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Brasil perde liderança no mercado árabe

Carregamento para Arábia Saudita que antes chegava em 30 dias, agora demora cerca de 60


Foto: Pixabay

A Índia superou o Brasil na venda de alimentos para a Liga Árabe, desbancando a liderança histórica do país junto ao bloco, segundo dados recém-compilados pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

O levantamento aponta que, em 2020, o Brasil respondeu por 8,15% do total de produtos do agronegócio importados pelos 22 países membros da entidade diplomática. No mesmo ano, a Índia teve participação de 8,25%, superando a liderança do Brasil no ranking desde 2006, quando a Câmara Árabe iniciou a série histórica. Os dados são do ano passado porque foram compilados a partir de informações disponibilizadas somente em outubro deste ano.

Na avaliação da entidade, apesar de continuar competitivo da "porteira para dentro", o Brasil acabou perdendo espaço para a Índia por conta de problemas na logística. Em 2020, a desorganização de rotas marítimas geradas pela pandemia, a escassez de contêineres frigorificados e a alta concentração das companhias de navegação resultaram no alongamento das rotas tradicionais entre o Brasil e os portos árabes, inviabilizando, principalmente o comércio de perecíveis.

Um carregamento para Arábia Saudita que antes chegava em 30 dias, agora demora cerca de 60, situação que persiste apesar do avanço da vacinação e da retomada econômica. Da Índia, no entanto, a viagem é realizada em até uma semana, razão pela qual o país avançou justamente nas frutas, verduras, legumes, mas também em açúcar, carnes e grãos. "[Por essa razão,] estamos buscando conversar com investidores para viabilizar a criação de linhas marítimas diretas, um antigo sonho da Liga Árabe, cuja necessidade está mais que evidente neste momento", afirma Mansour.

O executivo reforça que apesar de o Brasil agora ter uma fatia menor na Liga Árabe, o país não deixou de avançar no bloco. Em 2020, o ano-base do levantamento, as exportações do agro brasileiro para os árabes tiveram alta de 1,4% em receita (US? 8,17 bilhões) e 15,9% em volume. Além disso, entre janeiro a outubro deste ano, as vendas parciais já somam US? 6,78 bilhões, alta de 5,5%, que sinaliza um possível novo avanço em 2021.

Mansour lembra ainda que 2020 foi um ano difícil para os árabes, marcado pela perspectiva de desabastecimento com a interrupção de cadeias externas das quais dependem e pela China atuando forte para reforçar seus estoques. A reação da Liga foi um grande esforço para ampliar o rol de fornecedores, o que resultou na maior participação da Índia, mas também da Turquia, dos Estados Unidos, da França e até da Argentina no bolo árabe.

Outra consequência foi a aceleração dos planos árabes para fomentar a produção local de alimentos. A despeito das dificuldades técnicas impostas pelo clima e escassez de água, esses planos avançam. A Arábia Saudita, que tem as iniciativas mais desenvolvidas na área, tornou-se em 2020 o 9º fornecedor de alimentos da Liga, aponta o levantamento.

"É um ponto de virada. Os sauditas ainda são grandes compradores, mas também já são reexportadores líquidos de alimentos, é fato. Seus preços, no entanto, são mais altos que os do Brasil. Mais uma razão para buscar eficiência na logística", diz Mansour.
 

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