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Fertilização foliar - Absorção, tipos e translocação

Leia sobre as principais características da adubação foliar.



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O que é a adubação foliar
Teores mínimos de nutrientes em fertilizantes foliares
Absorção foliar
Modo de aplicação
Quelatização na adubação foliar
Preparo das soluções de nutrientes
Tipos de nutrição foliar
Translocação foliar

 

O que é a adubação foliar

A adubação foliar é uma técnica que fornece nutrientes para as plantas através da assimilação pelas folhas, sendo a absorção passiva ou ativa. As folhas, apesar de terem se especializado na função de síntese, não perderam a habilidade de absorver água e nutrientes, o que se constitui como a base para a aplicação foliar de nutrientes, aplicação de defensivos, hormônios, etc. Desta forma, a adubação foliar é um processo em que a nutrição das plantas é feita através das partes aéreas, principalmente das folhas.

Esta técnica não substitui a adubação convencional pelo solo, a qual envolve a absorção dos nutrientes pelas raízes, pois as quantidades de nutrientes exigidas pelas plantas em um cultivo agrícola geralmente são superiores às quantidades que podem ser absorvidas pelas folhas, tornando assim a adubação foliar uma prática complementar. Sua utilização deve ocorrer em períodos críticos de crescimento da planta, em momentos de demanda específica de algum nutriente ou em situações adversas do solo que comprometam a nutrição mineral da planta. Além disso, muitas vezes as plantas durante sua fase de desenvolvimento e produção necessitam de quantidades de nutrientes que superam sua capacidade de extração, mesmo que exista abundância do nutriente no solo. Isto pode ocorrer por fatores ambientais como excesso de umidade ou baixas temperaturas, ou pH inadequado do solo.

A adubação foliar, comparada com a adubação via solo, é mais rápida e eficaz, principalmente para micronutrientes. No entanto, a intensidade de absorção pelas folhas é muito limitada devido às barreiras fisiológicas da planta, ao ambiente e ao produto utilizado. A velocidade de absorção dos nutrientes é muito variável: o potássio, elementos secundários e micronutrientes são absorvidos entre algumas horas e um dia, já o fósforo é mais demorado.

Em trabalhos de pesquisa com fertilizantes foliares, incluindo macronutrientes e bioestimulantes conduzidos por instituições de pesquisa do RS e SC, as culturas anuais não apresentaram resposta em rendimentos de grãos. A alta demanda de macronutrientes exige várias aplicações foliares para suprir as necessidades, tornando o processo inviável financeiramente. Já nos casos abaixo, a adubação foliar pode ser justificada:

  • Em solos alcalinos, onde a disponibilidade de micronutrientes não é adequada ao desenvolvimento da cultura;
  • Em casos de deficiência comprovada de micronutrientes (as quantidades requeridas pelas culturas geralmente podem ser supridas com uma única aplicação foliar);
  • Em hortaliças devido à facilidade de aplicação, valor agregado e rápida resposta da planta;
  • Em pomares, pela maior absorção devido à grande área foliar da planta;
  • Em situações onde ocorre necessidade de evitar o contato com o solo para minimizar a interação por reações químicas com alguns nutrientes;
  • Situações de solo seco, encharcado ou com temperaturas extremas.

 

Teores mínimos de nutrientes em fertilizantes foliares

Existem garantias mínimas (Brasil, 2007) de teor de nutrientes que os produtos devem apresentar, observe a tabela abaixo:

Tabela 1. Teores mínimos de algumas fontes de micro e macronutrientes secundários.
Fertilizantes Elemento Garantia mínima Observações
Micronutrientes %  
Ácido bórico B 17  
Bórax B 10 a 13  
Sulfato de cobre Cu 24 11% de S
Sulfato de ferro (II) - ferroso Fe 19 10 a 11% de S
Sulfato de manganês (II) Mn 26 16% de S
Molibdato de amônio Mo 52 5 a 7% de N
Molibdato de sódio Mo 39  
Óxido de zinco Zn 72  
Sulfato de zinco Zn 20 9 a 11% de S
Macronutrientes %  
Enxofre elementar S 95  
Sulfato de cálcio (gesso) Ca 16 13% de S
Cloreto de cálcio Ca 24  
Sulfato de magnésio Mg 9 11 a 14% de S
Kieserita Mg 15 20 a 27% de S
Óxido de magnésio Mg 45  

Fonte: Brasil (2007) IN nº5 Anexo II

 

