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Acácia Negra, uma árvore em crise

A crise também atingiu grandes e tradicionais produtores de Acácia Negra



Acácia Negra. Já ouviu falar? Nossa reportagem trata dessa árvore, muito cultivada em plantações florestais do sul.

O problema é que o mercado da Acácia Negra está em crise e o agricultor Eduardo Guterrez Pereira, do município gaúcho de Encruzilhada do Sul, anda preocupado. Quer saber o que está acontecendo. O Globo Rural foi até lá para conferir.

As florestas de Acácia Negra já fazem parte da paisagem em muitas regiões do Rio Grande do Sul.

Investimento seguro, rentável, garantia de mercado e bons lucros. No começo da década, promessas assim, fizeram milhares de produtores gaúchos apostar na cultura, que hoje ocupa 140 mil hectares no Rio Grande do Sul.

Estamos em Encruzilhada do Sul, região centro-sul do estado. O Eduardo Guterrez, que escreveu para o Globo Rural. De olho nas promessas, em 2004, ele plantou 37 hectares de Acácia.

Hoje, diz que já poderia vendê-las, mas não vai: o preço despencou. Segundo o Eduardo, um hectare de Acácia vale hoje em torno de R$ 3 mil. Na época em que plantou chegava a valer até R$ 10 mil.

"O custo por hectare varia de R$ 1.000 a R$ 1.500. Eu pensava em investir R$ 1.500 cinco anos atrás para ganhar 100% depois de cinco anos, comparada a grande maioria das atividades não foi um bom negócio".

O preço caiu, é verdade, mas existe ainda um problema maior: os compradores desapareceram. "Não consegui vender nenhuma árvore, até o momento nada.", explica Eduardo.

Diante dessa situação, o Eduardo quer saber: "quais são as perspectivas para comercialização, Além disso eu gostaria de saber quais foram os fatores que causaram esta redução tão significativa nos valores da produção da Acácia".

A situação não está difícil só para quem nunca esteve no mercado como é o caso do Eduardo. A crise também atingiu grandes e tradicionais produtores de Acácia Negra.

Sr. Neri Ferreira Lopes está há 20 anos no mercado e afirma que este é o pior momento. "A situação começou a ficar complicada no ano passado, começou lento, foi devagarzinho e ai diminuindo, diminuindo e ai apertando e ficando cada vez mais sério. Já cheguei a entregar seis mil metros de madeira, hoje eu tenho conseguido entregar no máximo três mil metros", conta.

Para tentar entender o que tem provocado essa crise no mercado da Acácia o Globo Rural foi visitar a sede da principal empresa compradora.

Mas antes uma paradinha no município de Cristal, para conhecer um pouco mais dessa árvore que se adaptou tão bem ao Rio Grande do Sul. Aqui fica uma das principais fazendas do Tanac, o grupo que domina o mercado.

Chegamos em dia de colheita. A empresa mecanizou o processo e o robozão impressiona. A máquina abraça a árvore e serra o tronco. Ela descasca e padroniza as toras. Os funcionários da fazenda entram em ação quando a madeira já está empilhada no campo. Eles terminam de descascar o tronco.

A Acácia Negra é uma leguminosa, nativa da Austrália. Ele floresce entre os meses de julho e outubro e pode atingir 30 metros de altura. Os primeiro exemplares dessa árvore chegaram ao Brasil em 1918, trazidos da África do Sul.

Luiz Augusto Alves, diretor florestal da empresa, explica que a espécie ajuda na recuperação do solo.

"Ela é muita usada aqui na região pelo produtor que tem algum tipo de solo exaurido, porque ela tem essa capacidade de fixar nitrogênio no solo. Nós temos estudos de que fixa cerca de 200 quilos por hectare/ano de nitrogênio".

A Acácia é uma árvore de ciclo curto: cerca de sete anos. O toco dela também apodrece logo, dois anos, facilitando o preparo do solo para novos plantios e tem outra vantagem.

"Ela também permite consorciação com pecuária por ela não ter um sombreamento 100%, permite passagem de luz, algumas espécies então se desenvolvem formando um sub bosque propiciando que o gado se alimente e mantenha o gado na região de floresta".

Além disso, a Acácia é uma árvore com muitas possibilidades. Tronco e casca são as partes nobres. No terminal da empresa no porto de Rio Grande, a madeira que chega é picada. Vira cavaco, enche navios que abastecem o mercado internacional de celulose e papel, principalmente no Japão.

Um navio como esse tem capacidade para cerca de 40 mil toneladas de cavaco. Até o ano passado, a empresa chegava a vender 16 carregamentos desse por ano. Em 2009, não deve passar de dez.

Na sede da empresa, que fica no município de Montenegro, a 370 quilômetros do porto de Rio Grande é feito o processamento da casca da Cássia Negra. A principal finalidade é a extração de tanino.

O tanino extraído da casca da Acácia depois de evaporado fica assim: um caldinho grosso. Ele serve para fazer muitas coisas.

"A maior parte ainda é tanino para a indústria do couro", explica o diretor da indústria, José Luiz Zanatta. O tanino serve para curtir o couro, também pode virar cola para madeira, além de ser usado no tratamento de água.

Praticamente toda a madeira e grande parte do tanino são destinados à exportação e agora sim, Sr. Eduardo, chegamos na sua resposta. Otávio Guimarães Decusatti, diretor superintendente da Tanac, explica que essa dependência do mercado externo fez o setor entrar em colapso.

"Os fatores foram a queda nos preços internacionais, caíram 13,5% no último ano, na nossa última negociação de preço. Nós também tivemos uma redução de volumes em função a crise internacional e própria valorização do real defronte ao dólar que vem afetando demais a nossas receitas".

A empresa foi obrigada a demitir cerca de 350 funcionários. "Nós tivemos que fazer redução de efetivo na empresa para garantir o fornecimento dos pequenos produtores rurais. Nós reduzimos a nossa produção própria drasticamente a volumes de 30%, 40%. Tentamos adequar cotas de produção aos produtores para que todos tivessem de ter o mesmo direito de entrega. Lógico que isto é um período de sofrimento para o produtor".

Mas Eduardo, não desanima não. Apesar da má fase, o superintendente da Tanac acredita que as perspectivas para o mercado da Acácia são boas. "A partir do momento que a economia retomar um ritmo normal, os consumos passados serão retomados e o mercado tende a voltar à normalidade".

Eduardo, o setor madeireiro como um todo foi duramente atingido pela crise financeira internacional, mas já começa a dar sinais de recuperação. O mercado da Acácia deve seguir essa tendência.
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