algodão: pecíolos com anéis / faixas, com morte progressiva do meristema apical, apresentando efeito de roseta na parte superior da planta. Os botões florais se rompem e as folhas ficam verdes e grossas, ficando verdes até o inverno;
  • Amendoim: apresenta o sintoma "coração oco"
  • Cana-de-açúcar: nas folhas jovens aparecem estrias cloróticas e aquáticas no espaço internerval, com posterior necrose e crescimento irregular do limbo foliar, causando enrugamento
  • Eucalipto: nas folhas surgem clorose e necrose. Também ocorre morte dos ponteiros, fendilhamento da casca e exsudação de goma.
  • Maçã: os frutos não crescem, ficam achatados ou deformados, com cortiça na parte interna, rachaduras e rugosidades. Também ocorre morte do meristema apical, e as folhas ficam quebradiças e as flores secam.
  • Milho: surgem listas longitudinais estreitas com cor branca ou transparente nas folhas. Também ocorre produção de múltiplas espigas deformadas e pequenas, com cabelos curtos, pendões pequenos e que emergem mortos, anteras pequenas e desprovidas de pólen.
  • Soja: clorose internerval em folhas jovens, com a ponta destas curvadas para baixo. Também ocorre morte dos ponteiros, inibição do florescimento e paralização do crescimento radicular
  • Tomate: frutos com o lóculo aberto, com cor castanha no seu interior e amadurecimento irregular (imagem abaixo)


Foto: EMBRAPA Hortaliças

 

Sintomas de excesso / toxidez de boro nas plantas

Como sintomas da toxidez por cloro, temos a formação de clorose malhada e posterior necrose das bordas em folhas velhas. A clorose é internerval, ou seja, as nervuras da folha permanecem verdes. As folhas podem enrugar ou ficar onduladas. Também pode ocorrer a diminuição da clorofila e redução da fotossíntese, afetando o crescimento da planta (Landi et al., 2012). Observe a imagem abaixo com sintomas de toxidez de boro na folha.


Foto: George Wellington Bastos de Melo / EMBRAPA

 

O boro no solo

Como no Brasil temos solos altamente intemperizados devido ao clima, e soma-se a isto a alta mobilidade do boro (o que possibilita alta lixiviação do nutriente) no solo, é comum haver carência do nutriente. Um estudo feito em 2005, com 13.416 amostras de solo recebidas pelo laboratório do IAC em Campinas (SP), aponta que apenas 11% dos solos tinham um teor alto ou muito alto de boro, e cerca de 40% tinham o teor baixo.

A carência pode ser mais evidente em solos arenosos e com pouca matéria orgânica. Isto acontece pois grande parte do boro é disponibilizado através da matéria orgânica, então esta precisa se mineralizar. Em pH bastante ácido, o nutriente fica menos adsorvido ao alumínio, já em pH alto, o boro fica adsorvido ao cálcio.

O uso crescente do calcário e adubos fosfatados também podem contribuir com o esgotamento do nutriente. Em solos com pouco teor de argila, o boro solúvel em água é lixiviado para camadas mais profundas do solo (Boaretto et al., 2008). Em solos brasileiros, os valores de boro oscilam entre 20 a 200 ppm, porém, apenas 0,5 a 5 ppm está disponível para as plantas. As formas móveis de boro no solo podem ser absorvidas aos hidróxidos de ferro e alumínio, matéria orgânica e partículas de argila.

É importante entender que o reservatório de boro no solo se esgota facilmente, sendo inviável estocar boro  no solo, pois resulta em fitotoxidez, ou analisar o solo para este nutriente. Dessa forma, esse nutriente deve ser aplicado todo ano.

Na solução do solo, o boro é encontrado como ácido bórico, sendo absorvido pelas raízes através do fluxo de massa, reforçando uma estreita relação entre a adubação boratada e a disponibilidade de água no solo. Um estudo realizado na cultura da soja ilustra o efeito da baixa disponibilidade de água no solo: a baixa disponibilidade de água faz com que as plantas não respondam bem à adubação com boro. Em solos com média ou alta disponibilidade, ocorreram maior acúmulo de boro na planta, resultando em melhores resultados quanto à massa seca de raiz, parte aérea, número de vagens por planta e produtividade de grãos.

