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Dinheiro no banco, mas longe da lavoura

Acúmulo de dívidas e falta de garantias podem complicar acesso do produtor ao crédito


A divulgação do Plano Agrícola e Pecuário 2009/2010, prevista para a próxima segunda-feira em Londrina, na presença do Presidente Lula, está sendo aguardada com expectativas e reservas pelo setor no Paraná. A maior preocupação é em relação às dificuldades que os produtores rurais deverão enfrentar para obter crédito. Segundo entidades de classes, o governo federal precisa resolver essa questão do crédito rapidamente senão a produção poderá ser reduzida. Está previsto a liberação de R$ 108 bilhões, sendo R$ 93 bilhões para financiar o agronegócio e R$ 15 bilhões para a agricultura familiar.

Segundo Pedro Loyola, economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), normalmente o produtor não consegue acesso ao crédito por conta do acúmulo de dívidas e fica com o limite tomado. ''Isso deve se repetir esse ano'', lamenta. Quanto à inadimplência, Loyola observa que seria interessante o setor contar com um fundo agropecuário para minimizar os riscos do ponto de vista do credor. ''Para isso, é preciso um aporte do governo. A Faep e a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) têm pleiteado a medida'', reforça.

O economista ainda aponta a necessidade de desburocratizar o acesso ao crédito e criar mecanismos para que o produtor não dependa de decisões do governo federal, no que diz respeito a renegociação de dívidas, todos os anos. Ele se refere, por exemplo, à lei 11.775/2008, que instituiu medidas de estímulos à liquidação ou regularização de dívidas originárias de operações e crédito rural e de crédito fundiário. O seguro rural, na opinião do economista, também precisa ser aperfeiçoado rapidamente.

Quanto ao recurso previsto para a próxima safra, Loyola comenta que o volume deve ser o necessário - levando em conta a questão da dificuldade de acesso ao crédito - porque na safra atual, em todo o País, foram usados apenas 75%, dos R$ 78 bilhões liberados. Na agricultura familiar o cenário foi o mesmo: dos R$ 13 bilhões liberados, apenas R$ 8 bilhões foram tomados pelos agricultores, conforme o economista. Há expectativa também quanto às taxas de juros que serão praticadas. A Faep acredita que os juros possam ficar abaixo de 6% ao ano. Na safra 2008/2009 as taxas ficaram em 6,75% ao ano, em média.

No que se refere à produção da próxima safra, Loyola observa que se a dificuldade de obtenção de crédito se confirmar, o volume produzido poderá ser reduzido. ''A gente sabe que os produtores sempre dão um jeitinho de produzir mesmo sem acesso ao crédito. Porém acabam investindo pouco em tecnologia, o que reflete na produtividade. Mas não há como mensurar isso'', pondera ele, reforçando que ainda existem questões como mercado e clima que também refletem na produção.

As perdas na safra atual, provocadas principalmente pela estiagem, também podem prejudicar a produção futura. Conforme o economista, o produtor precisa pagar o que investiu, mas como não obteve muitos lucros, pode encontrar dificuldade para dar início à safra. Segundo a Faep, o volume produzido na safra 2008/2009 foi de 26 milhões de toneladas. Na safra 2007/2008 o volume foi de 32 milhões de toneladas de grãos. A maior quebra foi na produção do milho, em que foram colhidas 6,2 milhões de toneladas, 35% a menos que na safra anterior.

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