Como garantir bons resultados com a operação de drones nas lavouras
É preciso informação para operar o equipamento da forma adequada
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- A utilização de drones pelos produtores rurais para aplicação de defensivos agrícolas e fertilizantes já vem ganhando espaço em diferentes tipos de lavouras em todo o Brasil nos últimos anos, mas é preciso informação para operar o equipamento da forma adequada, além de operadores especializados, que acompanhem o avanço tecnológico dos equipamentos, suas crescentes funcionalidades e as mudanças regulatórias que vêm ocorrendo. É isso que garantirá custos cada vez menores, maior segurança e maior rentabilidade na produção.
A Associação Brasileira de Drones (ABDrone) e a Schroder Consultoria Agro estimam que, desde a regulamentação em 2021, o número de drones agrícolas em operação no Brasil saltou de cerca de 3 mil para 35 mil este ano, número que deve continuar a crescer e reflete a confiança dos produtores na eficácia da tecnologia.
Conversamos com Matias Lazarotto, fundador da AgroAcademy, uma das maiores escolas especializadas na formação de pilotos do país, para trazer uma série de dicas para quem quer aprender e tornar a sua operação mais rentável. Veja abaixo:
1 – Conheça bem o drone e as suas possibilidades: segundo Matias, o primeiro ponto fundamental para operar bem um drone e fazer com que ele traga mais vantagens é conhecer profundamente o equipamento e suas configurações.
“Não adianta comprar um drone agrícola e sair pulverizando, é preciso conhecê-lo e configurá-lo. É como se ele fosse um celular, posso instalar aplicativos e customizá-lo, adaptando-o às necessidades da lavoura, da cultura, do terreno, do clima, entre outras possibilidades”, disse.
Conhecer a aeronave inclui ainda conhecer softwares e acessórios disponíveis no mercado, que permitem aperfeiçoar as suas funções. Entre os acessórios mais importantes, Lazarotto cita, por exemplo, um kit de bicos de pulverização, que pode ser acoplado ao drone e traz maior variação do tamanho da gota. Outro acessório que facilita a operação é um agitador de cauda, que fará a mistura dos produtos que serão aplicados e abastecerá diretamente o tanque do drone.
2 – Saiba adaptar a operação ao tipo de cultura e terreno: conectada à necessidade de conhecer o drone, Lazarotto destaca que é fundamental saber como usá-lo em cada cultura e adquirir mais conhecimento sobre ela. Isso porque uma lavoura de soja terá diferentes características e necessidades de aplicação do que uma lavoura de café, por exemplo, com diferentes janelas de aplicação.
Uma lavoura de café em Minas Gerais também costuma ter um terreno muito mais acidentado do que uma de soja no Mato Grosso, o que faz com que o operador tenha que usar diferentes planos de voo. Uma opção é usar softwares que mapearão o terreno e trarão maior precisão, melhor uso do tempo e de produtos.
3 – Não subestime os impactos do clima: além do tipo de lavoura e geografia do local, conhecer o clima da região e acompanhar as mudanças climáticas de perto é essencial para uma aplicação bem-sucedida. Ventos, chuvas e altas temperaturas podem danificar o drone e prejudicar a eficácia de produtos aplicados, gerando prejuízos.
“Muitos produtores ainda vão 'no olho', mas isso traz riscos e há softwares que permitem acompanhar em tempo real o clima, dando alertas para parar a operação se necessário”, explica.
Acompanhar o clima permite ainda aproveitar melhor o tempo. Em dias muito quentes, por exemplo, em que não é possível realizar pulverizações, que perdem eficácia com altas temperaturas, o drone pode ser usado para aplicação de fertilizantes ou carregar cargas, caso seja um modelo que tenha essas funções.
4 – Faça um planejamento operacional antes de começar a pulverização: outro fator que faz toda a diferença é planejar a operação de aplicação. Esse planejamento inclui escolher o melhor local para o operador ficar durante o voo e ter uma estrutura adequada para a aeronave pousar, reabastecer e recarregar.
“É preciso ter condições operacionais, pensar onde o operador vai ficar. Se eu tenho uma área de 20 hectares, por exemplo, qual é o melhor local para eu me posicionar para que o drone possa decolar e não ter que se deslocar tanto?”
Além de escolher bem o local, é preciso criar condições para um rápido reabastecimento do tanque e recarga da bateria, como uma boa estrutura elétrica e um bom gerador de energia. Lazarotto compara esse momento a um pit stop dos carros da Fórmula 1, quanto mais rápido e mais organizado for, melhor, mais a aplicação renderá.
5 - Atenção à manutenção e higienização do drone: para o drone e seus acessórios terem um bom rendimento é importante não deixar de lado a sua manutenção, o que se traduz em um cuidadoso e adequado manuseio, transporte e higienização.
“Nos nossos cursos, por exemplo, ensinamos os operadores a fazerem a higienização do drone, da bateria, do tanque, etc. É preciso fazer uma tríplice lavagem devido ao uso de químicos, para que não fiquem resíduos, e há quem não saiba ou tenha preguiça de fazer. Também indicamos os melhores produtos para fazer essa lavagem”, disse Matias.
