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Análise de mercado da soja

As cotações da soja, em Chicago, sofreram um forte recuo após o anúncio dos relatórios de intenção de plantio da nova safra da oleaginosa nos EUA


Foto: Expodireto Cotrijal

As cotações da soja, em Chicago, sofreram um forte recuo após o anúncio dos relatórios de intenção de plantio da nova safra da oleaginosa nos EUA e de estoques trimestrais, na posição 1º de março, no dia 31/03. Com isso, o primeiro mês cotado fechou este dia em US$ 16,18/bushel, cotação que não era vista desde meados de fevereiro, contra US$ 17,00 uma semana antes, perdendo quase um dólar no espaço de cinco dias úteis. Vale destacar que os preços dos derivados recuaram bastante, com o farelo chegando a bater em US$ 466,00/tonelada curta, voltando aos níveis do início de março, enquanto o óleo de soja atingiu a 69,94 centavos de dólar por librapeso, valor que não era visto desde o final de fevereiro.

Em relação aos relatórios, o USDA indicou uma área a ser plantada com soja nos EUA, neste ano, em aumento de 4% sobre a de 2021, para atingir a 36,8 milhões de hectares. Já os estoques trimestrais, na posição 1º de março, ficaram 24% superiores ao volume encontrado um ano antes, surpreendendo em parte o mercado. Com isso, os mesmos, em 1º de março, estavam em 52,5 milhões de toneladas. Dito isso, as exportações estadunidenses de soja, na semana encerrada em 24/03,  registraram um volume de 628.819 toneladas, ficando dentro das expectativas do mercado. Em todo o atual ano comercial o país embarcou 43,4 milhões de toneladas, ou seja, 20% a menos do que um ano atrás.

Ainda na área internacional, durante esta semana a China teria acelerado suas compras visando aumentar a moagem de soja e repor os estoques de farelo e óleo, os quais estariam muito baixos, elevando as cotações dos mesmos para níveis recordes, especialmente o farelo, na Bolsa chinesa de Dalian. Por outro lado, voltaram a haver vários picos de Covid em cidades da China, com paralisação de fábricas processadoras, falta de caminhões e demora nos portos. Nos dois primeiros meses de 2022 as importações chinesas de soja brasileira atingiram a 3,51 milhões de toneladas, um aumento de 241% sobre o mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Administração Geral das Alfândegas da China. E além das compras, a chegada de volumes brasileiros de soja ao país asiático também é maior em 2022, na comparação anual. Da mesma forma, é possível observar que as vendas de soja dos Estados Unidos, para China e os chamados "destinos não revelados", superam os anos anteriores. Na prática, a China e outros importadores têm comprado mais soja do que o normal nesta época do ano, dos EUA, depois da quebra na safra da América do Sul ocasionada pela seca, além da invasão russa à Ucrânia, fato que fechou portos ao longo do Mar Negro (cf. Bloomberg).

E no Brasil, com um câmbio que desceu para R$ 4,75 durante a semana, os preços da soja despencaram. No Rio Grande do Sul, o balcão, após ter atingido a R$ 204,00 há algumas semanas, fechou a última semana de março na média de R$ 190,28/saco, enquanto as principais praças do Estado já negociavam o produto a R$ 182,00/saco. Isso significa um recuo de até R$ 22,00/saco em 10 dias úteis. Nas demais praças nacionais igualmente os preços recuaram fortemente, com as médias oscilando, nesta semana, entre R$ 163,00 e R$ 176,00/saco. E o tombo só não é maior porque Chicago se mantém próximo das máximas históricas e os prêmios nos portos brasileiros continuam próximos de US$ 2,00/bushel quando, nesta época, historicamente trabalham entre US$ 0,40 e US$ 0,85/bushel.

