Brasil ganha vantagem com corte chinês nos EUA
“O choque comercial amplia a vantagem brasileira no curto prazo"

A decisão da China de suspender compras de soja dos Estados Unidos no início da nova safra está redesenhando os fluxos globais de grãos. O movimento amplia momentaneamente a vantagem brasileira, mas gera pressão sobre estoques internos, preços e margens da indústria local, que já operam de forma apertada. O aumento acelerado das exportações reduz a disponibilidade de soja para processamento doméstico, essencial à produção de farelo e óleo para o mercado interno.
O Brasil exportou 91,2 milhões de toneladas de soja até setembro, apenas 15 milhões abaixo da meta da Conab para 2024/25. O ritmo acelerado antecipa riscos para o processamento, pois a escassez de grãos no mercado interno mantém os preços do farelo elevados, mesmo com queda nas cotações internacionais, e provoca distorções no basis.
“O choque comercial amplia a vantagem brasileira no curto prazo, mas também exige atenção redobrada. Já registramos exportações acima da média dos últimos cinco anos, mas esse aumento acelerado pressiona estoques internos e pode encarecer a matéria-prima da indústria local, que já opera com margens bastante apertadas”, afirma Marcelo Teixeira, especialista de mercado da JPA Agro e um dos fundadores da JPA Inteligência.
Com 78% da soja convertida em farelo e 18% em óleo, qualquer alteração nos fluxos globais impacta diretamente a produção industrial. A projeção é de 45,2 milhões de toneladas de farelo em 2024/25, crescimento de mais de 10% sobre o ciclo anterior, mas as margens permanecem pressionadas. Prêmios portuários tendem a subir, enquanto o basis interno se estreita, elevando custos para a indústria nacional.
“O Brasil sai fortalecido no curto prazo, mas precisa estar atento ao jogo geopolítico e ao dever de casa interno. Só seremos capazes de sustentar essa vantagem se reduzirmos gargalos de competitividade, investirmos em logística e equilibrarmos a relação entre exportação e processamento”, conclui Marcelo Teixeira.