Absorção foliar

O processo de absorção é facilitado quando a planta se encontra com seus estômatos abertos, formando uma corrente transpiratória, que puxa os nutrientes pulverizados na superfície da folha para o interior através de uma pressão de vapor negativa. A absorção foliar ocorre em duas fases:

  • Passiva: os íons entram na planta por meio de fenômenos puramente físicos, como a difusão simples, difusão facilitada, trocas iônicas, etc. Estes atravessam a cutícula, a parede celular e os espaços intercelulares, chegando à superfície externa do plasmalema. A sua velocidade depende das características da folha e do ambiente, podendo ser reversível;
  • Ativa: o elemento atravessa o plasmalema, atingindo o citoplasma e pode se acumular no vacúolo ou ser transportado para outras partes da planta, com gasto de energia. É uma fase mais demorada, porém irreversível.

Para a adubação foliar ser eficaz, deve-se atentar à alguns fatores sobre a planta, nutriente, solução aplicada e fatores externos:

  • Planta:
    • composição química: quanto menor a quantidade de ceras, cutina e pilosidade nas folhas, melhor a absorção. Além disso, o grau de hidratação da folha tem grande importância para absorção de nutrientes, pois as cutículas bem hidratadas são mais permeáveis à solução, ao passo que cutículas desidratadas nas folhas murchas são bastante impermeáveis.
    • estrutura: quanto maior número de estômatos, melhor a absorção
    • idade: quanto mais novas as folhas, melhor a absorção. As folhas mais novas possuem maior atividade metabólica, consumindo mais rapidamente os nutrientes. 
    • posição da folha. A parte inferior da folha possui cutícula mais finas e maior número de estômatos, possuindo maior capacidade de absorção da solução.
    • estado nutricional da planta: plantas deficientes em um nutriente o absorvem mais rapidamente do que plantas sem deficiência nutricional
      Clique aqui para ler informações sobre a anatomia foliar.
  • Nutrientes: o mais importante é a mobilidade e capacidade de interação metabólica
  • Fatores externos:
    • Disponibilidade de água no solo: uma planta com boa disponibilidade de água no solo mantem as células túrgidas, favorecendo a penetração foliar dos nutrientes.
    • Luz: a luz favorece a translocação dos nutrientes. Quanto maior a luminosidade, maior a absorção
    • Temperatura: ideal para a aplicação é de 22ºC a 30ºC. Pulverizações pela manhã, onde há bastante umidade nas folhas favorecem a absorção do nutriente. Já ao meio dia em um dia quente, teremos menor absorção e possibilidade de queimar a folha, assim, deve-se evitar pulverizações entre as 10h e 16h durante o verão.
    • Ventos
    • Umidade atmosférica: a alta umidade atmosférica favorece a absorção foliar, pois mantém a cutícula hidratada, impedindo a evaporação do fertilizante. Os nutrientes geralmente são absorvidos quando as folhas estão molhadas.

Ao se aplicar macronutrientes, como estes são requeridos em grandes quantidades pelas plantas, o suprimento destes pela adubação foliar apresenta limitações, pois aplicar toda a dose via adubação foliar pode causar fitotoxicidade. Desta forma, deve-se optar por um alto número de aplicações.

 

Modo de aplicação

O modo de aplicação é outro fator importante na eficiência de uma aplicação foliar. Por exemplo, pulverizações grosseiras molham excessivamente as folhas, causando escorrimento do nutriente e consequentemente desperdício e diminuição da resposta da planta. Deve-se misturar bem o produto na água, aplicando o mais vaporizado possível, e usar bicos pulverizadores de qualidade para evitar a formação de gotas nas folhas, que podem agir como uma lente para o raio solar, queimando a folha. Pulverizadores de baixo volume podem perder a eficiência. Diversas técnicas devem ser utilizadas na tentativa de maximizar a absorção foliar de nutrientes que depende basicamente do tipo de equipamento pulverizador.

Os momentos mais críticos para a aplicação são momentos de grande esforço da planta que são os períodos de grande crescimento ou quando a planta está saindo do seu estado vegetativo e passando para um estado reprodutivo.

Deve-se pulverizar em ambos os lados da folha quando possível, facilitando a absorção, aplicando quando a planta não está no ápice de captação de água. As aplicações foliares são mais eficientes quando a planta está túrgida. Aplicações com nitrogênio ajudam a carregar os micronutrientes para dentro da planta, e a presença de fósforo é recomendada para favorecer a circulação interna.

