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Armazéns não comportam toda a safra brasileira

Os produtores rurais começam a enfrentar a falta de armazéns para a estocagem dos grãos



Passados os problemas com o plantio, os produtores rurais começam a enfrentar outras dificuldades, dessa vez com a falta de armazéns para a estocagem dos grãos. A produção nacional cresce anualmente, enquanto a capacidade de armazenagem permanece praticamente a mesma. Hoje o Brasil produz 130 milhões de toneladas e tem capacidade estática para 94 milhões de toneladas, um déficit superior a 30 milhões de toneladas.

Na tentativa de melhorar a situação, alguns produtores e até mesmo grandes empresas estão deixando ou diminuindo a terceirização do serviço e construindo silos próprios. A ABC Inco, por exemplo, está concluindo um armazém na cidade de Coromandel (MG), com capacidade para 50 mil toneladas. A previsão é que a obra, que custou R$ 7 milhões e teve início em outubro do ano passado, fique pronta até o dia 20 deste mês.

De acordo com o diretor-superintendente, Luiz Gonzaga Maciel, esta nova estrutura irá atender à demanda de armazenagem de soja que a empresa possui hoje, já que está ampliando a compra de grãos no Estado. "Nossa participação em Minas Gerais vem aumentando ano a ano e o objetivo é ampliá-la ainda mais", diz o executivo.

O silo de Coromandel vai atender às regiões Noroeste e Alto Paranaíba. Luiz Gonzaga explica que a construção do armazém é a combinação de dois fatores: o primeiro é o alto custo da terceirização, enquanto o preço da soja está cada vez mais oprimido em função da política cambial de valorização do real e o segundo, a insuficiência de armazéns em Minas Gerais e no Brasil para atender ao crescimento da produção.

Segundo o executivo da ABC Inco, a construção do armazém é interessante do ponto de vista logístico e tributário, já que a comercialização de soja no Brasil tem cada vez mais características regionalizadas. "O armazém de Coromandel é viável porque possibilita a logística tanto para o esmagamento da soja em Uberlândia, quanto para exportação, que pode ser feita por meio do Porto de Tubarão, em Vitória (ES)", explica.

A empresa tem projetos para a edificação de outros silos e paralelamente ao de Coromandel, está ampliando os negócios no Estado do Maranhão com a construção de uma fábrica e uma série de novos armazéns espalhados por aquele Estado. O investimento gira em torno de R$ 100 milhões. "O Maranhão é uma região estratégica para a ABC Inco porque é uma nova fronteira agrícola, com grandes perspectivas de exportação", diz Luiz Gonzaga.

Outra grande empresa que investe em construção de silos próprios é a ADM. Ao todo são 60 silos no Brasil, com capacidade total para armazenar cerca de 2,2 milhões de toneladas de grãos. Só em Minas Gerais, os nove silos que a empresa dispõe comportam 12% da capacidade total. A ADM considera Minas Gerais uma região estratégica e importante para o seu planejamento, porque é um Estado que possui vantagens competitivas em relação a outros, com boas rodovias e ferrovias, terras produtivas e acesso a dois portos importantes (Santos e Tubarão) para o escoamento das exportações, além de ser um centro de consumo relevante de óleo e farelo.

Recursos do BNDES para estocagem foram insuficientes

O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Luís Carlos Guedes, diz que o Brasil precisa ampliar sua capacidade de armazenagem. Para ele, os R$ 500 milhões que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) disponibilizou neste ano para o setor, pelo Programa de Incentivo à Irrigação e Armazenagem (Moderinfra), foram insuficientes.

Ele lembrou que para cada mil toneladas de grãos são gastos de US$ 70 a US$ 80 com a armazenagem. Segundo Luís Carlos, a situação só não é mais grave porque a maior produção brasileira é de soja, uma cultura que é rapidamente escoada.

A superintendente de Armazenagem e Movimentação de Estoque da Conab, Denise Deckers do Amaral, diz que, embora a capacidade tenha aumentado em relação à safra anterior, o ideal seria que o País tivesse armazéns para 20% acima do volume da produção. "Estamos preocupados porque o escoamento da soja poderá ser mais lento devido ao câmbio e ao preço do grão", avalia.

Segundo ela, podem faltar armazéns, sobrar filas de caminhões e isso pode desmotivar o plantio da safrinha de milho. Na safra passada, a capacidade estática era de 93,35 milhões de toneladas, para uma colheita de 119,12 milhões de toneladas (78,36%). Neste ano, apesar da maior quantidade de unidades armazenadoras, só é possível guardar 75% da produção.

Uma solução pode ser a reserva de espaço ou depósito disponibilizada pela Conab para armazenagem de 351 mil toneladas em unidades da companhia localizadas em pontos estratégicos e de grande valor logístico para os agentes do mercado agrícola de diversos Estados brasileiros.

As unidades armazenadoras e o espaço a ser disponibilizado são: Imperatriz/MA (7 mil toneladas), Ponta Grossa/PR (100 mil toneladas), Rolândia/PR (25 mil toneladas), Apucarana/PR (25 mil toneladas), Rondonópolis/MT (42 mil toneladas), Uberlândia/MG (70 mil toneladas), Porteirão/GO (20 mil toneladas), Rio Verde/GO (20 mil toneladas), Santa Helena/GO (10 mil toneladas), Campo Grande/MS (16 mil toneladas), Chapadão do Sul/MS (10 mil toneladas) e Dourados/MS (6 mil toneladas).

O valor a ser pago pela reserva será de R$ 1,03 a tonelada por quinzena, fixo e irreajustável, pelo período do contrato, que pode ser de até cinco anos. O pagamento da reserva ou depósito será antecipado em 12 parcelas iguais e sucessivas.

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