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Commodities têm semestre de recuperação

Preços em Chicago e NY encerram junho acima de dezembro, mas em geral longe das máximas de 2008


Acima do que indicava a maior parte das projeções ao longo do primeiro semestre de 2009, as cotações das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior ainda sofrerão, até dezembro, forte influência de movimentos financeiros derivados da crise global que se aprofundou em setembro do ano passado. E há sinais, hoje, de que poderá haver alguma perda de sustentação.

Nos três meses posteriores ao recrudescimento da crise, grandes fundos que vinham elevando as apostas em commodities saíram para cobrir posições em outros mercados, ajudando a derrubar preços que em junho haviam atingido máximas históricas e que seguiram atraentes em julho e agosto. Mas o aumento da base monetária global e o risco inflacionário embutido nessas injeções de liquidez, a queda de taxas de juros em países desenvolvidos e as oscilações da moeda americana voltaram a fortalecer as commodities como alternativa de investimento, especialmente a partir de março.

Com fundamentos de oferta e demanda em geral "altistas" para boa parte dos produtos agrícolas referenciados nas bolsas de Chicago (milho, soja e trigo) e Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão), cotações descendentes de setembro a dezembro ou janeiro reagiram e deixaram como saldo um primeiro semestre de patamares de preços elevados, ainda que menores que os observados na "febre" vivida em igual intervalo de 2008 - que havia contado com a efetiva colaboração dos grandes fundos - ou mesmo que no segundo semestre do ano passado, ainda inflado em julho e agosto.

Cálculos do Valor Data baseados em médias mensais, trimestrais e semestrais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente a de mais liquidez) negociados em Chicago e Nova York mostram recuperação dos preços a partir de janeiro, mas já sinalizam, também, perda de fôlego em junho. Diante das incertezas, poucos arriscam afirmar que será um segundo semestre de quedas, mas a possibilidade de isso acontecer é maior hoje do que em maio.

Ainda assim, os oito produtos agrícolas destacados neste levantamento encerraram junho com preços médios mensais superiores aos de dezembro. Nesta relação, o açúcar é o grande destaque, com alta de 39,65% nas contas fechadas ontem (dia 29), seguido por soja (31,38%), algodão (24,58%), café (16,06%), suco (13,69%), milho (13,14%), trigo (11,38%) e cacau (8,29%).

"Os fundamentos [de oferta e demanda] que sustentam os preços agrícolas nos atuais patamares são mínimos. Não fosse a hipertrofia de movimentos financeiros nesses mercados, as cotações estariam mais baixas", afirma o economista Fabio Silveira, da RC Consultores. Mas há muitas dúvidas em relação à recuperação da atividade econômica global e a safra de cereais e oleaginosas do Hemisfério Norte está em desenvolvimento e suscetível as variações do clima.

As mesmas dúvidas permearam as ações dos investidores no primeiro semestre, ainda que no caso da safra a que mexeu com o mercado foi a do Hemisfério Sul, marcada por perdas graves na produção de grãos da Argentina e mais moderadas no Brasil e no Paraguai. "Houve um pânico forte no fim de 2008 e grandes realizações [dos investidores] nas commodities [agrícolas]. Mas a demanda global seguiu firme, o processamento de alimentos manteve um bom ritmo e os investidores voltaram. O mercado pode ter exagerado para cima, mas o dólar em baixa oferece suporte", afirmou Vinícius Ito, analista da Newedge em Nova York.

Contas do Valor Data sempre com base nas médias até ontem mostram que o açúcar registrou, de janeiro a junho deste ano, a maior média semestral desde o primeiro semestre de 2006, com especial peso para a mudança de "status" da Índia, que passou de exportadora a importadora. Também negociado em Nova York, o suco foi a exceção negativa do levantamento. Com demanda pouco firme e sem problemas graves na oferta, o produto fechou o primeiro semestre com a menor média em pelo menos cinco anos.

Os gráficos das demais commodities são mais parecidos entre si. Ainda em Nova York, café, cacau e algodão têm picos de preços médios no primeiro semestre de 2008, e o mesmo comportamento pode ser verificado com soja, milho e trigo em Chicago. No primeiro semestre de 2009, as médias de cacau, soja e milho só perdem para o primeiro e para o segundo semestre do ano passado. Café e trigo ficam atrás também das médias do segundo semestre de 2007. A deterioração do algodão foi mais profunda.

Se em maior ou menor escala todas as commodities estarão suscetíveis ao apetite dos grandes fundos de investimentos no segundo semestre, pelo menos uma delas também terá fundamentos claramente "baixistas" no horizonte de curto prazo: a soja. Em Chicago, os contratos do grão com vencimento em novembro (pós-colheita nos EUA) são atualmente negociados a patamares inferiores aos dos papéis para agosto ou setembro, em uma demonstração que a gorda safra americana plantada exerce sua influência "baixista" na formação dos preços e que há dúvidas sobre a manutenção do aquecido ritmo de importações chinesas.

O milho, que perdeu espaço para a soja nos campos dos EUA nesta safra que está em desenvolvimento (2009/10), vai na contramão e sobe no caso dos contratos futuros que vencerão depois da colheita daquele país. O trigo também aparece com cotações em recuperação a partir dos contratos para entrega em setembro.

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