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Análise de mercado da soja

As cotações da soja, em Chicago, trabalharam nesta semana, para o primeiro mês cotado, acima dos US$ 17,00/bushel durante todos os dias úteis


Foto: Pixabay

As cotações da soja, em Chicago, trabalharam nesta semana, para o primeiro mês cotado, acima dos US$ 17,00/bushel durante todos os dias úteis. O fechamento da quinta-feira (21) ficou em US$ 17,48, contra US$ 16,82/bushel uma semana antes. Além dos fatores já conhecidos, o mercado trabalhou com a preocupação do clima nos EUA, o qual apresenta situação de seca em muitas regiões produtoras, o que dificultaria o início do plantio da nova safra de soja naquele país. Tanto é verdade que até o dia 17/04 o mesmo atingia a 1% da área esperada, contra 2% na média histórica e também na expectativa do mercado. No ano passado, nesta época, o plantio chegava a 3% da área.

Vale ainda destacar que voltou a piorar o quadro de guerra entre Rússia e Ucrânia, fato que eleva o preço do petróleo, puxando para cima as cotações do óleo de soja, as quais voltaram a superar os 80 centavos de dólar por libra-peso nesta semana, considerando o primeiro mês cotado. Por outro lado, na semana encerrada em 14/04, os EUA embarcaram 972.509 toneladas de soja, ficando dentro das expectativas do mercado. Em todo o ano comercial atual o país exportou 46 milhões de toneladas, ou seja, 17% a menos do que em igual período do ano anterior. 

Em tal contexto, a volatilidade do mercado e dos preços continuará muito elevada nos próximos meses, particularmente em função do comportamento climático nas regiões produtoras estadunidenses. Dito isso, o esmagamento de soja nos EUA subiu em março, atingindo o seu mais alto nível para o terceiro mês do ano, enquanto os estoques de óleo de soja caíram para o menor patamar desde novembro, segundo dados da Associação Nacional de Processadores de Oleaginosas. As indústrias moageiras estadunidenses esmagaram 10,1% acima do registrado em fevereiro e 2,1% acima do processado em março de 2021, atingindo a um total de 4,95 milhões de toneladas no mês passado.

Os esmagadores de soja tinham ampla oferta de soja disponível em março, aproveitando as boas margens e a forte demanda por farelo de soja processado. Muitas indústrias também optaram por manter as taxas de esmagamento altas antes do tempo de inatividade para manutenção das indústrias. Mesmo assim, os estoques de óleo de soja recuaram 7,3% em relação a alta de 22 meses atrás, porém, subiram 7,7% em relação ao estoque total existente no final de março de 2021.

Pelo lado da demanda, a China informou que suas importações de soja, procedentes dos EUA, recuaram fortemente em março, na comparação com o ano anterior. Foram 3,4 milhões de toneladas importadas dos EUA no mês passado, contra 7,2 milhões um ano antes. Os embarques chineses, do produto estadunidense, têm sido menores, indicando uma tendência. Nos últimos três meses os mesmos caíram 30% em relação ao ano anterior, ficando em 13,4 milhões de toneladas. Lembrando que no ano passado as importações estiveram sob influência de um acordo comercial realizado com os EUA, após o conflito comercial entre os dois países nos anos anteriores.

Por outro lado, os dados chineses mostraram que as importações de soja originárias do Brasil, em março, atingiram a 2,87 milhões de toneladas, superando largamente as 315.334 toneladas de março do ano anterior. Com isso, a China trouxe 6,4 milhões de toneladas da oleaginosa do Brasil, no primeiro trimestre, o que corresponde a um aumento de 370% em relação ao volume realizado no mesmo período do ano anterior. O problema, agora, é o Brasil manter esta performance diante de uma sensível redução em sua atual colheita, devido aos problemas climáticos ocorridos. Além disso, as fracas margens de esmagamento, junto às indústrias chinesas, persiste. Isso freia a compra de soja pelas mesmas. Tal situação se dá pelas perdas que os criadores de suínos chineses vêm enfrentando há algum tempo. Na província de Sichuan, por exemplo, no sudoeste do país, os mesmos perdem cerca de US$ 37,51 para cada porco criado, fato que reduz a demanda por ração e, por consequência, de farelo de soja. Tais margens, na produção geral de suínos da China, estão negativas desde meados do ano passado.

Enfim, a China anuncia, pelo seu Ministério da Agricultura, um aumento de 25,8% em sua produção de soja neste ano de 2022. A área plantada com a oleaginosa crescerá 16,7%. Em se confirmando esta expectativa, a produção final chinesa de soja chegaria ao recorde de 20,63 milhões de toneladas no corrente ano, contra 16,4 milhões no ano anterior. A ideia é chegar a uma produção de 23 milhões de toneladas da oleaginosa até o final de 2025. Lembrando que os chineses importam, por ano, ao redor de 97 milhões de toneladas de soja, sendo o maior comprador mundial há alguns anos.

