São denominados transgênicos organismos que, por meio da engenharia genética, receberam genes de outras espécies. Atualmente o termo é aplicado, sobretudo a plantas utilizadas na agricultura.
O desenvolvimento de transgênicos pode ter diferentes objetivos.
Algumas plantas tornam-se resistentes a herbicidas, outras ficam imunes a agentes causadores de pragas como vírus, bactérias, fungos ou insetos. Há também transgênicos criados para se tornar mais nutritivos do que o vegetal original e ainda os conhecidos como "biofábricas", feitos para produzir matéria-prima industrial (substâncias utilizadas em medicamentos, por exemplo). Todas essas qualidades são adquiridas graças as proteínas produzidas pelos genes adicionados ao DNA das plantas.
Gerando transgênicos
Existem hoje duas formas básicas de gerar transgênicos no meio agrícola. Ambas as técnicas consistem num processo extremamente sofisticado de "corte e colagem" de fragmentos de diferentes genomas.
No primeiro método, quebra-se a cadeia de DNA de um determinado organismo e retira-se o fragmento responsável pela produção de uma determinada proteína. Em seguida, esse pedaço de genoma é inserido numa bactéria, que por sua vez é inoculada na planta. A bactéria atua como um vetor, transferindo para o DNA do vegetal os genes que recebeu.
A outra técnica dispensa a utilização da bactéria: o gene, retirado de um determinado organismo, é diretamente inserido no núcleo de uma célula vegetal, onde se acopla à cadeia de DNA. Depois, pelo processo de cultura do tecido, a célula dá origem a uma planta completa.
Testes
Segundo o pesquisador Francisco Aragão, da Embrapa, um dos pioneiros na produção de transgênicos no Brasil, quem teme os riscos representados por esse tipo de produto provavelmente não conhece bem outras técnicas usadas há muito mais tempo na agricultura sem despertar maiores rejeições.
Aragão explica que cruzamento e seleção de espécimes, processos largamente difundidos, freqüentemente resulta, em alterações genéticas. Como exemplo, lembra a nova variedade de arroz, lançado no Brasil na década de 80, que teve de ser retirado do mercado por causar alergia. "Se fosse um transgênico", afirma Aragão, "esse tipo de risco seria muito menor", pois os testes obrigatórios provavelmente detectariam o problema e o produto não chegaria a ser lançado.
Na opinião do cientista da Embrapa, os métodos atualmente aplicados para testar a segurança dos transgênicos são suficientes. "Se os testes exigidos forem excessivamente rigorosos, somente as multinacionais serão capazes de arcar com os custos para o desenvolvimento de novos produtos", diz Aragão.
Outro especialista, Gonçalo Guimarães Pereira, da Unicamp, defende a obrigatoriedade, no caso dos transgênicos, de um teste de alta tecnologia, chamado microarray ou chip de DNA. Por esse método, é possível comparar a atividade dos genes da planta original com a do vegetal criado por engenharia genética. Isso permitira constatar se a alteração obtida limita-se à produção das proteínas desejadas ou se foram causadas outras modificações, não intencionais. Um exame muito mais preciso que o método de equivalência substancial, que compara apenas as quantidades de calorias, carboidratos, proteínas, gorduras e outros nutrientes presentes nas duas plantas.
Os especialistas, portanto, divergem. E a discussão não pára por ai.
Rubens Nodari, do Ministério do Meio Ambiente, afirma que mais importantes são os testes clínicos, com a utilização de cobaias e análises de impacto ambiental. Segundo ele, os transgênicos deveriam passar por exames tão rigorosos quanto os que são exigidos para o lançamento de novos remédios - o que atualmente não ocorre. E, mesmo que passarem por esta prova, se dependesse de Nodari, sua utilização só seria autorizada após uma comparação com "alternativas menos agressivas", que levassem em conta benefícios e riscos.
Os transmutados à mesa
Apesar de sua comercialização ser proibida pela Justiça, os transgênicos estão na mesa dos brasileiros. Não só nos alimentos importados, principalmente dos Estados Unidos, onde reinam nas prateleiras, como também em produtos fabricados aqui mesmo.
O Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) ao realizar recentemente testes em 26 alimentos (22 nacionais e quatro importados) que participaram da amostra, oito apresentavam "contaminação". Foram eles: o leite em pó Aptamil soja l, o creme de milho verde Knorr, a mistura de cereais In Natura, o Nestogeno com soja, o Pro Sobee, o Supra Soy Integral, a broinha de milho Yoki (cujo lote, após a detecção, foi retirado do mercado) e o macarrão instantâneo Cup Noodles, sabor galinha, que então era importado, mas desde março do ano passado vem sendo fabricado no Brasil, sem organismos geneticamente modificados, conforme laudo mostrado pela fabricante, a Nissin-Ajinomoto, ao Idec.
A Greenpeace também realizou vários testes e verificou a presença de soja ou milho transgênico em 18 produtos. Apenas os fabricantes de sete deles não se comprometeram a modificá-los, de modo a eliminar os organismos geneticamente modificados: o bacon pieces, da McCornick, as batatas Pringless, o bombom recheado da BIS, da Lacta, a mistura de cereais In Natura, o hambúrguer de frango Da Granja e a ração para gato da Friskies.
Se não há fiscalização no campo, onde se planta transgênico, imagine nas industrias e nos supermercados. Ou seja, o consumidor nem ao menos exerce o direito de escolha: queira ou não, pode estar comendo diariamente alimentos contendo organismos geneticamente modificados.
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