Como lidar com a ramulária no algodão?
Manejo, destruir soqueira, variedades resistentes e fungicidas são aconselhados

O Brasil é uma potência no algodão. É o quarto maior produtor mundial e o segundo maior exportador e ainda destaca-se pela qualidade da fibra e sustentabilidade na produção. Na safra 2020/21, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país deve plantar 1, 424 milhão de hectares e espera colher 2,509 milhões de toneladas, uma pequena redução diante da safra passada que foi recorde e ultrapassou os 3 milhões de toneladas.
A cultura está em seu estágio inicial e o sucesso da lavoura depende do manejo correto de doenças da cotonicultura. E são muitas, com prejuízos diversos. O assunto foi discutido em uma live técnica promovida pela Adama, na última sexta-feira (19).
O gerente de desenvolvimento de mercado da marca, Rafael Mancini, conduziu o bate-papo com o engenheiro agrônomo, Guilherme ohl, da Ceres Consultoria Agronômica sobre que manejos adotar especialmente no controle da ramulária, doença que vem ganhando destaque nos últimos anos. “Alcançamos bom desempenho no setor com muito conhecimento e tecnologia. Algumas pragas ainda tiram o sono quando se fala em produtividade e isso precisa ser abordado para ajudar o produtor”, destaca Mancini.
A planta de algodão foi domesticado há mais de 4.000 anos no sul da Arábia e foi em 1750, no Nordeste, que a cultura começou a ser explorada comercialmente no Brasil. Com a evolução da agricultura muitas pragas surgiram. O especialista cita algumas que impactam na cotonicultura moderna:
Elas vão desde as lesões radiculares como os nematoides das galhas e filiformes; viroses como a atípica causada pelo pulgão do algodoeiro (Aphis gossypii) onde todas as variedades no mercado são sensíveis; doenças bacterianas com a maioria das variedades já resistentes; fungicas onde o manejo é muito importante como as doenças de solo que causam tombamento (dumping-off), causadas por Fusarium e Rizoctonia, que atacam já na emergência; as foliares como ramulária que ataca folha e maçãs, ramulose ou antacnose que afetam a parte superior fazendo a planta superbrotar e não se desenvolver com prejuízos acima de 50%, o mofo branco em regiões de maior altitude onde há amplitude térmica maior, especialmente em regiões de sucessão de soja, a mancha alvo que está em expansão também no complexo soja-algodão e a mancha de alternaria, especialmente em fim de ciclo, uma doença antiga que esta voltando no algodão.
“O produtor tem que se alertar e buscar alternativas para não ter maiores impactos. Um dos principais manejos é a destruição da soqueira para que não fiquem plantas voluntárias que sirvam de inóculo para as doenças e fazer o monitoramento da lavoura e o controle químico correto”, alerta Ohl.
O problema ramulária
A ramulária, também conhecida como míldio, falso oídio ou mancha branca é causada pelo fungo Ramularia areola e está presente em todas as regiões produtoras do mundo. Junto com o bicudo-do-algodoeiro e as lagartas é considerada uma das maiores causadoras de perdas na cultura. Em condições de alta umidade, como é o caso do Cerrado, onde se concentra mais de 90% da produção nacional, o patógeno encontra o ambiente favorável para se desenvolver e por isso demanda várias aplicações de fungicidas durante o ciclo da cultura, aumentando os custos de produção.
Segundo informações do Agrolink Fito, o fungo provoca a formação de manchas que possuem coloração branca ou amarela e aparência pulverulenta. A doença também pode afetar as maçãs do baixeiro, causando podridão. A doença pode provocar uma redução de até 35% na produtividade.
De acordo com Ohl o fungo pega toda área começa de baixo para cima na planta. A doença começou a ser identificada no país na década de 90 e os manejos foram sendo modificados a medida que perdiam eficácia no controle. “Naquela época apenas um produto resolvia, mas foi evoluindo e foram necessárias novas moléculas no manejo de doenças. Primeiro se usava só benzimidazol e resolvia. Depois de dois anos entrou estrobirulina . Aí chegamos aos triazóis na dinâmica do manejo, depois mistura de triazóis com estrobirulinas, porque estas são protetoras”, conta.
As perdas de eficiência levaram o produtor a ter que aumentar a dose de triazóis. O controle inicial que era feitos com40 dias diminui para os 20 da cultura implantada. “Há 15 anos destruíamos mais a soqueira e tinha menos algodão voluntário. Em anos muito secos essa destruição fica comprometida e os hospedeiros vem desde cedo. O produtor deve avaliar o histórico da área para estabelecer a estratégia”, reforça.
A rotação e os bons manejos ajudam muito, segundo o especialista. Outro aliado são as sementes com tecnologia de resistência, que vem ampliando a área e já são oferecidas pelas grandes empresas de sementes de algodão. Na safra 2019/20 a área semeada com variedades resistentes no Mato Grosso era de 43% e nesta estima-se crescimento para 60% de área. “O manejo varietal deve adotar estratégias de manejo para manter a eficácia da tecnologia por mais tempo na lavoura. Também há economia de custos. Uma variedade sensível a doença pede aplicação de fungicidas de 8 a 12 vezes e em variedade tolerante se diminui em 50% as aplicações”, diz o consultor.
Por fim ele alerta para as duas raças de ramulária existentes. Há variedades de sementes resistentes apenas à raça 1 mas já foi detectada a raça 2. “É importante saber qual tipo de ramulária está incidindo e traçar o manejo”, completa Ohl.