Neste contexto, pesa a forte quebra da safra nacional de soja. Assim, no Rio Grande do Sul, com uma colheita que atingia a 14% da área até o final da semana anterior, a produtividade média obtida girava em torno de 1.460 quilos/hectare, ou seja, 24 sacos/hectare, contra uma expectativa inicial entre 60 e 65 sacos. Tem-se aí perdas entre 60% a 63% do total esperado. Lembrando que há regiões com perdas totais nas lavouras de soja. Já a colheita da soja no Brasil teria atingido, até o início da corrente semana, um total de 77,4% da área, com a projeção de produção final despencando para 119,5 milhões de toneladas, segundo a AgRural. Quanto ao futuro plantio, safra 2022/23, espera-se um aumento de área ao redor de 0,5% sobre o ano anterior. Na safra anterior, o plantio atingiu a 40,7 milhões de hectares. Porém, os custos de produção serão maiores. A conversão de áreas de pastagem, por exemplo, passa de R$ 3.000,00/ha, para R$ 7.000,00. Sem falar na disparada dos preços dos fertilizantes. Neste quadro, espera-se uma colheita, na futura safra, em clima normal, de 141 milhões de toneladas, após a frustrada safra atual. (cf. Itaú BBA)

No Paraná, a colheita da soja atingiu a 83% da área semeada, enquanto a do milho chegava a 97% no início da presente semana. As lavouras que restam a colher, com o retorno das chuvas, melhoraram suas condições. (cf. Deral) Pelo lado do esmagamento brasileiro de soja, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) fechou os números relativos ao ano de 2021 (safra 2020/21) para o complexo soja. Após uma colheita de 138,9 milhões de toneladas, o país exportou 86,1 milhões e esmagou 47,8 milhões de toneladas. O esmagamento foi superior em 2% ao resultado do ano anterior. Isso resultou em uma produção de 36,8 milhões de toneladas de farelo, das quais 52% se destinaram ao consumo interno (19,2 milhões de toneladas) e 17,2 milhões de toneladas foram exportadas. Quanto ao óleo de soja, o consumo recuou 6% em relação a 2020, enquanto a exportação cresceu quase 50%. Para 2022, a ABIOVE estima novo recuo nas vendas internas de óleo de soja, com as mesmas caindo para 7,9 milhões de toneladas, voltando ao patamar de 2019. Isso se deve a manutenção da mistura do biodiesel ao diesel de petróleo em
10% (B10).

Com isso, o estoque de passagem do óleo de soja, para 2023, chegará ao recorde de 600.000 toneladas. Ao mesmo tempo, a exportação atingirá 1,7 milhão de toneladas e a produção total de óleo de soja permanece em 9,7 milhões de toneladas. Lembrando que a ABIOVE ainda estima uma safra 2021/22 em 125,3 milhões de toneladas, ou seja, bem acima do que outros analistas projetam. Com isso, o esmagamento de soja em 2022 ficaria em 48 milhões de toneladas. Quanto às exportações do complexo soja brasileiro, em 2021, a consultoria Datagro avança um volume final de 105,03 milhões de toneladas, ou seja, 4% acima do registrado em 2020. Teriam sido 86,11 milhões de toneladas de grãos de soja, com alta de 3,8% sobre o ano anterior, 17,2 milhões de toneladas de farelo, com alta de 1,9% sobre o ano anterior, e 1,65 milhão de toneladas de óleo de soja, com acréscimo de 49,5% sobre o ano anterior. Para esta consultoria, a safra final brasileira, em 2020/21, teria ficado em 137,8 milhões de toneladas, com aumento de 8% sobre o ano anterior. Neste contexto, o complexo soja brasileiro, na exportação, teria rendido US$ 48,16 bilhões em 2021, atingindo a novo recorde e superando em 36,7% o valor total exportado em 2020. A soja em grão rendeu US$ 38,7 bilhões, com aumento de 35,6% sobre o ano anterior, enquanto o farelo somou US$ 7,4 bilhões, avançando 25,1% sobre 2020, e o óleo de soja resultou em US$ 2,035 bilhões, com aumento de 167,4% sobre o ano anterior. Assim, considerando um total exportado pelo Brasil em US$ 289,39 bilhões, o complexo soja contribuiu com 17,2% deste total, batendo um novo recorde. Lembrando que a média dos últimos 10 anos é de 14,6% na participação do complexo no total exportado pelo país, em valores. Para 2021/22, com a frustração da safra, as exportações totais do complexo soja devem ficar em 99,2 milhões de toneladas, segundo a Datagro.

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