CI

Cultivo do gergelim no Brasil cresce 230% em um ano

Cultivo está crescendo como alternativa após término da janela da safrinha


Foto: Pixabay

O cultivo de gergelim vem ganhando mais espaço no Brasil, especialmente como alternativa ao milho safrinha quando a janela fica apertada e pelo mercado internacional aquecido.

A área passou de 53 mil hectares na safra 2018/2019 para 175 mil hectares na safra 2019/2020, um salto de 230% em apenas um ano. A produção cresceu 123%, saindo de 41,3 mil toneladas para 95,8 mil toneladas do grão. Nos últimos dez anos, o aumento da produção foi ainda mais expressivo, cerca de 20 vezes mais grãos do que as cinco mil toneladas registradas em 2010.

O estado de Mato Grosso, sobretudo os municípios de Canarana e Água Boa, na região leste do estado, concentra a maior parte da produção. A produção de 3.901 toneladas já era a maior do País. Nos últimos anos, no entanto, houve grande aumento no cultivo. Estimativa do Sindicato Rural de Canarana é de que na safra 2020 a área plantada no município tenha sido de 100 mil hectares, gerando uma produção de 40 mil toneladas do grão. 

Desafios da cultura

O aumento da área de cultivo em segunda safra tem revelado que a cultura ainda carece de subsídios técnicos. Para atender a essa demanda, a Embrapa, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e parceiros estão conduzindo diferentes pesquisas, abrangendo do melhoramento genético ao pós-colheita.

Em um dos trabalhos em andamento, amostras de gergelim colhidas em lavouras comerciais na safra de 2020 foram avaliadas com o objetivo de caracterizar os grãos produzidos em Mato Grosso. As análises mostraram que os manejos de colheita e de pós-colheita influenciam a qualidade do produto, tanto em suas características físicas quanto em sua composição química. Além disso, o uso de equipamentos adequados pode reduzir as perdas na colheita.

Foram avaliadas amostras de diferentes materiais, entre cultivares registradas e grãos misturados, com colheita mecanizada e manual. No caso da colheita manual, o cultivo é feito por produtores assentados da reforma agrária, que produzem em sistema agroecológico, com destinação do produto para o mercado japonês. 

Nessas condições, verificou-se que produtores devem atentar nas boas práticas, uma vez que as análises de condutividade elétrica da solução de embebição das sementes mostraram um indicativo da presença de esporos de fungos, causando perda de qualidade dos grãos. Novas análises serão feitas com a produção da safra 2021, buscando identificar o tipo de contaminantes e se apresentam algum risco para o consumo.

“Faremos análises de antioxidantes e teste de sanidade de sementes para saber quais espécies fúngicas estão presentes. É muito comum fungos causadores de micotoxinas na nossa região de temperatura muito alta. As micotoxinas podem ser um problema se o destino do grão é consumo humano, mas não temos nada medido por enquanto”, esclarece a pesquisadora da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) Sílvia Campos.

As micotoxinas são motivo de preocupação constante na produção de castanha-do-brasil, por exemplo. Pesquisas já mostraram que boas práticas na coleta e armazenamento são capazes de evitar o problema.

Outro problema são as perdas na colheita. O uso de plataformas voltadas à colheita da soja, por exemplo, traz algumas dificuldades, pois as diferenças entre tamanho, peso, formato e umidade entre os grãos causam perdas que podem chegar a 50%. 

Adaptações nessas plataformas, feitas pelos produtores dentro das fazendas, de modo a atender as especificidades do gergelim, estão demonstrando eficácia na redução das perdas. Pesquisas conduzidas pelo professor da Universidade Federal de Mato Grosso Diego Fiorese mostraram que em uma fazenda de Campo Novo do Parecis (MT), com duas plataformas adaptadas definitivamente para o gergelim, as perdas caíram para entre 15 e 13%.

Outra característica de pós-colheita analisada pelos pesquisadores em Mato Grosso foi o índice de germinação do gergelim, uma vez que o consumo de brotos é uma das destinações do produto. Os resultados mostraram que os materiais colhidos manualmente tiveram índice de germinação superior a 89%. Os colhidos de forma mecânica apresentaram germinação máxima de 86%. Como muitos produtores salvam a própria semente, a menor taxa de germinação também resulta na necessidade de uso de mais sementes na hora de fazer a semeadura no ano seguinte.

Novos mercados para o gergelim brasileiro estão sendo abertos, com potencial de crescimento. O país já exporta para países como Índia e México. Somente para os indianos foram US$ 17 milhões de exportação do produto no ano passado. 

Para atender a demanda dos produtores de gergelim, a equipe de melhoramento da Embrapa Algodão (PB) vem desenvolvendo cultivares adaptadas às diferentes condições edafoclimáticas do Cerrado e potenciais regiões produtoras, com tolerância às principais doenças e pragas, teor de óleo acima de 50% e rendimento médio de grãos superior a 1.500 quilos por hectare. A Empresa já lançou oito cultivares que, juntas, ocupam hoje 43 mil hectares, o que representa 25% da área cultivada com gergelim no País.
 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.