 

Fatores que influenciam a disponibilidade do boro no solo:

  • Matéria orgânica no solo: a matéria orgânica é o mais importante reservatório de boro no solo. Quando o clima é desfavorável à decomposição da matéria orgânica, pode haver uma menor disponibilidade do boro para as plantas.
  • Condições climáticas: quando o clima é quente e seco, ocorre rápida degradação da matéria orgânica, liberando bastante boro que pode ser lixiviado. Quando o clima é frio e seco, ocorre menor atividade radicular na superfície do solo, podendo haver carências temporárias de boro devido à baixa liberação, que diminuem assim que a superfície receber chuva / irrigação.
  • pH do solo: o boro tem a sua maior disponibilidade para as plantas entre o pH 6,0 e 7,0.
  • Textura do solo: solos arenosos geralmente possuem baixos teores de minerais que contenham boro. É comum que plantas cultivadas nestes solos apresentem carências do nutriente.
  • Lixiviação: como o boro disponível para as plantas também é móvel no solo, este pode ser lixiviado, sendo mais comum em solos arenosos e/ou áreas com grandes quantidades de chuvas.

 

Fertilizantes com boro

Os fertilizantes contendo Boro podem ser aplicados no solo (a lanço ou em faixas) ou via foliar (líquido). Quando a aplicação é feita a lanço, são necessárias doses maiores do que na aplicação em faixas / foliar.

Geralmente opta-se pela utilização de fertilizantes mais solúveis. Porém, em casos de solos arenosos, é interessante utilizar fórmulas menos solúveis para evitar a lixiviação do nutriente.

Tabela 2. Fórmulas comuns de fertilizantes com boro (IN nº 39, 2018).
Fonte Teor do nutriente Observação
Ácido Bórico 17% de Boro  
Borato de Monoetanolamina 8% de Boro Boro solúvel em água
Borato de Zinco 14% de Boro e 29% de Zinco Boro e Zinco teor total
Bórax 10% de Boro Boro teor total
Colemanita 8% de Boro, 6% de cálcio  
Hidroboracita 7% de Boro, 7% de Cálcio e 4% de Magnésio Boro teor total
Octaborato de Sódio 20% de Boro Boro solúvel em água
Octaborato de Potássio 19% de Boro, 18% de Potássio Boro e Potássio solúvel em água
Pentaborato de sódio 18% de Boro Boro teor total
Quelato de Boro 8% de Boro Nutriente solúvel em água, ligado a um quelante
Ulexita 8% de Boro, 7% de Cálcio e 6% de Sódio Boro teor total


Os produtos se diferenciam quanto a sua solubilidade:

  • baixa solubilidade: colemanita e ulexita (estes produtos são mais interessantes de serem usados em solos arenosos, visando reduzir a lixiviação)
  • média a alta solubilidade: bórax, ácido bórico, tetraborato de sódio pentahidratado, decaborato de potássio e hexaborato de sódio tetrahidratado

Além dos produtos citados acima, também temos adubos orgânicos (cama de galinha, estercos...) e FTE.

 

Adubação com boro

Conforme citado anteriormente, o boro deve ser aplicado todo ano, visto que estocar o nutriente no solo resulta em fitotoxidez, e mesmo lixivia facilmente. As plantas respondem bem à adubação com boro quando o teor no solo é de cerca de 0,5 mg/dm³ ou menos. Além disso, devido à imobilidade do nutriente no floema, a aplicação no solo pode resultar em uma absorção 3,5 vezes maior em comparação à aplicação foliar. Já no xilema, o nutriente é móvel. Como é um micronutriente, a diferença entre a dose adequada e o excesso é pequena, sendo fundamental se atentar bem à dosagem correta. Soma-se a isso o fato que, a diferença entre a carência e a toxidez deste micronutriente é menor quando comparada a outros micronutrientes.

