Cervejaria da Serra Gaúcha é nacionalmente premiada
Cerveja Lorena Spritz conquistou a medalha de prata
Cantina Mascaron é destaque na produção de cervejas artesanais combinadas com uvas que fazem parte da história da imigração italiana na região
Se a uva já é símbolo de tradição nas mãos dos imigrantes italianos quando o assunto é fazer vinhos, agora ela conquista um novo espaço na Serra Gaúcha: o da cerveja artesanal. Uva e malte, uma união inesperada, mas repleta de sabor e história. Essa ousada combinação levou a Cantina Mascaron a ser premiada nacionalmente pelo segundo ano consecutivo no Brasil Beer Cup, o maior concurso técnico internacional de cervejas da América Latina.
A cerveja Lorena Spritz conquistou a medalha de prata na categoria Italian Grape Ale da competição, que contou com a presença de 88 jurados de 12 países, incluindo Brasil, Itália, França, Argentina, entre outros. A bebida é feita com a adição do suco extraído da uva Lorena antes do processo de fermentação. Essa variedade de uva branca é genuinamente brasileira, desenvolvida pela Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves.
Criada pelo cervejeiro gaúcho Pedro Henrique Morello, a Lorena Spritz resultou em uma cerveja com notas frutadas e florais, sendo leve, refrescante e repleta de personalidade: “Essa cerveja traz o melhor do nosso terroir por ser combinada com uma uva de mesa desenvolvida aqui na nossa região”, destaca o especialista.
Em 2023, no primeiro ano em que participou da competição nacional, a pequena empresa já havia se destacado ao conquistar o ouro com a cerveja Isabel Spritz, que foi coroada como a Melhor Italian Grape Ale do Brasil. Nessa criação, Pedro utilizou a uva Isabel, uma das primeiras variedades cultivadas e vinificadas pelos imigrantes italianos na região:
“A uva tinta Isabel chegou à Serra Gaúcha trazida pelos imigrantes alemães e, depois, se popularizou entre os italianos. Por muito tempo, a produção foi o sustento das famílias daqui. É uma uva tão nossa, tão da nossa região, que traz muita proximidade afetiva. Por muito tempo, era até mesmo chamada de La Brasiliana (A Brasileira, em tradução do italiano)”, explica o cervejeiro.
Assim como a Lorena, a uva Isabel também é uma variedade de uva de mesa. Consideradas mais simples em comparação às uvas finas, são frequentemente utilizadas para a vinificação na região. A escolha, segundo o cervejeiro, que também estuda enologia atualmente, não foi ao acaso:
“O que eu busco quando elaboro uma cerveja utilizando essas uvas, como a Isabel e a Lorena, é retirar uma espécie de preconceito que existe com as uvas de mesa, as não-chamadas uvas finas, porque eu acredito que elas têm muito potencial vinícola e fazem parte da nossa história, da nossa cultura da Serra. Principalmente, na produção de vinhos”, finaliza Pedro.
Fugindo do óbvio
Localizada na cidade de Vila Flores, na Serra, a cerca de 170 quilômetros de Porto Alegre, a Cantina Mascaron apresenta um modelo único de cervejaria criada dentro de uma vinícola. O negócio familiar começou em 2004 com a paixão de dois amigos pelo vinho, a primeira bebida desenvolvida pela pequena agroindústria.
“A gente sempre teve a ideia de transformar a cantina em uma agroindústria de bebidas e de não trabalhar somente com o vinho. Nesse meio tempo, eu conheci o Pedro, que sempre foi apaixonado por cerveja e sempre teve a ideia de trabalhar com isso”, conta a diretora de Marketing, Joana Brandalise. Foi assim, que a união entre malte e uva começou a tomar forma dentro da cantina em 2018.
Desde o início, no entanto, a proposta era evitar uma cervejaria que fizesse estilos comuns da bebida. O casal idealizou a criação de um conceito que levasse em consideração os produtos da região, mas mantendo o que faz parte do coração da cantina: “A uva, já que o nosso primeiro produto produzido foi o vinho. O vinho Lorena, por exemplo, é o nosso carro-chefe e sempre pensamos muito em como unir essa uva ao mundo da cerveja. Então, a gente ia entendendo o que fazia sentido pra nossa empresa e, com base nisso, e em muitos testes em casa, fomos discutindo até chegar à ideia de produtos que fugissem do óbvio”, conta Joana.
A ideia de Terroir - termo francês que se refere ao conjunto de fatores ambientais, naturais e humanos que influenciam a produção agrícola, especialmente de vinhos - é um importante guia para o negócio. “A gente busca usar esse conceito para sempre apoiar os produtores locais, comprando as uvas, por exemplo, mas especialmente na valorização da influência da imigração italiana que ainda se faz presente na história dos descendentes que vivem aqui na região. E a gente está levando nossa cultura adiante, como por exemplo na premiação”, finaliza Joana.
A quinta premiação do Brasil Beer Cup ocorreu no último final de semana, em Florianópolis, Santa Catarina. A competição é promovida pelo Science Hub e pelo Science of Beer, instituições dedicadas à promoção da ciência e da tecnologia na produção de cervejas e conta com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Governo Federal. Com o tema “Brasil sensorial”, neste ano, o evento contou com 2.512 bebidas inscritas de 446 empresas de 9 países e 17 estados brasileiros.