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Análise de mercado da soja

Esta primeira semana cheia de setembro foi bastante curta, pois a mesma registrou dois feriados


Foto: Divulgação

Esta primeira semana cheia de setembro foi bastante curta, pois a mesma registrou dois feriados. O primeiro, nos EUA, na segunda-feira (06/09), e o segundo, no Brasil, na terça-feira (07/09). Nela, as cotações em Chicago acabaram recuando novamente, com o primeiro mês cotado fechando, para a soja, em US$ 12,58/bushel no dia 09/09 (quinta-feira), contra US$ 12,79 uma semana antes. Além das expectativas quanto ao novo relatório de oferta e demanda do USDA, a ser anunciado no dia 10/09, o qual comentaremos com detalhes no próximo boletim, o mercado trabalhou pressionado pela fraca demanda da China; pelo início da colheita em regiões mais ao sul dos EUA; e particularmente pela ação dos Fundos, que voltaram a um movimento de vendas diante de um clima favorável para as lavouras estadunidenses.

Além disso, devido aos estragos provocados pelo furacão Ida, as exportações foram as mais baixas dos últimos anos na semana anterior. Enfim, o  mercado não descarta a revisão para cima nos números de produção de milho e soja nos EUA neste relatório de setembro. Neste contexto, até o dia 05/09, as condições das lavouras de soja estadunidenses acabaram melhorando, sendo as que estão em níveis entre bons a excelentes subindo para 57%, ganhando um ponto percentual em relação a semana anterior. Um ano atrás havia 65% das lavouras nestas condições. Por outro lado, ainda na atual safra, outras 29% estavam regulares e 14% ruins a muito ruins. 

Quanto aos embarques realizados pelos EUA, na semana encerrada em 02/09, o volume ficou em apenas 68.059 toneladas. Dito isso, ainda pressionou o mercado para baixo o fato de que as primeiras projeções para a safra sul-americana de soja, em 2021/22, apontarem para um volume recorde de 211,9 milhões de toneladas, ou seja, um aumento de 7% sobre as 197,7 milhões obtidas no ano anterior. Prevê-se uma área semeada de 62,75 milhões de hectares, com 2% acima do ano anterior. A tendência é de aumento de área no Brasil, no Paraguai, na Bolívia e no Uruguai, enquanto na Argentina, devido ao imposto de exportação aplicado naquele país, mais uma vez haveria redução de área com soja. A questão será o clima nesta região, já que novamente se fala da possibilidade de incidência do fenômeno La Niña (seca) sobre a região durante o verão. Para o Brasil, o maior produtor de soja do mundo, estima-se uma produção de 144,07 milhões de toneladas, com aumento de 5% sobre o ano anterior. Projeta-se uma área a ser semeada de 40,57 milhões de hectares em solo brasileiro, contra 39,06 milhões no ano anterior, fato que confirmaria aumento de área pelo 15º ano consecutivo em nosso país. Já na Argentina, a produção potencial seria de 51,3 milhões de toneladas, ou seja, 13% sobre a frustrada safra passada. Já a área seria menor, recuando para 16,5 milhões de hectares, contra 17,1 milhões um ano antes.

No Paraguai, com projeção de 3,5 milhões de hectares a serem semeados, a produção final da próxima safra é esperada em 10,5 milhões de toneladas, somando a safra de verão e de inverno naquele país, contra 9,8 milhões em 2020/21. Quanto a Bolívia, a área aumentaria para 1,45 milhão de hectares, com uma produção potencial de 3,2 milhões de toneladas, ou seja, 7% acima do registrado na última colheita. Enfim, no Uruguai, a área deverá se elevar em 12% neste novo ano, atingindo a 1,23 milhão de hectares. Com isso, a produção uruguaia de soja poderá atingir a 2,95 milhões de toneladas, superando em 34% o registrado no ano anterior. (cf. Datagro).