Como o boro é 97% absorvido por fluxo de massa, o nutriente é transportado pela água, devendo ser aplicado em área total quando aplicado via solo. Em temperaturas altas, o boro se oxida e é perdido, não devendo ser aplicado nas horas mais quentes do dia. Um ponto importante a se considerar na adubação com boro, assim como com outros micronutrientes, é a distribuição. Supondo um cenário em que iremos aplicar 1,5 kg de boro por hectare, se pegarmos um produto com alta concentração, como por exemplo o ácido bórico (17%), iremos aplicar 8,2 kg de ácido bórico por hectare. Porém, se utilizarmos bórax, devido a sua menor concentração (11%), utilizaremos uma quantidade maior do produto (13,4 kg) para atingir os mesmos 1,5 kg por hectare. Utilizando uma maior quantidade do produto irá facilitar a aplicação, pois quantidades muito pequenas dificultam a distribuição uniforme. Outra alternativa é utilizar um formulado NPK acrescido de Boro.

Outra opção é a aplicação via foliar, porém esta aplicação apresenta algumas limitações. Por exemplo, as plantas possuem grande necessidade de boro na fase jovem, porém neste momento a superfície foliar ainda não é tão desenvolvida, tendo uma menor área para absorção do fertilizante, sendo necessário o parcelamento da aplicação foliar, e consequentemente o aumento dos custos. Outra limitação é a salinidade dos fertilizantes com boro. Se uma aplicação foliar for excessiva, pode queimar a superfície foliar devido à alta concentração salina.

Apesar da maior absorção pelo solo, em culturas perenes como a macieira, é mais fácil realizar a aplicação foliar, sendo necessárias aplicações frequentes para mitigar o problema da imobilidade do nutriente.

Confira abaixo uma tabela indicando a responsividade das culturas ao boro (Fonte: INPI):

Tabela 1. Responsividade das culturas ao boro.
Muito responsivas Medianamente responsivas Pouco responsivas
Aipo Alface Cebola
Alfafa Brócolis Centeio
Algodão Cacau Cevada
Alho Cenoura Citros
Amendoim Colza Feijões
Batata Espinafre Frutíferas de baga
Beterraba Mamão Gramíneas forrageiras
Café Milho Pepino
Couve Rabanete Soja
Eucalipto Repolho  
Girassol Tomate  
Maçã Trigo  
Nabo Uva  

Como observamos acima, as culturas apresentam diferentes graus de resposta à adubação com boro. Em situações onde se faz necessária a aplicação de boro no solo, se aplica quantidades de cerca de 3 a 5 kg/ha do nutriente para culturas responsivas. Já para culturas medianamente responsivas, 1 a 3 kg/ha. Estes valores não são recomendações, verifique sempre as recomendações específicas para cada cultura, e consulte um engenheiro agrônomo para avaliar o cenário em questão, de modo a evitar problemas como a fitotoxidez causada pelo excesso do nutriente.

Para doses de até 2 kg de boro por hectare, pode-se aplicar em pré plantio anual. Já as dosagens maiores, pode-se aplicar a cada 3 anos.

 

O boro nas culturas

O boro no algodão

Dentre os micronutrientes nesta cultura, tem-se observado que o boro é o mais limitante, cujos sintomas da deficiência aparecem com maior frequência (Rosolem et al., 2001). Ainda que exigido em quantidades pequenas, a sua ausência diminui significativamente a produtividade.

Problemas causados pela deficiência de boro no algodoeiro são comuns em solos tropicais. A deficiência do nutriente durante o florescimento causa queda de frutos, menor qualidade da fibra e consequentemente redução da produtividade. Ainda que a deficiência seja temporária, pode ocorrer má formação dos vasos do xilema, diminuindo a translocação de carboidratos e nutrientes. Quanto ao transporte de boro na cultura, não há evidências de que o nutriente seja translocado no algodão.

A deficiência de boro no algodão pode ocorrer sem qualquer sintoma visual, e ainda assim reduzir a produtividade, fenômeno conhecido como "fome oculta". Mesmo na diagnose foliar, estudos mostraram duas plantas com o mesmo teor de boro nas folhas e semelhante valor de matéria seca, porém uma delas estava deficiente em boro, e teve menor número de estruturas reprodutivas.


Deficiência de boro no algodão. Folhas novas com clorose internerval difusa e manchas necróticas nas margens.
Foto: Yara

 

Manejo: a faixa de suficiência do boro na quinta folha do algodoeiro oscila entre 40 e 80 mg/kg (Borin et al., 2014), sendo uma recomendação para o cerrado brasileiro. Teores maiores que 100 mg/kg na folha são considerados tóxicos, sendo a toxicidade mais comum em ambientes de solos arenosos, quando se aplica doses acima de 2 kg/ha de boro usando produtos de alta solubilidade.