Para situações onde ocorre a deriva de fertilizantes foliares, adotamos os seguintes manejos:

  • Uso de bicos de pulverização que produzam gotas maiores
  • Reduzir a altura da barra de pulverização (evitar deslocamento pelo vento). Optar por bicos de ângulo de 100º, que permitem executar trabalhos com altura da barra mais baixa (menor que 50 centímetros do alvo).
  • Uso de bicos com maior capacidade de vazão
  • Não aplicar quando a velocidade do vento for maior que 10 km/h
  • Usar adjuvantes quando necessário para reduzir a velocidade de evaporação das gotas e o arrasto pelo vento
  • Utilizar baixa pressão para reduzir a quantidade de pequenas gotas (abaixo de 100 microns). Em boas condições, usar pressão de 40 a 45 psi
  • Não aplicar com o ar muito calmo ou em momentos de inversão térmica

 

Quelatização na adubação foliar

A quelatização é o processo que combina uma carga iônica positiva (cátion) de zinco, manganês, ferro, cobre, magnésio, ou de cálcio com outra molécula orgânica de carga negativa, chamada de “agente quelatizador”. A molécula orgânica envolve o íon metálico carregando positivamente o cátion, protegendo a nova forma quelada do cátion da agressividade química do solo ou no tanque de dissolução do fertilizante solúvel. Os nutrientes quelatizados são mais facilmente absorvidos pelas plantas do que os mesmos nutrientes em formas não quelatizadas.

Estes compostos quelatizados inibem a ação de certos cátions altamente reativos de metais, impedindo-os de formar reações químicas e formar compostos insolúveis que são indisponíveis para as plantas. Se, por um lado, os quelatos usados em fertilizantes foliares precisam ter uma ligação química, suficientemente forte para protegê-los de inesperadas reações químicas, por outro, devem permitir a liberação de forma facilitada, quando absorvidos pelas plantas. Desta forma, quelatos incorporam íons de metal numa forma solúvel e facilmente disponível às plantas, pois são altamente solúveis em água. A quelatização é considerada a forma mais fácil de fornecer nutrientes as plantas através da adubação foliar.

 

Preparo das soluções de nutrientes

As soluções a serem aplicadas nas folhas devem ser elaboradas com cuidado, porque podem provocar prejuízos às plantas. Por isso, a concentração das soluções, a mistura de composto de nutrientes na mesma solução, adição de produtos molhantes e protetores, bem como o pH das soluções, deverão estar compatibilizados para que, quimicamente, a solução seja benéfica a planta e não cause injúrias. Também deve ser levada em consideração a concentração dos compostos nutrientes, devido ao efeito nutricional. Por exemplo, há concentrações de sais que em doses altas sobre as folhas, para determinadas plantas pode não prejudicar, mas pode levar à morte outras plantas mais sensíveis devido a toxidade, a queima, etc.

  • Agentes protetores: o uso de agentes protetores visa visando reduzir prejuízos que os nutrientes podem vir a causar as folhas. É o caso de açúcares e sais de magnésio por exemplo. Soluções a base de ureia tendem a apresentar velocidade de absorção reduzida quando em presença de protetores, bem como danos provocados às folhas por soluções contendo zinco podem ser evitados com a adição a solução de cal sodada.
    Cabe salientar que, para a utilização de agentes protetores, é necessário que seu efeito seja comprovado previamente, evitando os efeitos tóxicos que impeçam a absorção dos nutrientes.
  • Umectantes e molhantes: os agentes umectantes são utilizados visando impedir a evaporação da solução aplicada e a manutenção dos nutrientes em contato com a superfície foliar por um período de tempo maior (Figura 1).

    Figura 1 - Efeito protetor do umectante em solução nutritiva aplicada em citros.
    Por outro lado, os agentes molhantes (ou espalhantes, adesivos ou surfactantes) são detergentes adicionados a solução de nutrientes visando a quebra/diminuição da tensão superficial entre as gotas e as folhas (Figura 2), permitindo o espalhamento da solução e o umedecimento da superfície foliar.

    Figura 2 - Formação da gota sobre a folha em função da tensão superficial.
     
  • pH da solução: vários são os efeitos do pH na solução sobre a absorção foliar de nutrientes. Por exemplo, a uréia absorve melhor em pH 5 e 8 e absorve menos em pH 6 e 9, enquanto soluções fosfatadas apresentam máxima absorção em pH 2 e 3 até 3,5.

