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Cotações da soja em Chicago voltam a subir

Porém, este recuo será lento e deve durar todo este primeiro semestre. E as altas não ocorrem somente na soja


Foto: Divulgação

As cotações da soja em Chicago voltaram a subir nesta semana, porém, com perda de ímpeto na quinta-feira. Mesmo assim, o primeiro mês cotado, após romper o piso dos US$ 14,00/bushel na semana passada, se recuperou e fechou esta quinta-feira (25) em US$ 14,14/bushel, contra US$ 13,92 uma semana antes. 

O destaque vem das cotações do óleo de soja que, neste momento, estão sustentando boa parte das altas do grão em Chicago. A libra-peso do óleo chegou a bater em 57,48 centavos de dólar no dia 24/03, a mais alta cotação desde setembro de 2012. Enquanto isso, o farelo viu seus preços enfraquecerem, rompendo, em alguns  momentos da semana, mais uma vez o piso dos US$ 400,00/tonelada curta. No caso do óleo, a elevação nos preços do petróleo até poucos dias atrás vem sustentando suas cotações. Além disso, os estoques mundiais estão baixos e a demanda para biodiesel vem crescendo. Muitos analistas internacionais consideram que, provavelmente, tais cotações estejam no limite e tendam a recuar.

Porém, este recuo será lento e deve durar todo este primeiro semestre. E as altas não ocorrem somente na soja. Os óleos de palma, canola e girassol igualmente vêem seus preços subirem fortemente. No caso do óleo de palma, com a redução da mão de obra disponível nas regiões asiáticas de produção, esta acaba ficando limitada e insuficiente diante de uma demanda aquecida. Por sua vez, é evidente que os preços do grão e do óleo de soja estão em uma bolha especulativa que, em um determinado momento, irá estourar. Espera-se que o recuo, após este estouro, não seja expressivo, porém, ninguém pode dar garantias.

Por enquanto, a produção de óleo de palma na Malásia está estimada em 19,6 milhões de toneladas neste ano, enquanto na Indonésia a mesma chegue a 48 milhões. Hoje, da produção mundial de óleos vegetais, 36% é de óleo de palma, 29% de soja, 13% de canola, 9% de girassol e 9% de outros óleos. Especificamente aqui no Brasil, onde o óleo de soja é o expoente, os preços subiram para até R$ 7.000,00 a tonelada nos melhores momentos do mercado nestas últimas semanas. Boa parte deste movimento está no fato de que o biodiesel já está sendo misturado na proporção de 13% no país. Neste contexto, a Abiove espera uma produção nacional de óleo de soja, em 2021, ao redor de 9,5 milhões de toneladas, sendo que 600.000 toneladas serão exportadas e 9,2 milhões (já agregando os estoques iniciais) serão consumidas internamente. 

Na esteira desta realidade, destaque para a redução no esmagamento de soja por parte da China, o que resulta em menos óleo produzido. O esmagamento recua porque o consumo de ração voltou a cair devido ao retorno de surtos de peste suína africana naquele país asiático. Isso, logo mais, poderá impactar os preços da soja em Chicago.

Dito isso, os embarques de soja por parte dos EUA, na semana anterior, atingiram a 489.405 toneladas, ficando dentro das expectativas do mercado. No acumulado do ano comercial atual o volume alcança 53,6 milhões de toneladas embarcadas, sendo 73% acima do registrado um ano antes nesta época. Vale ainda lembrar que no próximo dia 31/03 teremos o relatório de intenção de plantio nos EUA, o qual pode trazer um aumento importante na área a ser semeada com soja naquele país.

