Conexão Abisolo mostra evolução da matriz orgânica na agricultura brasileira
Evento reúne ciência e indústria para impulsionar os bioinsumos
Foto: Ney Moreira
Por Flávia Macedo
A cidade de Campinas (SP) recebeu a primeira edição do Conexão Abisolo, evento promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo). Reunindo lideranças do setor, pesquisadores e representantes da indústria, o encontro apresentou os cenários, econômico e científico, dos insumos agrícolas em um momento em que a agricultura brasileira busca integrar produtividade, sustentabilidade e inovação.
Entre os destaques técnicos, o professor e pesquisador da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp (Unesp/FCA), Thiago Assis Rodrigues Nogueira, apresentou resultados de pesquisas sobre o uso de fertilizantes orgânicos compostos à base de lodo de esgoto, destacando o potencial desse insumo em fechar o ciclo entre saneamento e agricultura.
“Esse é um cenário desafiador, porque embora o material seja rico em nutrientes e matéria orgânica, ainda há resistência e pouca estrutura técnica nas empresas de saneamento para utilizá-lo adequadamente na agricultura”, explicou Thiago. “É um produto de alto valor agronômico, que poderia ajudar o país a reduzir a dependência de fertilizantes minerais importados. Mas o caminho envolve capacitação, regulamentação e conscientização sobre o valor real desses compostos”.
Segundo o pesquisador, o uso agrícola de fertilizantes à base de lodo de esgoto já ocorre em algumas regiões, especialmente em áreas próximas a estações de tratamento. “Hoje já existem produtos registrados no Ministério da Agricultura de 3% a 15% de lodo na composição, utilizados em culturas como milho e café.
Um dos principais entraves é a aceitação pública. O termo “esgoto” ainda causa resistência. “É importante destacar que esse material é extremamente nobre e rico em nutrientes e matéria orgânica, elementos essenciais para o cultivo em solos tropicais, como os do Brasil. O que precisamos é desmistificar o uso desses resíduos, especialmente em um momento em que o país precisa reduzir sua dependência nas importações de fertilizantes minerais".
Além das palestras e debates, o evento Conexão Abisolo contou com uma área de exposição repleta de novidades tecnológicas, que vão desde fabricantes de máquinas e equipamentos de aplicação, até novas indústrias voltadas ao modelo B2B, mostrando a força e a diversidade do setor de bioinsumos.
Entre os visitantes, o associado da Abisolo e sócio-fundador da Global Biotecnologia, Altamiro Alvernaz, veio de Minas Gerais especialmente para acompanhar de perto as inovações apresentadas.
“É um ambiente de troca e aprendizado, onde conseguimos alinhar o que está sendo pesquisado nas universidades com o que as empresas estão colocando no mercado. Esse tipo de integração é o que faz o setor crescer de forma sustentável e sólida”, destaca.
Fundada com base em estudos sobre o equilíbrio entre ambiente e microrganismos, a Global Biotecnologia desenvolveu a Tecnologia do Consórcio Probiótico (TCP), que atua na sinergia entre bactérias e fungos benéficos para promover o crescimento vegetal e o aproveitamento de nutrientes.
“Nosso foco é entender como a convivência entre esses microrganismos pode melhorar a eficiência fisiológica e a produtividade das plantas. É um trabalho que vem sendo validado em diferentes culturas e regiões e que reforça a importância da biotecnologia como ferramenta prática para aumentar a produtividade e reduzir o impacto ambiental da agricultura”, completou Alvernaz.
Outro destaque da feira foi a Black Bio, que apresentou um produto inédito no mercado: uma matriz orgânica natural, sem misturas, que atua como condicionador de solo, melhorando a estrutura e estimulando a microbiota.
Drumon Pinheiro Filho, diretor comercial da empresa, explicou que o diferencial do produto está na origem e na estabilidade. “A Black Bio é uma matriz orgânica formada naturalmente há milhões de anos. Por ser um material estabilizado, tem alta capacidade de reter nutrientes e água, o que favorece o vigor e a sanidade das plantas. Além disso, serve como abrigo e alimento para os micro-organismos, o que cria um ambiente de solo mais equilibrado e produtivo.”
Ele ressaltou ainda o papel ambiental do produto. “Toda matriz orgânica contém carbono, e no caso da Black Bio essa reposição ocorre de forma natural, sem emissão adicional de gases. Ao incorporar o produto ao solo, o produtor está devolvendo carbono e melhorando a estrutura física e biológica da área", conclui.
Além das soluções voltadas ao campo, o evento também abriu espaço para inovações na área de gestão e tecnologia. De olho nas mudanças tributárias que entram em vigor a partir de janeiro de 2026, a Agrotis apresentou um software de gestão atualizado com as novas regras fiscais, automatizando cálculos e adequações para evitar multas.
“Nossa equipe já está adequando o sistema às mudanças que se estendem até 2033. A ideia é garantir que, a partir de 1º de janeiro de 2026, todas as notas fiscais sejam emitidas de forma automática e em conformidade com a legislação, sem impacto na operação do cliente, ressalta André Túlio, gerente comercial da empresa.