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Agropecuaristas de Iguatu (CE) voltam a produzir algodão

Depois de 20 anos, este município voltou a produzir algodão em larga escala


Depois de 20 anos, este município voltou a produzir algodão em larga escala. Na fazenda Capitão Mor, distante apenas 8 km do centro da cidade, em terras que contornam a Lagoa de Iguatu, o branco se espalha numa área de quase 600 hectares, chamando a atenção de quem passa ao lado, na estrada carroçável. De longe, a paisagem lembra um imenso lençol estendido ou até mesmo flocos de neve.

O plantio é uma iniciativa dos irmãos agropecuaristas, José Erosimar e Francisco Rufino de Lima (Mazim), e do filho deste, Virgílio Rufino, estabelecidos no vizinho município de Acopiara. A área de 700 hectares foi arrendada ao ex-produtor de algodão, José Sebastião Dias (Teté) por cerca de R$ 80 mil. Em fevereiro passado, os irmãos começaram o plantio e a colheita foi iniciada há 20 dias. Além de algodão, plantaram milho e soja.

No campo, máquinas e trabalhadores rurais não param na colheita dos capuchos de algodão. Apesar de ser uma extensa área, apenas um grupo de 30 homens trabalha na fazenda. A maior parte da colheita é mecanizada. “O trabalho manual é apenas das margens do plantio e das grotas, por onde a máquina não pode passar”, explicar o encarregado do plantio, Raimundo Boa Ventura Bezerra.

Apesar do uso da mecanização, o trabalho de colheita deve prosseguir até o fim de agosto. De acordo com estimativa dos proprietários, a produtividade média será de 2700 quilos por hectare. Isso significa que em toda a área plantada, 550 hectares, serão colhidos cerca de 1,5 milhão de quilos de algodão.

Os donos do plantio estão satisfeitos. “O bicudo foi muito pouco, quase não afetou nada”, disse o empresário, José Erosimar Rufino. A produção está dentro da média para um plantio de sequeiro, aquele que depende exclusivamente das chuvas. “O inverno falhou, ocorreram veranicos, mas se a chuva tivesse sido regular, a produção seria maior em torno de 20%”, avalia Rufino.

O segredo para o sucesso da lavoura, Erosimar Rufino tem na ponta da língua. “Sempre fomos pobres, trabalhadores, humildes, e com coragem enfrentamos os desafios”, disse. “Os que eram ricos, na época áurea do algodão, desperdiçaram o capital”, comentou.

O chefe do Centro de Atendimento ao Cliente (Ceac) da Ematerce, em Iguatu, Antônio Pereira de Souza (Tonhão), disse que a experiência de plantio em larga escala feita pelos irmãos Rufinos foi um sucesso. “Esse plantio serve de modelo e de incentivo para outros produtores”, disse. “Espero que no próximo ano, a área de plantio de algodão volte a crescer no município”, destacou.

Em 2004, um grupo de produtores da Bahia, associados a empresários do Ceará, tentaram produzir 700 hectares de algodão na mesma área em que hoje há farta colheita. A experiência fracassou ante a cheia registrada naquele ano, que encharcou o solo e destruiu a lavoura. Em 2005, na segunda e última tentativa, ocorreu o contrário, escassez de água.

O êxito do plantio dos irmãos Rufinos ocorre não apenas por este ano ter sido registrado um inverno regular para a cotonicultura, mas, particularmente, pela experiência que eles acumulam há mais de 40 anos. “Começamos em 1964, em Acopiara, e fomos sempre trabalhando, com humildade, coragem e ampliando a nossa área de cultivo”.

A Algodoeira Rufino é praticamente a única que resiste no Centro-Sul que já foi o maior produtor de algodão do Ceará. “Em 1985, chegamos a beneficiar 35 mil fardos de 200 kg de algodão em pluma”, lembra ele. Veio a crise do bicudo que devastou a lavoura algodoeira. O beneficiamento caiu drasticamente nas décadas de 1990 e anos seguintes, chegando a cinco mil fardos do produto. “Estamos nos recuperando”.

Os irmãos Rufinos souberam transferir o capital e a atividade econômica para outros Estados, como Maranhão e Goiás, além de aplicação em imóveis em Fortaleza. Recentemente, venderam uma usina em Goiás. “Lá agora é só plantio de cana-de-açúcar”, disse Erosimar. “Se o arrendamento continuar, vamos permanecer em Iguatu e Acopiara”. Ele reclama do baixo preço do produto que hoje está por R$ 13,00 a arroba (15 quilos). A queda do dólar e a produção mundial empurram a cotação do algodão para baixo.

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