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Cinturão Verde em Naviraí pode ser referência na agricultura familiar de MS

Hoje os resultados do projeto são animadores e podem ser vistos no trabalho próspero de cada família


Imagine um lugar onde se pode plantar, colher, gerar renda e contribuir com a qualidade de vida e a preservação ambiental no município a partir da agricultura familiar. Parece coisa de campanha publicitária não é mesmo? Parece, mas, na verdade, é uma realidade vivida há oito anos por 34 famílias agrícolas do município de Naviraí, município situado a 364 km da Capital.

Única comunidade verde de Naviraí, o Distrito Verde é uma implementação da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) fruto da idealização e trabalho do engenheiro agrônomo Ronaldo Botelho. “A gente deve muito a ele que encabeçou o projeto e trouxe oportunidade de crescimento às famílias que aqui estão”, afirmou o agricultor Claudinei dos Santos que trocou a vida de cobrador, em uma loja de varejo, pelo campo.

“Surgiu à oportunidade e eu apostei nela. Abandonei tudo e investi tudo o que ganhava no meu pedaço de chão. Lembro que recebi salário, férias e 13º e usei tudo para mudar de vida. Eu trabalhei 21 anos no comércio e a única coisa que consegui foi uma saveiro velha e uma casa na cidade. Aqui, no Distrito Verde, eu tenho um carro zero, uma casa e um outro carrinho usado que utilizo para o trabalho. Na minha casa, estou montando uma área de lazer e, ainda, tenho três funcionários que trabalham comigo”, lembra com satisfação o agricultor.

E como Claudinei ou Nei, como é mais conhecido entre os vizinhos, há outros 33 pequenos produtores que não trocam a vida rural pela urbana. “A renda dos produtores no Distrito Verde variam de quatro a quinze salários por mês. Além da terra, as famílias receberam uma casa financiada pela Agehab [Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul] com área de 32m². A energia elétrica foi pelo programa Luz Para Todos e um poço semi-artesiano para abastecimento de água potável”, se recorda Botelho, idealizador do projeto.

Hoje os resultados do projeto são animadores e podem ser vistos no trabalho próspero de cada família, como na estufa do agricultor Luciano Matsubara. “Meu pais moravam no Distrito Verde e eu vi potencial quando cheguei aqui. Trabalhamos apenas com as mudas de verduras e legumes. A gente comercializa entre os agricultores da comunidade e manda também para Maracaju, Dourados e até no estado do Paraná, na cidade de Guaíra”, conta.

Com a aptidão e a sabedoria oriental em seu DNA para empreender, Matsubara tira a renda de sua família de duas estufas, com 800m² de área. “Sou engenheiro agrônomo de formação e trabalhei por muito tempo com fertilizantes. Tinha um amigo que tinha uma estufa dez vezez maior que a minha, época em que vivi em Minas Gerais. Lá, eu gostava de passar parte do tempo, trabalhava de graça e aprendi muitas técnicas de manejo”.

Quando se lembra da época que tirava a própria renda dos fertilizantes, Matsubara não tem dúvida da vida que prefere. “Aqui, ganho até menos se comparado, mas tenho mais qualidade de vida, o trabalho é sossegado e gosto mais do que faço”, afirma o agricultor que comercializa as mais variadas mudas, “Cerca de 90% das mudas são de alface, mas a gente prepara muda de rúcula, pimenta, abobrinha, almeirão e couve-flor. Só não fazemos cenoura e nabo porque elas ficam tortas nas bandejas”, explica.

A satisfação em falar sobre a rotina de trabalho também é sentida na conversa com Nei. Um dos seus orgulhos mais recentes está na reforma da casa. “Estou fazendo uma área de lazer com churrasqueira e piscina para os dias de descanso. Claro que aqui o trabalho é duro, a gente levanta às 5 horas da manhã e dorme às 8 horas da noite. A gente não é patrão”.

“Digo sempre que o Ronaldo Botelho, da Agraer, nos deu essa chance valiosa. Brinco que resolvi dar ‘uma de japonês’ que é para mexer com hortaliça e o trabalho vem dando certo graças a Deus”, comemora Nei.

Em sua propriedade, o ex-cobrador chega a produzir até quatro mil pés de folhosas para atender restaurantes, mercados e escolas de Naviraí. “O certo era a gente aumentar a produção, pois, não conseguimos atender toda a demanda que aparece, mas a gente tem uma boa clientela e trabalha sempre para melhorar”.

Com uma área total de 42 hectares, o Distrito Verde teve origem a partir de uma área que foi adquirida com o propósito de criar uma escola agrícola. A instituição não foi construída – sendo a terra doada para edificação do Presídio de Segurança Máxima -, porém, o estabelecimento penal utilizou apenas seis hectares dos 48 hectares doados. “A comunidade agrícola tornou-se uma referência na geração de empregos para Naviraí. Grande parte dos produtores possuem funcionários que auxiliam no cultivo e comercialização o ano todo”, garante Botelho.

“Quase todas as famílias já ampliaram suas moradias, adquiriram veículos próprios para transporte de produção e investiram em melhores e mais modernas tecnologias de produção, tais como: irrigação por aspersão, gotejamento, estufas e hidroponia”, detalhou o engenheiro agrônomo da Agraer.

E, se tudo isso já não fosse suficiente, é importante ressaltar os benefícios ecológicos que a comunidade verde gera para o município como um todo. Todo cinturão verde ou distrito verde é de grande importância para a manutenção da qualidade de vida dos habitantes dos centros urbanos, pois colabora com a manutenção do microclima da região, não deixando que as temperaturas se elevem mais que o normal.

Outra vantagem é a promoção da segurança alimentar e a redução de poluentes no ar. Tudo o que é produzido dentro de uma comunidade agrícola próxima da cidade é facilmente vendida no perímetro urbano. O benefício é que a localização favorece o transporte destes gêneros agrícolas deixando-os mais frescos, baratos e com maior conceito sustentável uma vez que quanto menos o trajeto para escoamento da produção menor será a eliminação de gás carbônico dos automóveis. 

Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) 

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