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Coopcerrado: lucro e desenvolvimento sustentável no mesmo bioma


Conviver e respeitar o cerrado tirando dele a renda para a sobrevivência da família. Esta é a forma de trabalho da Cooperativa Mista de Agricultores Familiares, Extrativistas, Pescadores, Vazanteiros e Guias Turísticos do Cerrado (Coopcerrado). A cooperativa, que se diferencia por sua produção agroecológica, terá espaço garantido na Praça da Sociobiodiversidade instalada na Rio+20, evento que acontece na capital fluminense de 13 a 22 de junho. A Praça é uma iniciativa conjunta do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).


Criada há 12 anos, com a junção de seis comunidades rurais do Centro-Oeste, a Coopcerrado cresceu. Hoje está presente em 45 municípios de cinco estados e reúne mais de 1,6 mil famílias. No ano passado, o volume de vendas da cooperativa atingiu a marca de R$ 2,8 milhões. Na Praça da Sociobiodiversidade mais de 30 produtos do catálogo da cooperativa, como a linha de temperos e condimentos e a linha de derivados do baru – castanhas, cookies e barras de cereal – poderão ser consumidos inclusive pelos participantes da Rio +20. Os produtos da cooperativa têm a marca Empório do Cerrado e contam com o Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar (SIPAF) do MDA.

Quando entrou para a cooperativa, uma das primeiras coisas que o agricultor Oreles Araújo da Silva aprendeu foi aproveitar o ambiente sem destruí-lo. A forma de produção se encaixou perfeitamente às necessidades do produtor. Ele acabou descobrindo que podia gastar menos deixando de usar adubos e defensivos químicos, que são muito caros, afetam a saúde humana, assim como, do solo e meio ambiente e ainda aproveitar melhor a terra, que com o uso contínuo desses produtos poderia tornar-se inutilizável para agricultura.

Com a participação na conferência, o ministério espera colocar a agricultura familiar e o desenvolvimento agrário na pauta das discussões. “Nosso entendimento é que a agricultura familiar é uma forma de produção, um modo de vida, capaz de responder aos desafios de uma produção agrícola que gere alimentos saudáveis, aproveitando os recursos naturais de uma maneira sustentável”, afirma o Chefe da Assessoria para Assuntos Internacionais e de Promoção Comercial do MDA, Francesco Pierri.

De acordo com os dados da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) do MDA, o bioma Cerrado abriga 608 mil estabelecimentos da agricultura familiar.

Desenvolvimento sustentável

Uma das maiores preocupações da cooperativa é com o desenvolvimento sustentável, preocupação esta expressa também na apresentação da marca no portal Empório do Cerrado: "Somos uma densa e orgânica rede comunitária de agricultores familiares, extrativistas, pescadores, vazanteiros e guias turísticos e utilizamos nossa cultura com, e não contra, os cerrados. Levamos em consideração a imensa diversidade biológica, riqueza hídrica e potencial produtivo”.

Para tanto, a cooperativa mantém um processo de educação dos membros para uma produção cada vez mais agroecológica, desenvolvida por meio da formação de agroextrativistas monitores que acompanham o planejamento da unidade familiar e/ou áreas comunais para dinamizar um processo de produção agroecológica (o) e (com) manejo sustentável. Entre os princípios da Coopcerrado está a não realização de queimadas, a coleta de frutos caídos no chão (extrativista) – deixando ainda uma parte para consumo dos animais – e o cultivo de roças de forma ecológica.

“Aprendemos a respeitar a natureza. Não precisamos destruí-la para usá-la em nosso benefício. Temos que saber conviver no mesmo ambiente. Lucro e sustentabilidade podem ocupar o mesmo espaço”, afirma o conselheiro da Coopcerrado, Flávio Cardoso da Silva.

Membro da Coopcerrado desde 2003, o agricultor Oreles Araújo da Silva, a esposa e a filha caçula moram e tiram o sustento do sítio de 27 hectares no município de Goiás (GO). As plantações são as mais variadas, desde arroz, milho e mandioca, usados principalmente para autoconsumo, como também açafrão, gergelim e banana, que são entregues à cooperativa. A família também vende leite, mel e frangos caipiras. Cada espaço da propriedade é aproveitado, inclusive a área de preservação ambiental, da qual colhem os frutos nativos como jatobá e baru.

Hoje, ele trabalha com compostagem, aproveitando os resíduos orgânicos da propriedade para adubar as lavouras, e com iscas para espantar os insetos – em vez de matar os animais, usa produtos naturais como pimenta, fumo e urina de gado como repelente. “A produção sustentável foi uma das responsáveis pela minha permanência na zona rural. Conheço muitas pessoas que se endividaram muito comprando químicos e tiveram de vender suas terras”, conta.