No solo, o nível crítico do nutriente é de 0,6 mg/dm³ (camada de 0-20 cm). Se o valor for menor, recomenda-se aplicar 2 kg/ha de boro via solo sendo uma recomendação oficial para o cerrado (Sousa e Lobato). Porém, em solos arenosos, fertilizantes com boro altamente solúveis podem causar toxicidade da cultura ou grandes perdas por lixiviação. Nestes casos, pode-se usar fontes com menor solubilidade como a ulexita por exemplo.

A adoção de sistema plantio direto, plantas de cobertura e rotação de culturas favorece o ciclo do boro no solo, aumentando o teor de matéria orgânica, fornecendo maior reserva do nutriente no solo, além de resgatar o boro que está sendo lixiviado em camadas mais profundas.

Como na cultura do algodoeiro o boro não possui uma mobilidade significante, a adubação foliar possui baixa eficiência, podendo ser utilizada apenas em situações pontuais, a depender do caso.

 

O boro no café

Junto com o zinco, o boro é um dos micronutrientes mais importantes para o cafeeiro, e não é raro nos depararmos com deficiências deste elemento na cultura. Geralmente se aplica no solo, misturado ao NPK, ou até na aplicação de herbicida (se atentar ao pH do fertilizante e do herbicida, evitando incompatibilidade).

A dosagem de boro a ser aplicada no café depende das condições da lavoura, teor de boro no solo no solo, teor de matéria orgânica, textura do solo e potencial produtivo. Geralmente são aplicadas doses de 2 a 4 kg/ha de boro para esta cultura, porém, ressalta-se a importância de um engenheiro agrônomo para avaliar o cenário em questão, e fornecer uma recomendação correta para evitar problemas de fitotoxidez / carência. 

Os sintomas de deficiência de boro se caracterizam por morte das gemas apicais, seguida por brotação de várias outras gemas logo abaixo, possível encurtamento de internódios. As folhas novas podem ficar pequenas e retorcidas, com bordos irregulares e estreitamento de limbo. Observe a imagem abaixo:


Foto: Emater - MG

Em situações de excesso de boro e toxidez, surgem no cafeeiro folhas manchadas de amarelo e verde, e possivelmente queima das bordas foliares em casos mais graves.

Aplicação via drench: alguns pontos favorecem a aplicação do boro via drench, como a baixa quantidade exigida do nutriente, a boa resposta na aplicação via solo (e baixa resposta na aplicação foliar), a compatibilidade com fungicidas e inseticidas devido à acidez da reação, e por fim, o fato de que a aplicação de fungicidas e inseticidas em outubro / novembro coincide com a época adequada de aplicação de boro.

Ainda são necessários estudos para se obter mais respostas sobre o manejo desta aplicação, que pode apresentar bons resultados. Se for aplicado apenas o que é exportado pela cultura, geralmente se aplicaria em média 180 gramas de boro (nutriente puro) por hectare. Mas ao considerarmos a lixiviação e outros fatores, esse valor sobe para 2 a 3 kg de boro por hectare. 
 

 

O boro na soja

Conforme citado anteriormente, as culturas dicotiledôneas exigem, em média, 20 a 80 mg/kg de boro no tecido. Para cada tonelada de grãos, a cultura extrai cerca de 70 a 80 gramas de boro dos solos, sendo 30% nos grãos. Para se obter altas produtividades, alguns pesquisadores defendem que o nível crítico de Boro no solo seja de aproximadamente 1 mg/dm³. Já nas folhas, a EMBRAPA defende que o teor adequado de boro é de 20 a 55 mg/dm³.

Como o boro tem baixa mobilidade na planta quando aplicado nas folhas, a aplicação é feita preferencialmente no solo. Geralmente esta aplicação é feita quando os teores de boro no solo estão abaixo de 0,5 mg/dm³ (Sousa e Lobato, 2002).

Para a aplicação, Vitti e Trevisan (2000) defendem as dosagens de 0,5 a 0,8 kg/ha de boro em sulco de semeadura, ou 1,0 a 3,0 kg/ha em área total em pré-semeadura, sendo as menores doses para solos arenosos, e as maiores para solos argilosos.