E aqui no Brasil, os preços recuaram, puxados pelo recuo do dólar em alguns momentos da semana. A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 160,61/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços variaram entre R$ 151,00 e R$ 156,00/saco. Vale destacar que, no caso brasileiro, é o câmbio o maior responsável pelos atuais preços da soja. Para se ter uma ideia desse impacto, mantendo as demais variáveis constantes, em o câmbio vindo a R$ 5,00, o que seria adequado na atualidade, a soja gaúcha, no balcão, estaria ao redor de R$ 134,00/saco. Mesmo assim, um preço expressivo em relação ao praticado nesta época do ano passado, quando o saco do produto estava em R$ 88,52 em média. Por outro lado, importante se faz anotar que as cotações futuras em Chicago, no momento, são baixistas. O contrato novembro, por exemplo, está quase dois dólares por bushel abaixo dos valores atuais. Neste sentido, considerando Chicago ao redor de US$ 12,00/bushel e um prêmio positivo de 20 centavos de dólar para novembro, a um câmbio em torno de R$ 5,00, como se espera venha a ocorrer no final do ano (dependendo do comportamento de nosso juro básico e dos encaminhamentos em relação a vacinação e as reformas), o saco de soja, no balcão gaúcho, pode terminar novembro de 2021 ao redor de R$ 116,00 em média, contra R$ 153,41 no final de novembro de 2020, ou seja, quase 25% a menos.

Lembrando que a disparada cambial, anormal deste início de ano, mudou a tendência dos preços internos da soja nesta colheita, deixando-os entre 30 a 40 reais/saco mais  elevados do que o inicialmente projetado. Por enquanto, o que se tem é uma estabilização dos preços internos da soja, com viés de baixa, motivado pelo avanço da colheita no Brasil e a melhoria do clima na Argentina. A possibilidade de uma safra entre 128 e 133 milhões de toneladas, conforme os diferentes órgãos públicos e privados, auxilia a segurar as cotações.

Infelizmente, no Centro-Oeste, boa parte da colheita está se dando com muita umidade, forçando descontos importantes junto aos preços finais recebidos pelos produtores. Além disso, certas regiões registram perdas significativas pelo excesso de chuvas na colheita, além da forte seca no momento do plantio no ano passado. Ainda em termos de colheita de soja, no Rio Grande do Sul a mesma atingia algo em torno de 10% da área, enquanto no Mato Grosso ela estavanestá quase concluída neste momento. No Brasil, como um todo, a mesma chegava a 59% até o dia 18/03, contra 66% um ano atrás. (cf. AgRural)

Vale ainda destacar que as importações de soja brasileira, por parte da China, recuaram nos primeiros dois meses deste ano. O país asiático comprou apenas 1,03 milhão de toneladas de soja nestes dois meses, contra 5,14 milhões de toneladas no mesmo período do ano passado. Isso se deve, em boa parte, ao atraso na colheita  rasileira, porém, pode ser igualmente um sinal de recuo geral nas compras chinesas diante do retorno da peste suína africana em parte de seus rebanhos suinícolas. Por enquanto, este segundo ponto parece não se confirmar, já que nos dois primeiros meses do ano as importações chinesas oriundas nos EUA cresceram para 11,9 milhões de toneladas, contra 6,1 milhões em janeiro e fevereiro de 2020. Ou seja, os  chineses compensaram a falta de produto no Brasil, comprando mais dos EUA, fato que auxiliou a elevação das cotações em Chicago em quase três dólares por bushel entre o início de dezembro passado e o final deste mês de março.

Mesmo assim, em termos totais, como já destacado no comentário passado, as importações chinesas totais de soja recuaram 0,8% nos dois primeiros meses deste ano, em relação a igual período de 2020, chegando a 13,4 milhões de toneladas. Para o restante do ano, a questão chave é se verificar em que dimensão se dará o impacto deste retorno da peste suína africana na China, pois isso direcionará o mercado internacional.

Quanto as exportações totais de soja por parte do Brasil, nas três primeiras semanas de março o total nacional chegou a 7,7 milhões de toneladas (cf. Secex). Segundo a Anec, o Brasil poderá exportar 16,2 milhões de toneladas de soja em março, contra 10,8 milhões em março de 2020. Outro ponto importante a destacar é que haveria pouco espaço para grandes negócios com soja no curto prazo, devendo este interesse comprador aumentar a partir de junho, quando da entressafra estadunidense.

*INFORMAÇÕES SÃO DO RELATÓRIO DA CENTRAL INTERNACIONAL DE ANÁLISES ECONÔMICAS E DE ESTUDOS DE MERCADO AGROPECUÁRIO

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