Outro ponto fundamental para manutenção da família no campo veio das políticas do MDA. O agricultor acessa anualmente o Pronaf Custeio para financiar a produção e já adquiriu uma ordenha mecânica por meio do Mais Alimentos. “É muito difícil produzir sem capital para começar. Os finaciamentos do MDA proporcionaram alcançar nossos objetivos”, afirma. Além disso, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) são os principais mercados para o escoamento da produção da família Silva e da própria cooperativa.

Cooperativismo
O ano de 2012 foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como ano Internacional das Cooperativas. Para o MDA o cooperativismo é a melhor forma de inclusão socioeconômica dos agricultores familiares. Por intermédio desses empreendimentos, as famílias podem organizar sua produção, tendo maior segurança no momento da comercialização e, muitas vezes, realizar processos de agregação de valor à sua produção, seja em processos simples, como limpeza e classificação, ou mais complexos como agroindustrialização.

Assim como os agricultores familiares individuais, aqueles organizados em cooperativas ou associações podem acessar as linhas de crédito disponibilizadas pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que financia projetos que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. O programa possui as mais baixas taxas de juros dos financiamentos rurais, além das menores taxas de inadimplência entre os sistemas de crédito do País.


O Pronaf Agroindústria – linha que financia investimentos em infraestrutura para beneficiamento e processamento da produção – está financiando a montagem de duas unidades de beneficiamento da Coopcerrado, uma para produção de óleos vegetais e um entreposto apícola. “É um passo muito importante e vai ajudar a cooperativa a crescer ainda mais”, afirma Oreles.

Atualmente a principal fonte de renda dos cooperados é o mercado institucional. Em 2011, foram quase 300 toneladas de frutos entregues a escolas por meio do PAA e Pnae. Ambos os programas, apoiados pelo MDA, priorizam a participação de grupos organizados. A modalidade do PAA , executada pelo MDA e operacionalizada por meio de organizações da agricultura familiar, disponibiliza recursos para que a organização adquira a produção de agricultores familiares e forme estoque de produtos para posterior comercialização.

A participação no Pnae também requer que os agricultores estejam organizados em grupos formais ou informais. Desde junho de 2009, com a aprovação da Lei nº 11.947, a agricultura familiar passou a fornecer gêneros alimentícios a serem servidos nas escolas da rede pública de ensino. A lei prevê que, do total dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) ao Pnae para a compra de alimentos, no mínimo 30% devem provir da agricultura familiar.

Em parceria com o MDA, a Coopcerrado também participa de um projeto de geração de renda e agregação de valor e do programa Talentos do Brasil. Além disso, a associação já entrou com pedido para se cadastrar na Rede Brasil Rural. A expectativa é que a nova ferramenta virtual, desenvolvida pelo MDA, amplie o mercado possibilitando as compras de matérias-primas junto a outras cooperativas e diminuindo assim o custo de produção.

Diversidade para o mundo

Durante a Rio+20, a Praça da Sociobiodiversidade e outras participações do MDA nas programações paralelas mostrarão a diversidade brasileira para o mundo, as inciativas de sustentabilidade da agricultura familiar por meio das ações da Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário e que este setor é estratégico para o desenvolvimento rural sustentável no país.

"A exposição de produtos oriundos das nossas florestas, produtos orgânicos da agricultura familiar vai ser muito importante para que o público presente na Rio+20 tenha contato direto, não só vendo como experimentando esses produtos e conversando com os expositores, que são agricultores", afirma o secretário da Agricultura Familiar, Laudemir Müller. Ele aponta que o evento terá uma rica mostra de produtos (dos biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica) com grande potencial de consumo e que demonstram a capacidade de gerar renda e ao mesmo tempo preservar, "usando com sustentabilidade a biodiversidade que o Brasil tem e o conhecimento tradicional do nosso país".

"O que a gente quer na Rio + 20 é mostrar essa iniciativa e fazer com que o mundo possa ter uma ideia que o Brasil é diverso, além de dar visibilidade para o segmento da agricultura familiar, para esta identidade social no país, que muitas vezes não é conhecida no exterior e que é tão importante para a economia, para a sociedade brasileira e para o meio ambiente", resume Arnoldo de Campos, diretor do Departamento de Geração de Renda e Agregação de Valor da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Na Praça da Sociobiodiversidade, que acontece de 16 a 22 de junho, no Aterro do Flamengo, como parte da programação paralela da RIO +20, estarão 23 empreendimentos de agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais e produtos do Talentos do Brasil (moda). A praça ficará no espaço Arena Socioambiental, das 12h às 20h.

O diretor observa que o Plano Nacional da Sociobiodiversidade promove, a partir de uma articulação de instrumentos de políticas públicas, de atores sociais, empresariais e governamentais envolvidos com a temática, "a geração de renda com a floresta em pé", a partir de produtos que são feitos por comunidades rurais e oriundos da biodiversidade brasileira.

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