Esta aplicação pode ser feita via solo com fertilizantes boratados, com fertilizantes NPK acrescido de boro ou junto com herbicidas, em área total na dessecação, sempre cuidando o pH dos produtos utilizados de forma a evitar reações de incompatibilidade.

Quando ocorre deficiência de boro na soja, surgem sintomas como o curvamento para baixo de margens foliares e amarelecimento de folhas superiores, surgindo posteriormente pontos necróticos marrons no limbo foliar (imagem abaixo).

Já nas sementes, os embriões ficam danificados, afetando a germinação ou produzindo seedlings defeituosos. Alguns estudos apontam que concentrações de 10 mg de boro por kg nas sementes resultam em cotilédones deformados, já sementes com 7 mg/kg tiveram 80% de falha na germinação, e não responderam ao suprimento de boro no solo.

 


Sintomas típicos de deficiência de boro na soja: curvamento da margem foliar para baixo e pontos necróticos marrons.
Foto: Yara Brasil

 

Aplicação foliar: a aplicação foliar geralmente possui efeito mais rápido, mas menos duradouro. As aplicações podem ser realizadas no período reprodutivo da cultura, através do uso de fontes solúveis em água como o ácido bórico ou o octaborato de sódio. Como citado anteriormente, o boro é quase imóvel nas plantas, sendo necessárias aplicações parceladas, usando 100 a 200 g/ha do nutriente, em 3 parcelas: V4 a V5, R1 a R2 e a última em R3 a R4.

 

O boro na batata

Dentre as hortaliças, a batata é a cultura mais exigente quanto à nutrição mineral. É comum o uso de formulados NPK acrescidos de micronutrientes, sendo zinco e boro os principais. A deficiência de Boro é o único caso de deficiência de micronutrientes em batata com comprovação experimental no Brasil, cuja correção elevou a produtividade.

O boro possui papel importante como regulador do metabolismo e translocação de carboidratos, sendo fundamental para a batata, pois esta é a cultura mais eficiente na síntese de carboidratos. Além disso, o nutriente está associado à divisão celular e estrutura das paredes celulares.

Como o boro tem baixa translocação na cultura da batata, os seus sintomas de deficiência aparecem nos pontos de crescimento e órgãos com maior expansão celular. O primeiro local onde surgem os sintomas é as raízes, que podem ser curtas e grossas. Os tubérculos também podem ficar rachados internamente, com a formação do coração-oco. Já nas folhas, podem ocorrer enrolamento e engrossamento de folhas novas, além de ficarem em forma de concha virada para cima, e morte do meristema apical. Observe a imagem abaixo:


Sintomas de deficiência de boro na batata, com folhas enrugadas e em forma de concha virada para cima.
Foto: Yara UK

O boro proporciona boa qualidade da casca, redução da mancha de ferrugem interna e tolerância à seca e calor, influenciando diretamente na produtividade e qualidade da batata. A fase de maior demanda do boro geralmente ocorre entre 35 e 60 dias após o plantio (formação e crescimento dos tubérculos). Desta forma, para aplicação foliar, esta geralmente é feita em 3 parcelas (20, 40 e 60 ou 20, 35 e 50 dias após o plantio). O teor de boro considerado padrão na análise foliar da batata, conforme Junior et al. (1991), é de 25 a 50 mg/kg.

Em estudo feito em um argissolo em MG, com 0,4 mg/dm³ de boro, houve incrementos na produção com tubérculos de maior tamanho e maior produtividade através de pulverizações foliares com doses aproximadas de 75 g/ha, parceladas em três aplicações. Já a aplicação no solo de NPK com adição de Boro (0,1%) não apresentou resultados positivos (Yuri et al., 2017).

 

Batata-doce: os sintomas de deficiência de boro na cultura se caracterizam pelo crescimento compacto (entrenós mais curtos) engrossamento e enrolamento de folhas novas, margens irregulares, morte do meristema apical e raízes curtas, grossas e com os tubérculos rachados com bolhas na superfície.

Existem poucos trabalhos de pesquisa sobre a adubação com boro em batata-doce. Até então não foi comprovada que a adubação foliar com boro na batata-doce é eficiente devido à baixa mobilidade do nutriente na cultura. Alguns manuais defendem a adubação boratada via solo, com doses variando entre 0,5 a 2 kg/ha.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

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