6 – Não esqueça as regras de segurança e siga as leis, drone não é brinquedo: o uso dos drones agrícolas e seus voos possuem uma série de regras de segurança e legislação a serem seguidas. Não se trata só de burocracia, segui-las é o que permitirá que a saúde de todos os envolvidos seja preservada e que multas sejam evitadas, sem perda de dinheiro à toa. Lazarotto lembra que o drone não é um brinquedo, mas uma ferramenta de trabalho, e muitas vezes de grande porte. Por isso, a importância de sinalizar a área de aplicação e ter os devidos cuidados.
Quanto à regulação, o piloto e o drone precisam de registros junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Além disso, é obrigatório para operadores de drones agrícolas fazer um Curso de Aplicação Aeroagrícola Remota (CAAR) em uma escola homologada pelo Mapa, como a AgroAcademy. Em 2024, a escola foi responsável por 62% das certificações CAAR emitidas no Brasil e possui um serviço que ajuda os profissionais a regularizarem a sua atuação. Os voos também precisam de autorização e é exigida a emissão de relatórios após a sua realização.
7 – Pilotos precisam de especialização e atualização: tão ou mais importante do que as demais dicas é ter pilotos preparados e especializados, pois eles serão os responsáveis pelo manuseio do drone e por realizar uma operação adequada para determinada lavoura. Para o fundador, além de ter o CAAR exigido em uma escola homologada pelo Mapa, é importante procurar outros cursos complementares, adquirindo constantemente mais conhecimento para aperfeiçoar as aplicações.
“Se eu já tenho o certificado, posso ir para um segundo nível, fazer outros cursos, como aprender a fazer o mapeamento de terrenos, o que só é possível fazer em drones menores e permitirá uma aplicação localizada no drone agrícola, somente onde tenha erva daninha, por exemplo”, ressalta Lazarotto.
O mercado de trabalho para pilotos e cursos disponíveis
Com drones mais acessíveis e modernos e a necessidade de ter maior rentabilidade na produção agrícola, a demanda por pilotos tem crescido e torna a profissão mais atraente. “Há muito espaço no mercado, temos milhares de drones registrados no país, mas a mão de obra é escassa. Sabemos de produtores no Mato Grosso (MT) que têm dificuldades de encontrar pilotos, por exemplo, e o salário inicial é bom”, afirma Tamara Maciel, coordenadora geral da AgroAcademy.
Segundo Tamara, hoje, a média salarial de um operador de drones agrícolas está na faixa de R$ 5 mil a R$ 6 mil, mais uma comissão por hectare aplicado. Na AgroAcademy, no entanto, a coordenadora afirma que há a preocupação em fazer a ponte dos alunos com o mercado de trabalho e disponibilizar vagas, sendo que após três meses de formados, 78% dos alunos ficam empregados. Desde que iniciou suas operações, a escola já formou mais de 4 mil pilotos no CAAR e 275 operadores enterprise, em novo curso iniciado em 2024.
O principal curso, carro-chefe da escola, é o CAAR + Piloto de Drone, que reúne duas certificações em dois módulos:
• a certificação de piloto de drone, com 26 horas e seguindo as regras da Anac;
• e a certificação de aplicador CAAR, com 28 horas e homologado pelo Ministério da Agricultura.
São oito aulas teóricas online (ao vivo) e dois dias de formação prática com professores certificados. Eles podem ser feitos separadamente ou de forma integrada. As aulas online são ao vivo para que possam ser tiradas dúvidas na hora e ficam gravadas para que o aluno possa acessá-las depois. O acesso ao conteúdo, incluindo todo o material didático, as gravações das aulas e os recursos complementares, continua disponível mesmo depois do fim do curso. Após a conclusão do módulo referente ao CAAR, o aluno já pode receber a certificação em até 24 horas após a prova.
Além dos certificados, quem faz o curso da AgroAcademy recebe uma carteira digital de operador agrícola DJI, reconhecida por empresas como comprovante de capacitação. A DJI é a líder mundial na fabricação de drones agrícolas.
“Um dos nossos diferenciais é que todos os professores são formados e habilitados internacionalmente, pela fabricante chinesa, a DJI. O aluno também pode dizer que é formado pela DJI. Hoje, a AgroAcademy ocupa o segundo lugar entre todas as academias oficiais da DJI no mundo, ficando atrás apenas da unidade da China”, explicou Tamara. Em 2024, 98% dos pilotos certificados pela marca no Brasil foram formados pela escola
A coordenadora diz que também há a preocupação em fazer a atualização constante dos cursos e oferecer novas opções. Além do CAAR com dois módulos, há o curso de Operador Enterprise (que ensina a operar drones menores, voltados para o acompanhamento de culturas) e um novo curso de manutenção de drones, que começou a ser oferecido em outubro. A escola ainda está desenvolvendo dois novos cursos, voltados para o conhecimento de culturas específicas e que devem ser lançados no fim deste ano.
Para atender mais interessados em todas as regiões do Brasil, a AgroAcademy está expandindo e tem um plano que deve adicionar mais 19 pontos de venda aos 68 polos que possui no país atualmente, entre parceiros e filiais.