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AÇÚCAR: o que esperar para a safra 2021/22?

Consultoria projeta cenários para a produtividade agrícola dos canaviais


Foto: Pixabay

Desde o início deste mês, as perspectivas para a safra 2021/22 (abr-mar) do Centro-Sul se alteraram de maneira significativa. Até então, parcela expressiva das usinas da região esperavam uma quebra de safra limitada, na expectativa de que as precipitações em março e abril conferissem alívio para os canaviais que sofreram demasiadamente com a estiagem dos meses anteriores.

Tanto que, ao fim de março, divulgamos revisão de nossas estimativas de safra, na qual projetamos uma moagem de 586,1 milhões de toneladas para o ciclo corrente, volume que representaria uma queda safra-a-safra de apenas 3,3%. No entanto, o cenário climático mais favorável mais uma vez não se concretizou, sendo que as chuvas alcançaram apenas 127,7 mm no Centro-Sul noacumulado entre março e abril, representando firme queda em relação à média de longo prazo, na ordem de 50,3%. Para além disso, os modelos climáticos seguem sinalizado chuvas abaixo da normalidade ao longo das próximas semanas, o que tem pesado sobre as perspectivas produtivas das unidades produtoras do cinturão canavieiro.

De fato, parece cada vez mais claro que haja impacto significativo sobre a produtividade dos canaviais que serão colhidos em 2021/22, com consequente redução da fabricação de açúcar e etanol. Mas, a grande pergunta que se faz é qual será, realmente, o tamanho da quebra que observaremos nessa temporada. Nesse sentido, é importante analisarmos as perspectivas para o ciclo corrente a partir de um panorama histórico, observando o comportamento da produtividade agrícola no passado recente. Nos últimos 10 anos, a maior quebra de TCH registrada aconteceu em 2011/12, quando o indicador sofreu queda anual de 17,0%, levando ao recuo de 11,6% no processamento de cana. Naquele momento, contudo, essa dinâmica não foi ocasionada pela falta de chuvas, mas sim pela ocorrência de geadas e florescimento que se somaram a um canavial envelhecido.

Posteriormente, o TCH voltou a apresentar recuou safra-a-safra expressivo em 2014/15 e 2016/17, na ordem de 7,3% e 7,4%, respectivamente. Especialmente no primeiro caso, a redução da produtividade respondeu à menor umidade, sobretudo na entressafra anterior. Considerando a dinâmica climática atual, marcada por firme diminuição no volume de chuvas, é possível que o comportamento do rendimento se comporte de maneira similar.

Mais do que isso, ressalta-se que o volume precipitado na entressafra que antecedeu a temporada 2014/15 se mostrou um pouco abaixo do observado em 2021/22 nas principais áreas canavieiras da região. Ademais, a idade média projetada dos canaviais também se mostrou similar – que, na temporada corrente, é estimada em cerca de 3,3 cortes. Considerando os fatores expostos, fica claro que a perspectiva para a produtividade agrícola precisa levar em consideração não apenas o volume de chuvas, mas também a idade média das lavouras, tendo em vista as sinalizações de que a reforma dos canaviais continuou relativamente elevada para essa temporada.

Em meio a todo esse contexto, nós da StoneX traçamos 03 possíveis cenários para a produtividade agrícola dos canaviais em 2021/22, o que será determinante para as perspectivas em relação à moagem de cana. O primeiro cenário projeta queda de 5,4% no TCH em 2021/22 frente a 2020/21, para cerca de 77,4 t/ha. Com isso, a moagem de cana se situaria em 578,1 milhões de toneladas, queda de 4,5% no comparativo anual. O segundo cenário projeta queda anual de 6,8% na produtividade da matéria-prima, para 76,3 t/ha, levando o processamento de cana para 570,2 milhões de toneladas (-5,8%). 

