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Bem-estar animal ganha espaço na suinocultura nacional

Brasil mantém 4ª posição na produção global de carne suína


Foto: Pixabay

A suinocultura brasileira mantém posição de destaque mundial tanto em volume de produção quanto em competitividade. Em 2024, o Brasil produziu 5,3 milhões de toneladas de carne suína, com um rebanho de 46,6 milhões de animais abatidos e 2,1 milhões de matrizes ativas. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) informou que houve aumento de 2,9% em relação ao ano anterior e crescimento de 52,8% nos últimos dez anos, mantendo o país na quarta posição entre os maiores produtores e exportadores desde 2015, atrás apenas de China, União Europeia e Estados Unidos.

A Ásia segue como principal destino da carne suína nacional. Filipinas, China, Hong Kong, Japão e Singapura concentraram 63,8% das exportações — cerca de 775 mil toneladas. Nesse contexto, o investimento em bem-estar animal passou a ser considerado um fator estratégico para o comércio internacional. A Conab destacou que “a crescente exigência dos países importadores torna a adequação das práticas de manejo um diferencial competitivo”.

Na União Europeia, o uso de celas de gestação — estruturas que restringem o movimento de porcas prenhas — é proibido desde 2013, com exceção dos 28 primeiros dias após a inseminação. A prática também foi banida em Noruega, Suécia, Suíça, Reino Unido e Nova Zelândia (com implementação total prevista para 2025), além de 11 estados dos Estados Unidos.

Nesse cenário, a 6ª edição do Observatório Suíno, relatório elaborado pela Alianima, consolida-se como instrumento de monitoramento e avaliação do setor. O documento utiliza questionários distintos para produtores e compradores, como redes de restaurantes e supermercados. Segundo Maria Fernanda Martin, zootecnista e gerente de relações corporativas e bem-estar animal da Alianima, o objetivo do levantamento é “identificar gargalos, reconhecer boas práticas e estimular o avanço contínuo do setor em direção a sistemas mais sustentáveis”. Ela afirmou ainda que “neste ano, observamos um avanço na gestação coletiva por parte da maioria dos fornecedores, assim como nos compromissos públicos com a adoção do sistema cobre e solta para novas instalações”.

O relatório aponta que todos os fornecedores são capazes de fornecer informações sobre a origem da carne suína livre de celas de gestação, o que reforça a rastreabilidade e a viabilidade técnica da cadeia. Com base em dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), os produtores comprometidos representam 62,2% das matrizes ativas alojadas no país.

Entre os principais desafios para ampliar o alojamento em grupo, 89% dos fornecedores citaram o financiamento como maior obstáculo, seguido pela precificação do produto final (78%) e o planejamento das instalações (67%). A zootecnista destacou que o cenário demonstra amadurecimento técnico do setor e maior busca por qualificação.

O sistema “cobre e solta”, que permite maior mobilidade das fêmeas em baias após a cobertura, começa a ser adotado com mais frequência. Apesar das exigências de espaço e manejo mais complexo, empresas já percebem benefícios para a saúde física e mental dos animais. As desvantagens relatadas incluem perdas reprodutivas, brigas, dificuldade em manter o escore corporal, custos de implementação e necessidade de mais espaço. Já as vantagens mais citadas foram bem-estar, saúde e melhor desempenho das matrizes.

As celas de maternidade também foram apontadas como problema de bem-estar, por limitarem o movimento das porcas e impossibilitarem comportamentos naturais, como a construção de ninhos. O relatório mostra que 67% dos fornecedores têm planos para ampliar o espaço das maternidades, um aumento de 29% em relação ao levantamento anterior.

No manejo de leitões, todas as empresas produtoras afirmaram não realizar castração cirúrgica, e 78% já aboliram o desgaste de dentes. No entanto, práticas como o corte de orelhas e caudas ainda persistem. As empresas citam dificuldades em adotar alternativas devido ao custo e à falta de soluções eficazes contra a caudofagia.

“É importante notar que há uma diminuição na intenção das empresas em banir o corte de cauda ao longo dos anos, como mostra a edição deste ano, em que apenas uma empresa, a MBRF, assinalou a resposta positiva. O corte de cauda segue sendo o manejo mais complexo para o banimento por conta da causa multifatorial do problema de mordedura entre os leitões”, explicou Martin. Segundo ela, apesar dos desafios, o interesse crescente do setor é um indicativo positivo de avanço.

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