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“Êxodo” mato-grossense

Pressão e insegurança junto às questões ambientais empurram produtores para novas áreas e expansão foca região do “Mapito”


Acuados pelas barreiras ambientais e pelas dificuldades de exercer a atividade agropecuária nas áreas do bioma amazônico, produtores de Mato Grosso miram outras regiões do país para plantar soja e criar gado. O movimento teve início há cerca de dois anos e se intensificou em 2008 com as medidas restritivas do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), capitaneadas pelo Ministério do Meio Ambiente. Não bastassem as restrições ambientais, a “bolha” norte-americana do último trimestre do ano passado se expandiu em todo o mundo, desencadeando uma crise de crédito sem precedentes no agronegócio.

Se comprar terra antes da crise já era complicado, investir neste ativo se tornou um negócio ainda mais raro depois que os bancos e as tradings praticamente se retiraram do mercado. “Não vemos movimento de produtores comprando ou vendendo terras em nosso Estado”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Glauber Silveira.

Segundo ele, os negócios de compra de terras na região norte do Estado estão travados em função das restrições ambientais. “Os produtores que têm mais capital acabam arrendando as terras daqueles que estão com maior dificuldade de continuar no mercado. Isso vem causando uma concentração de terras cada vez maior nas mãos de poucos, tudo por conta da crise e dos entraves ambientais”.

No ano passado, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) chegou a divulgar uma lista de 410 propriedades rurais embargadas pelo órgão por causa da realização de ações ilegais, como o desmatamento não autorizado na Amazônia. A medida fazia parte do Plano Nacional de Prevenção e Combate ao Desmatamento da Amazônia, inclusive com o embargo econômico de áreas desmatadas ilegalmente. De acordo com o Ibama, os proprietários que não se regularizassem perante o Ibama, não poderiam fazer financiamentos, ficando ainda impossibilitados de vender ou arrendar suas terras.

A ofensiva ambiental deixou os produtores em pânico. Muitos cancelaram seus investimentos, outros simplesmente decidiram vender parte do patrimônio e procurar terras em outras regiões do país, como Maranhão, Piauí e Tocantins, conhecida também como "Mapito".

“É bem mais fácil e seguro”, afirma o diretor executivo da Associação dos Proprietários Rurais do Estado (APR), Paulo Resende.

O produtor Célio Augusto Favarini, com terras nas regiões de Tapurah e Ipiranga do Norte, no norte de Mato Grosso, vendeu suas duas fazendas e partiu para o Piauí. Lá ele começou a plantar soja e voltou a lidar com a pecuária. “Saí [de Mato Grosso] porque a situação já estava difícil. No Piauí posso trabalhar com um pouco mais liberdade, pois a perseguição não é tanta como aqui”, desabafa o produtor.

O megaempresário Otaviano Pivetta, com investimentos em agricultura e pecuária nas regiões norte e noroeste de Mato Grosso, também decidiu deslocar parte de seus projetos para Formosa do Rio Preto, Oeste baiano. Este ano ele plantará sua segunda safra anual de soja e algodão. “Precisamos de uma legislação ambiental com mais clareza para que tenhamos uma agricultura sustentável. É preciso, por exemplo, maior agilidade no processo de licenciamento ambiental e as decisões precisam ser tomadas com maior rapidez”.

Em uma comparação, Pivetta aponta que no oeste baiano a logística é melhor e existem outras vantagens. “Mas, investir em uma região distante foi uma questão de oportunidade mesmo”, diz, acrescentando que apesar dos entraves locais, “Mato Grosso continua sendo o Estado dos sonhos de qualquer investidor”.

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