Arroz: Entender os ciclos já não garante competitividade

O mercado de arroz atravessa um período em que as oscilações tradicionais de preços e demanda já não explicam, sozinhas, os desafios enfrentados pelos agentes da cadeia produtiva. A avaliação é de Sergio Cardoso, diretor de operações da Itaobi Representações, ao analisar as mudanças recentes que vêm alterando a dinâmica do setor.

Historicamente marcado por ciclos de alta e baixa, o segmento sempre conviveu com movimentos previsíveis, que faziam parte da lógica da agricultura. No entanto, o cenário atual impõe uma leitura mais ampla. A entrada de novos concorrentes, tanto no mercado interno quanto fora do Mercosul, ampliou a disputa e pressionou margens. Ao mesmo tempo, a logística se tornou mais complexa, exigindo maior capacidade de planejamento e adaptação ao longo da cadeia.

Outro fator relevante é a transformação do comportamento do consumidor. A compra de grandes volumes perdeu espaço para decisões mais racionais, com maior comparação de preços e diversificação de escolhas. Esse novo perfil impacta diretamente a formação de preços e a previsibilidade da demanda, reduzindo a eficácia de estratégias baseadas apenas na espera por uma virada natural do mercado.

Diante desse contexto, práticas que antes eram vistas como diferenciais passaram a ser requisitos mínimos de sobrevivência. Gestão estratégica, controle rigoroso de custos, organização financeira e ajustes logísticos se tornaram essenciais para atravessar períodos de instabilidade. Esses momentos, por sua vez, representam oportunidades para corrigir falhas internas, reorganizar processos e buscar ganhos de eficiência.

A leitura é de que os ciclos continuam existindo e seguirão se repetindo, como sempre ocorreu. A diferença está na forma de enfrentá-los. Quem utiliza as fases mais duras para se estruturar tende a chegar mais preparado quando o ambiente se torna favorável novamente, enquanto a falta de atenção aos sinais do mercado aumenta o risco de ser surpreendido nas próximas mudanças.