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De quem são os dados colhidos no campo?

Informações vão para empresas que podem – e tem grande interesse – em utilizá-los


A agricultura digital é uma realidade consolidada e um caminho sem volta: cada vez mais o agricultor vai ver aplicativos, escâneres, monitores de rendimento, drones, equipamentos de precisão e outras ferramentas para a leitura e utilização do Big Data. A grande pergunta que surge é: de quem são todos esses dados colhidos no campo?

A resposta mais óbvia seria apontar que as informações sobre uma lavoura dizem respeito apenas ao proprietário, podendo ser classificada, inclusive, como “estratégica”. A questão, porém, não é tão pacífica pelo fato de que esses dados estão sendo colhidos e armazenados por empresas que podem – e tem grande interesse – em utilizar essa informação.

O dilema é semelhante aos dados de navegação na internet que a todo segundo são coletados pelos mecanismos de buscas, navegadores, aplicativos, redes sociais, sites de comércio digital e assim por diante. Na web, porém, o debate já está muito mais avançado e as políticas de privacidade parecem bem mais estabelecidas do que no campo, onde recém agora iniciam os primeiros movimentos de regulação.

Desde a internet comum, passando pelos softwares mobile, e chegando na tecnologia embarcada nas máquinas agrícolas, as informações colhidas junto ao trabalho na lavoura é preciosa para as empresas que podem acessá-las e transformá-las em mais soluções. Não por acaso gigantes como Monsanto, que adquiriu a plataforma de pronósticos climáticos The Climate Corporation, e Bayer, que promove constantes concursos de startups, direcionam grande parte dos seus investimentos nesse sentido.

O próprio CTO (Diretor-Chefe de Tecnologia, na sigla em inglês) da Monsanto, Robert T. Fraley, já chegou a propor aos acionistas o Big Data como uma nova visão corporativa: “Nós nos transformamos de uma indústria química em uma empresa de biotecnologia, e em seguida em uma empresa de sementes. Agora, estamos nos transformando novamente”. Segundo ele, a empresa já se reuniu com cerca de 200 startups de tecnologia nos últimos meses e identificou potenciais alvos de aquisição – e segue buscando serviços, softwares e ferramentas de hardware que utilizem dados para ajudar os agricultores a aumentar os seus rendimentos.

O fato novo no campo é que essa é a primeira vez na história da agricultura que a maioria da informação gerada pela atividade vai parar fora do campo, ou na “nuvem”. Não são poucos os questionamentos sobre a privacidade, a segurança e a propriedade sobre os dados gerados. 

Há quatro anos o magnata da computação Bill Gates propôs que toda a informação da agricultura fosse pública, ou “open data”. Por outro lado, toda a coleta e o processamento dessa informação não são gratuitos, e os servidores que abrigam essa massa de dados pertencem a alguém.

Um exemplo desse dilema ético é a Agrozone, uma startup argentina que criou um sistema de monitoramento de doenças, pragas e plantas daninhas através do celular. O aplicativo é gratuito para o produtor, mas a empresa ganha dinheiro vendendo a informação que coleta para o resto da cadeia produtiva. E agora?

“As novas gerações estão rompendo o paradigma da concorrência em direção a uma economia colaborativa”, explica o fundador da startup Fernando Derossi. Segundo ele o manejo desses dados é transparente e desde o princípio já é deixado claro como serão usados, ou seja para o “proveito de todos”.

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