Já no mercado brasileiro, os preços da soja voltaram a subir, pressionados por Chicago e por um prêmio nos portos que tem oscilado entre US$ 1,60 e US$ 1,90/bushel para abril a julho deste ano. Com isso, o bushel de soja no Brasil fica valendo entre 19 e 20 dólares (Chicago + prêmio), batendo um recorde histórico. A situação só não é melhor porque o câmbio mantém o Real em níveis ao redor de R$ 4,65 por dólar, ou seja, cerca de um Real a menos do que o registrado um ano antes.

Assim, a semana fechou com a média gaúcha, no balcão, alcançando R$ 182,46/saco, enquanto nas demais praças os preços giraram entre R$ 160,00 e R$ 174,00/saco. Por sua vez, a colheita da atual safra de soja 2021/22, atingia a 88% da área até o início da corrente semana, superando os 85% da média histórica para esta época do ano, embora o atraso no Rio Grande do Sul, que teria colhido apenas 38% de sua área até o final da semana passada. (cf. Datagro).

Pelo lado das exportações, segundo a Secex, o Brasil teria atingido a 532.500 toneladas até a terceira semana de abril, com um recuo de quase 300.000 toneladas em relação ao mês de abril completo de 2021. Neste sentido, segundo, agora, a Anec, o país deverá exportar 12 milhões de toneladas de soja em abril, e 1,96 milhão em farelo de soja. Em se confirmando estes números, o grão registrará queda no volume, pois em abril do ano passado o mesmo atingiu a 15,7 milhões de toneladas exportadas.

Já a Abiove espera que o Brasil exporte apenas 77,2 milhões de toneladas de soja em 2022, devido à menor oferta e a compras chinesas em diminuição. Isso significaria 9 milhões de toneladas a menos do que o volume registrado no ano passado. Enquanto isso, o esmagamento de soja deverá atingir a 48 milhões de toneladas, podendo chegar a um recorde diante da boa demanda pelo farelo e óleo. Para o farelo a Abiove. mantém sua estimativa de exportação em 18,3 milhões de toneladas no corrente ano, com um consumo interno em 18,1 milhões. Para o óleo de soja, a estimativa de exportação é de 1,7 milhão de toneladas e um consumo interno em 7,9 milhões, a partir de uma produção que chegaria a 9,7 milhões de toneladas. Com isso, os estoques finais de soja no Brasil terminariam 2022 em apenas 2,43 milhões de toneladas, após 5,26 milhões no final do ano anterior. Espera-se uma receita recorde na exportação do complexo soja neste ano, com a mesma podendo atingir a US$ 55,9 bilhões, contra US$ 48 bilhões em 2021.

Enfim, os operadores de mercado no Brasil estão prevendo que os produtores brasileiros terão um dilema nos próximos meses. Trata-se de como os mesmos irão avançar com sua comercialização para garantir seu fluxo de caixa, espaço para a armazenagem dos grãos e as oportunidades de negócios que poderão ser oferecidas para ambos os produtos. É possível que as exportações nacionais de soja terminem mais cedo, devido a frustração da safra, enquanto o milho ganhe mais força pela perspectiva de uma safrinha recorde neste ano (chega-se a falar em 90 milhões de toneladas). Pelo sim ou pelo não, em tal contexto, a tendência é de os preços da soja ficarem proporcionalmente melhores do que os do milho nos próximos meses.

Assim, embora não seja o caso do Rio Grande do Sul e outros Estados do Sul do país, no geral irá faltar espaço para armazenagem na medida em que uma safrinha cheia de milho comece a entrar. Com isso, diante da atual composição de preços, os produtores brasileiros tendem a vender mais milho do que soja para desocupar os armazéns. Entretanto, é importante frisar que a soja brasileira está muito cara neste momento, em comparação ao produto dos EUA e da Argentina, podendo levar a um deslocamento da demanda internacional para estes últimos países com o passar das semanas. Neste quadro, os prêmios no Brasil tenderão a recuar.

Hoje, com o recuo de 11%, em abril, nos preços da soja no mercado brasileiro, devido a valorização do Real, os produtores seguram a soja, pois os custos de produção subiram enormemente enquanto o preço médio está apenas 2% mais elevado do que em abril de 2021.(cf. Rabobank) No caso específico do Rio Grande do Sul, a média de preços no balcão, neste momento, está 9,1% mais elevada do que o registrado na terceira semana de abril de 2021. É muito pouco se considerar que os custos de produção subiram pouco mais de 50%, em termos médios, e houve uma frustração de safra igualmente um pouco superior a 50% no Estado. Vai se confirmando uma importante perda de rentabilidade dos produtores do sul do país em geral e dos gaúchos em particular. Uma ampla maioria, inclusive, irá terminar a corrente safra com resultados negativos, infelizmente

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