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Algodão baiano vai ganhar o espaço

Experiência de estudantes do Oeste da Bahia prevê o lançamento de uma mostra da fibra na estratosfera terrestre


Os estudantes da escola Maria Edith Rhoden no distrito de Roda Velha, em São Desidério, oeste da Bahia já se acostumaram a conviver com as lavouras de algodão, que colorem de branco a maior área em produção da Bahia e do Brasil. O município ostenta o título de maior produtor nacional da cultura, com uma área superior a 129 mil hectares que contribui para fazer da Bahia o segundo maior estado produtor do País. Agora, estes mesmos alunos querem testar se a exposição direta à radiação presente na estratosfera terrestre é capaz de causar mudanças na fibra do algodão baiano, reconhecida como uma das melhores do mundo em quesitos como alongamento, resistência, uniformidade, maturidade, reflectância, dentre outros.

Alyne, Isadora, Luiz Carlos e Wendell estão no Ensino Médio e sob a orientação da professora bióloga Daysa de Azevedo, construíram o projeto de pesquisa ‘Viabilidade da resistência da fibra do algodão em altos índices de radicação solar quando submetido a ambiente estratosférico’, selecionado, entre outros no Brasil, como finalista do Projeto Garatéa, gerido por um consórcio de entidades, dentre elas, a Universidade de São Paulo (USP) e Ministério da Ciência e Tecnologia e que tem como conselheiros, representantes da NASA. “O objetivo é observar se a planta tem viabilidade genética após ser submetida a altos índices de radicação e se apresentará mais resistência e menor quebra da fibra, futuramente poderemos ter uma fibra com maior valor de mercado”, explica a orientadora da equipe batizada com o nome de SAIPH.

Para dar sequência à pesquisa, os participantes, convidaram o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Júlio Cézar Busato, para acompanhar a coleta das três amostras de fibras que serão foco do estudo. A Associação está garantindo o apoio a ideia por meio do Programa Educacional Conhecendo o Agro, no qual a escola é uma das contempladas. Além disso, dois dos estudantes da equipe integram, junto a outros 16, os bolsistas na Maria Edith Rhoden mantidos pela Abapa. A Associação custeia as mensalidades e materiais utilizados pelos alunos cujos pais trabalham em fazendas associadas à entidade, na região.  “Esta foi uma forma de incentivar as famílias a permanecerem no campo, porque muitas procuravam cidades que oferecessem educação de melhor qualidade, então, a Abapa oportunizou o acesso a uma escola particular de excelência. A única exigência é o bom desempenho escolar, o que, no caso desses dois alunos, está comprovado”, explica Busato.

As três amostras coletadas foram encaminhadas ao laboratório de análises da Abapa para testes específicos e emissão de laudo técnico revelando as características das fibras. Uma das amostras ficará no laboratório, em ambiente estável, outra, será mantida na escola e durante 30 dias, exposta ao sol, por 15 minutos, diariamente. A terceira rumará para São Paulo (SP) para, em setembro próximo, ser enviada à estratosfera por um período de 10 a 15 minutos. Após cumpridos estes processos, uma nova análise das fibras será realizada para comparar à primeira. “Todo resultado é um risco, mas estamos otimistas”, revela a professora que em 2018, coordenou outra equipe que foi campeã brasileira na mesma competição, com uma pesquisa sobre a palma forrageira, planta comum no Oeste da Bahia.

Otimismo e expectativa é o clima comum aos jovens que irão até São Paulo acompanhar o envio da mostra ao espaço. “É muita emoção. Venho de escola pública e esta é uma oportunidade única, estudar em uma escola particular e ainda participar de um projeto como este. Minha mãe ficou nervosa quando soube que eu precisaria viajar, chamou meus tios para ajudar nas despesas, mas, quando soubemos que tudo seria custeado pela Abapa, foi incrível. Muita gratidão”, diz o estudante Wendel Costa da Rocha que conquistou uma bolsa porque o padrasto é operador de máquinas de uma fazenda associada. Pode estar nas mãos de Wendell e dos outros três componentes da SAIPH, uma nova forma de tratamento para a obtenção de uma fibra de algodão mais resistente e com menos quebra, ideal para a indústria têxtil, do Brasil e do mundo.

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