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Debate sobre glifosato está apenas no início, diz especialista

Proibição de agrotóxico afetaria significativamente produção de soja no país


Em fevereiro deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concluiu a reavaliação toxicológica do glifosato, agrotóxico mais utilizado no Brasil e que estava em reavaliação pelo órgão desde 2008.  A Anvisa liberou o herbicida e abriu consulta pública por um período de 90 dias. A proibição de agrotóxico afetaria significativamente produção de soja no país.

Segundo a análise da agência, o herbicida pode continuar a ser comercializado já que não foram encontradas evidências que o relacionem com o surgimento de doenças, sobretudo, de origem cancerígena. Para chegar nesses resultados, a agência informou que foram analisados estudos científicos, dados de monitoramento em água e de intoxicações, além de relatórios internacionais e estudos de empresas que registraram a substância. No entanto, apesar do parecer da agência, a pauta ainda não foi concluída e passará por consulta pública por um período de 90 dias, o que também gera mais dúvidas sobre os efeitos colaterais da substância.

Para Grace Jenske, engenheira química e coordenadora técnica do Freitag Laboratórios, ainda não há um consenso internacional sobre os riscos do glifosato, embora o mesmo seja apontado pela própria Agência Internacional de Pesquisa do Câncer, da Organização Mundial da Saúde (OMS), como um potencial cancerígeno. “Existem estudos sobre o glifosato em sua forma pura, que indicam que ele provavelmente não causa danos à saúde, como existem outros que levam em consideração as interações moleculares do glifosato com ingredientes inertes, esses já apontam que a mistura desses compostos podem ampliar os efeitos tóxicos sobre células humanas”, explica. 

Segundo a especialista do Freitag Laboratórios, o debate sobre os riscos do produto está apenas no começo e muitas pesquisas ainda devem surgir nos próximos anos. No entanto, acredita-se que os últimos acontecimentos apontam para uma possível normatização. “É o início do processo para regulamentar a utilização desse agrotóxico no país. Como ainda não se tem um consenso sobre os seus efeitos na saúde humana, a Anvisa optou por estabelecer alguns limites para minimizar possíveis impactos ainda desconhecidos”, complementa Grace sobre as novas propostas da agência para comercialização da substância.

Único herbicida registrado para aplicação em soja geneticamente modificada, o glifosato é utilizado no país desde o fim da década de 70. Porém, recentemente vem passando por diversas reavaliações de órgãos ambientais e de saúde para comprovar seus reais efeitos. Um estudo recente, por exemplo,  realizado por pesquisadores da Universidade de Washington, concluiu que a substância aumenta consideravelmente o risco de linfoma não-Hodgkin (NHL), um câncer que tem origem nas células do sistema linfático. O relatório analisou todos os últimos casos repercutidos sobre o impacto do glifosato em humanos.

De acordo com a engenheira química, da mesma forma que não há um consenso sobre os impactos do glifosato, também não há conhecimento de outros pesticidas capazes de substituí-lo. Para Grace, as alternativas existentes até o momento não são suficientemente viáveis. Uma delas é a grade, uma técnica da agricultura que caiu em desuso nos anos 80 por estar diretamente associada a erosão do solo. Já a respeito dos herbicidas alternativos, diz que esses requerem aplicações em maior quantidade, consumindo maiores volumes de água e tornando o custo e o tempo do tratamento superiores aos gastos com o glifosato.

A coordenadora técnica do Freitag Laboratórios ressalta ainda que a decisão final sobre o produto terá grande impacto para os produtores de soja. “O Brasil é o segundo maior produtor do grão no mundo e estima-se que 85% da soja plantada no país é geneticamente modificada para ser resistente ao glifosato. Com a proibição do agrotóxico, pode-se esperar uma queda de produtividade por hectares em decorrência do consumo de nutrientes do solo por outras culturas indesejadas, principalmente as ervas daninhas”, garante.

 

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