Aqui no Brasil, os preços se estabilizaram, com certo viés de baixa em algumas regiões. A média gaúcha no balcão ficou em R$ 155,73/saco, enquanto nas demais praças nacionais a soja oscilou entre R$ 154,00 e R$ 158,00/saco. Além do recuo em Chicago, o câmbio cedeu um pouco até o feriado de 7 de setembro. Depois disso, diante das manifestações e declarações deslocadas feitas pelo Presidente da República naqueles atos, o câmbio voltou a subir, com o Real superando os R$ 5,30  por dólar em alguns momentos da quarta-feira, para depois recuar para níveis ao redor de R$ 5,28. Isso segurou uma maior queda nos preços internos da soja, porém, voltou a pressionar para cima os custos de produção.

Neste quadro, continua a chamar a atenção de qua as vendas antecipadas, relativas a nova safra, continuam atrasadas em relação ao ano anterior. Até o dia 05/09 cerca de 25,6% da futura safra havia sido negociada, contra 49,3% em igual período do ano anterior e contra 24,9% da média histórica. Já a comercialização da safra velha chegou a 85,9% do total, igualmente estando mais lenta diante dos 97,9% negociados no ano passado nesta época, e dos 88,5% registrados na média histórica (cf. Safras & Mercado).

Os produtores estariam esperando preços ainda mais elevados do que os atuais,  tentando melhorar a rentabilidade diante do forte aumento dos custos de produção para a nova safra. Uma estratégia perigosa e que, hoje, basicamente depende do câmbio no Brasil, o qual somente sobe se o Brasil continuar com as tensões políticas presentes há alguns meses e que prejudicam sobremaneira a economia nacional como um todo. Ranços políticos do tipo que estamos assistindo no país nas últimas semanas e, principalmente, no dia 7 de setembro, não ajudam em nada o país e sua economia, causando uma conta cada dia mais elevada para a população em geral, e o setor produtivo em particular, pagar logo adiante. Vale ainda registrar que parte dos produtores de soja brasileiros estariam guardando o que sobrou da safra passada para vender no último trimestre deste ano, o qual se inicia em outubro.

Pelo sim ou pelo não, a novo ano comercial da soja se inicia com preços médios, entre R$ 153,00 e R$ 158,00/saco nas diferentes praças nacionais, enquanto no ano passado, no início do ano comercial anterior, nesta época, a média estava entre R$ 119,00 e R$ 129,00/saco. Ou seja, tem-se um aumento médio entre 22,5% a 28,6% no preço, porém, o custo total de produção, tomando-se o Rio Grande do Sul como referência, subiu 48,4% e o desembolso aumentou 53,4% no período, conforme dados da Fecoagro. Nestas condições, qualquer problema climático que venha a reduzir a produtividade média tende a gerar prejuízos a muitos sojicultores na próxima safra.

Sem falar que a grande maioria dos produtores nacionais enfrenta problemas logísticos, os quais estão atrasando a entrega dos insumos necessários para realizar o preparo das terras para o novo plantio. Fala-se, inclusive, em falta de glifosato para o tratamento da soja transgênica em especial, hegemônica no país. Consta que o aperto na oferta de matéria-prima para o glifosato começa na China, com restrições ambientais para a indústria do país asiático. Paralelamente, inundações severas afetaram também regiões da chamada rota glicínica, na China, o que também afetou a oferta de fósforo amarelo para a produção do glifosato. Soma-se a isso a elevação do frete de conteiners e o quadro de tempestade perfeita está desenhado para parte da cadeia produtiva da soja.

O mercado também estima que possa haver produtores brasileiros iniciando o plantio, neste ano, sem ter conseguido acesso a fertilizantes, pois além da forte alta dos componentes deste insumo (180% no acumulado do ano no caso do cloreto de potássio) começa a existir falta de produção disponível devido a problemas na cadeia produtiva do mesmo mundo afora. (cf. Reuters) Seria preciso ocorrer um fundamento de baixa forte para derrubar os preços dos nitrogenados, fosfatados e do cloreto de potássio, não havendo, neste momento, um cenário tão otimista até o final de ano, não só sobre os preços, mas também na disponibilidade de matéria-prima. O prazo de entrega e a disponibilidade são os pontos cruciais no momento. Já existem cancelamentos de contratos no mercado brasileiro de insumos. Nestas condições, o risco de muitos produtores perderem a janela ideal de plantio da soja é bastante grande em nosso país. (cf. Agroinvest)

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