 

Tipos de nutrição foliar

A adubação foliar pode ser dividida, conforme o objetivo pretendido, em:

  • NUTRIÇÃO FOLIAR PREVENTIVA: Tem sido largamente empregada com a aplicação de um ou mais nutrientes, porém apresenta os resultados menos comprovados. Em situações em que os solos são pobres esta prática pode promover correção de um ou vários nutrientes que estejam em níveis mínimos requeridos para que se atinjam boas produtividades. Outra situação em que a adubação foliar preventiva pode ser empregada é na prevenção de danos por geada, já que a aplicação foliar propicia aumento na concentração de sais na seiva, o que permite diminuir o seu ponto de congelamento.
  • NUTRIÇÃO FOLIAR CORRETIVA: Este tipo de adubação foliar é utilizado quando se constata a deficiência nutricional e deve ser efetuado num determinado momento da cultura. É muito efetiva como adubação, pois permite a rápida correção da deficiência. Porém, por exigir a correta identificação do problema, o que demanda tempo, é mais comum em culturas perenes.
  • NUTRIÇÃO FOLIAR SUBSTITUTIVA: É utilizada na situação em que a adubação foliar pode ser utilizada em substituição da adubação aplicada ao solo, sendo mais comum para micronutrientes. Para os macronutrientes são raros os casos em que a eficiência desta via de aplicação é comprovada.
  • NUTRIÇÃO FOLIAR COMPLEMENTAR: É utilizada como complementar a adubação tradicional via solo, sendo mais eficiente em plantas perenes, principalmente com a aplicação de cálcio em plantas de clima temperado visando a diminuição de distúrbios fisiológicos de pós-colheita.
  • NUTRIÇÃO FOLIAR SUPLEMENTAR NO ESTÁDIO REPRODUTIVO: Esta forma de aplicação foliar visa suplementar nutrientes em lavouras cultivadas sob solos com adequado estoque de nutrientes, durante a fase de enchimento de grãos. O princípio em que se baseia esta forma de adubação foliar é o de que, durante a fase de enchimento dos grãos, os grãos são o principal dreno de fotoassimilados produzidos, sendo o estoque oriundo do solo insuficiente para o seu desenvolvimento. Isto provoca a mobilização e translocação dos nutrientes das folhas, promovendo senescências destas. Assim, a reposição via adubação foliar mantém as folhas ativas durante um período maior, o que se reflete em maior produção.
  • NUTRIÇÃO FOLIAR ESTIMULANTE: O princípio em que se baseia este tipo de adubação é o de que a aplicação nas folhas de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) em pequenas doses proporciona aumentos na quantidade destes em quantidades superiores as aplicadas, através de efeito estimulante da adubação foliar sobre a adubação radicular. É recomendada para culturas de alta produtividade e sem carência nutricional, sendo seu efeito de curta duração e sua eficácia dependente do uso de uma formulação equilibrada. Cabe salientar que a maioria dos trabalhos publicados no Brasil com utilização de adubação foliar estimulante não surtiu o efeito esperado.

 

 

Translocação foliar

A mobilidade, ou seja, o transporte dos nutrientes das folhas para outros órgãos pelo floema varia de elemento para elemento.

TRANSPORTE NAS FOLHAS

Na folha os nutrientes podem ter dois caminhos de exportação para outros órgãos:

- Via apoplasto – corresponde a aproximadamente 5% do volume da folha, dependendo da espécie vegetal;

- Via simplasto – de célula para célula, através do citoplasma (Figura 1).

 


Figura 1 - Esquema mostrando as vias de transporte dos nutrientes na folha.
 


O transporte para fora da folha se dá quando os solutos, após atravessarem o mesófilo, entram no apoplasto e são transferidos para o floema e, após, para fora da folha. Alguns são transportados de forma rápida, como o nitrogênio e o fósforo, enquanto outros como o cálcio e o boro, podem ser parcialmente móveis ou imóveis.

TRANSPORTE À LONGA DISTÂNCIA

A mobilidade dos nutrientes aplicados via foliar dentro da planta depende do nutriente, da forma como é aplicado, da espécie vegetal e do estado iônico interno da folha. Um aspecto importante a ser mencionado é que a velocidade de absorção não tem a ver com a taxa de translocação, já que nem sempre um elemento que é prontamente absorvido será translocado rapidamente.

 

Por fim, recomendamos o vídeo abaixo do canal AgroBrasil, em que o Engenheiro Agrônomo Jonathan Basso fala sobre 5 erros muito comuns na adubação foliar.


 

José Luis da Silva Nunes - Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 5, DE 23 DE FEVEREIRO DE 2007. [S. l.], 21 fev. 2007.

NACHTIGALL, G.R.; NAVA, G. Adubação foliar: fatos e mitos. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v. 23, n. 2, p. 87-97, 2010.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. Manual de Adubação e de Calagem Para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 11. ed. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2016.

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