O terceiro cenário, por fim, estima uma queda de 7,3% no TCH, equivalente ao observado em 2014/15, safra em que a umidade se mostrou similar ao contexto atual, tal como comentado acima. Neste caso, a produtividade agrícola se situaria em 75,8 t/ha e a moagem de cana alcançaria 567,2 milhões de toneladas, volume que representa recuo anual de 6,3%. Considerando os cenários expostos, esperamos que o Cenário 02 possua maiores chances de acontecer. Isso porque, apesar das indicações de que a cana que está sendo colhida agora possa ter uma perda acentuada de produtividade, em meio aos efeitos do tempo seco dos meses anteriores, ainda é cedo para afirmar quedas mais intensas no TCH para a temporada como um todo – especialmente, quando ponderamos a possibilidade de que a umidade possa se recuperar ao longo dos próximos meses, favorecendo os canaviais a serem colhidos ao final da safra. Neste ponto, contudo, é fundamental observar que a ocorrência de chuvas abundantes e mal distribuídas também pode ter um efeito negativo sobre o ATR médio das lavouras.

De fato, quebras mais intensas da moagem, para um patamar abaixo de 550 milhões de toneladas, exigiriam uma diminuição de TCH superior a 10% no comparativo safra-a-safra, o que seria a maior quebra já observada desde 2011/12. O que fica claro, portanto, é que haverá perda de potencial produtivo na temporada corrente, mas o tamanho dessa diminuição ainda é incerto, sendo que as condições climáticas nos próximos meses precisarão ser acompanhadas de perto, de modo a determinar com maior precisão essa dinâmica.

A dinâmica para o mix produtivo 

Quando falamos de produtividade agrícola e moagem, consequentemente é possível trazer perspectivas para a produção de açúcar e etanol no CentroSul. Como ressaltado acima, estimamos como cenário base uma diminuição de 6,8% no TCH, levando o processamento de cana para cerca de 570,2 milhões de toneladas.  Nesse sentido, a grande dúvida que se coloca é qual será o direcionamento da matéria-prima para a produção de açúcar. Por um lado, parece provável que as usinas continuem com a tendência de maximização da fabricação da commodity, considerando que 70% da safra 2021/22 já se encontra fixada e que existem custos envolvidos na mudança de mix.

Por outro lado, caso o mix açucareiro encontre espaço para se elevar de forma muito expressiva frente às nossas atuais projeções, de 46,3%, um aperto no balanço de O&D de etanol tende a ser registrado. Quais conclusões, então, podemos tirar do contexto apresentado? Em primeiro lugar, mesmo que o mix açucareiro não se eleve de maneira acentuada, espera-se que a produção de açúcar não diminua para patamares muito inferiores em relação ao atualmente projetado por nós, de 36,1 milhões de toneladas. A título de exemplo, considerando o mix atual e uma moagem de 570,2 milhões de toneladas, a obtenção da commodity se situaria aproximadamente 1,0 milhão de toneladas abaixo de nossa publicação mais recente.

É importante ressaltar que, neste caso, mantivemos o ATR médio inalterado em relação à nossa estimativa de março/21, em 139,7 kg/t – o que representa uma queda anual de 3,5%. Apesar disso, esse indicador ainda poderá sofrer revisões positivas, dado que, historicamente, o ATR médio costuma se elevar em anos de menor TCH.

Por fim, há indicativos de que as unidades produtoras pretendem alongar a safra, moendo um volume diário de cana abaixo da capacidade máxima, o que pode acabar sustentando o direcionamento da matéria-prima para a produção de açúcar. O que deve ditar, portanto, a elevação ou não do mix açucareiro é o balanço de etanol – e a atratividade entre as duas commodities, especialmente no fim da temporada, dado que o ritmo de fixação para os contratos mais distantes na ICE/NY ainda tem espaço para aumentar.

No caso do etanol, fica cada vez mais claro que o balanço entre oferta e demanda deve se manter apertado em 2021/22. Como há muito comentado, ainda que predominem incertezas quanto à retomada no consumo de combustíveis em 2021, parece claro que haja recuperação frente a 2020. Consequentemente, a menor produção de álcool deve se refletir em cotações sustentadas para o hidratado em 2021/22. 

Ao fim de maio, a StoneX divulgará novas estimativas para o ciclo atual do Centro-Sul, bem como primeiras sinalizações para o saldo global de açúcar em 2021/22 (out-set), o que moldará com maior precisão os cenários para a região. 

Dados são do Relatório Semanal de Açúcar & Etanol StoneX.

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