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Agricultor de São Paulo busca alternativa à laranja e cana


A dificuldade dos pequenos e médios produtores em negociar preços com os gigantes do açúcar e do suco de laranja está levando a uma mudança no mapa agrícola de algumas regiões do estado de São Paulo. No lugar da monocultura da laranja ou da cana, um número expressivo de agricultores busca a diversificação, numa tentativa de escapar das crises setoriais. As frutas e borracha têm sido as escolhas mais freqüentes no norte e noroeste do estado, onde torna-se cada vez mais evidente a profissionalização e a tecnificação das culturas, que conta com a ajuda das universidades e das indústrias da região.

Atenta a essa tendência, a Cooperativa dos Citricultores de São Paulo (Coopercitrus), com sede em Bebedouro, decidiu sair à frente e ampliou o espaço destinado à produção de mudas para facilitar a migração de seus cooperados para outras atividades agrícolas. Além de mudas para a formação de pomares de frutas chamadas "exóticas", como manga e coco, a partir de fevereiro começa a semeadura para a formação de mudas para o plantio de seringueiras.

Essa também foi a providência tomada pela indústria de doces Predilecta, que buscou ajuda da Universidade Estadual São Paulo (Unesp), em Jaboticabal, para desenvolver tecnologia para que os fruticultores, em vez de colher uma safra concentrada em um período de dois ou três meses, possam, pelo sistema de podas, entregar a matéria-prima durante o ano inteiro.

O diretor industrial da indústria de doces Predilecta, Antonio Carlos Tadiotti, calcula que o ganho com a produção de goiabas supere a de laranja em entre 25% e 30%. "Os custos dos tratos culturais são mais elevados, mas o preço e o volume da colheita superam a receita da citricultura nessa proporção". Por isso, tem muito pomar de goiaba avançando sobre os pastos e áreas de citricultura, acredita.Além da incapacidade de barganhar preços com as grandes indústrias, a fuga na direção de outras culturas perenes pelos citricultores paulistas está sendo acelerada pelo risco real que representam as sucessivas pragas que estão surgindo nos pomares de laranja. Depois do cancro-cítrico e da morte súbita, aparecem agora focos do greening, uma doença bacteriana que é considerada como uma ameaça real à citricultura brasileira e que poderá levar a perdas significativas na produção.

Renda extra:

Outra motivação, segundo confirma o presidente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), Maurício de Sá Ferraz, é a promessa de uma renda extra oferecida pelo cultivo de frutas como a manga, o coco e a goiaba. O consumo nacional de frutas é baixo comparado ao de países desenvolvidos. No Brasil, cada pessoa consome 47 quilos por ano, enquanto que na Itália, por exemplo, o consumo "per capita" chega a 140 quilos por ano. Além de baixa, segundo Ferraz, a procura por frutas está em queda nos últimos ano, por causa da perda de renda da população brasileira.

A redução da procura por frutas no mercado interno está sendo parcialmente compensada pelo ganho de novos mercados no exterior. Câmbio favorável e a quebra de algumas barreiras sanitárias levou o País a obter receita de US$ 370 milhões em 2004 com exportações. O número é ainda modesto diante do faturamento bruto da fruticultura brasileira, estimado em US$ 13 bilhões no ano passado.

A atração pela borracha:

O empenho em estimular a diversificação das atividades de seus cooperados levou a Coopercitrus a investir R$ 1,52 milhão na formação de um viveiro para a formação de mudas de seringueiras, informa o diretor operacional da Coopercitrus, João Pedro Matta. Na primeira fase, o projeto irá distribuir 300 mil mudas de seringueiras, que estarão prontas em janeiro de 2006. A meta é produzir, até 2007, 1 milhão de mudas de alto padrão para serem entregues aos cooperados.

O cultivo de seringueiras prolifera no estado de São Paulo pela garantia de renda oferecida por uma cultura que é perene e que dispensa trato intensivo. A dificuldade está no prazo prolongado em que a árvore entra em fase produtiva - entre 7 e 8 anos. Mas, segundo Jayme Vasquez Cortez, presidente da Associação dos Produtores e Beneficiadores de Borracha, essa dificuldade pode ser parcialmente contornada com o plantio consorciado de outras culturas, uma vez que as linhas de árvores têm um espaçamento de até 8 metros entre si.

A garantia de mercado firme para médio e longo prazos está no crescimento da demanda pelo produto no mercado interno. Em 2004, o consumo de látex chegou a 287 mil toneladas, enquanto que a produção nacional ficou em 94 mil toneladas. A valorização, após um período prolongado em que os produtores dependiam até de subsídio oficial para sobreviver, conduz à previsão de que a área de produção de látex, hoje de 50 mil hectares, poderá quintuplicar nos próximos cinco anos.

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