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Duas forças juntas

Indústria dá sinais mais consistentes de que vai se somar à agricultura como motor da recuperação econômica brasileira


A produção industrial começa a reagir mais fortemente, ajudando o setor agropecuário na recuperação da economia brasileira. Na indústria, o volume produzido em maio cresceu mais do que o esperado. Conforme economistas ouvidos pelo Correio, a tendência é de manutenção dessa trajetória ascendente até o fim do ano. No campo, o impacto da crise internacional já está quase totalmente absorvido. O primeiro indicador a sair do atoleiro foi o emprego rural, que vem aumentando mês a mês desde fevereiro. Outros dois dados importantes são o reaquecimento do mercado de terras e a expectativa de que os produtores não vão reduzir a área plantada na próxima safra.

Pela quinta vez seguida, a produção industrial cresceu em relação ao mês anterior. Em maio, a expansão foi de 1,3%, enquanto os analistas projetavam 0,5% - destaque para os bens de consumo duráveis (3,8%). Das 27 categorias pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 20 registraram alta, em especial o segmento farmacêutico (9,7%), automóveis (2%) e metalurgia básica (3,1%). Em comparação com o ano passado, os números ficam todos negativos. O volume produzido diminuiu 11,3% sobre maio de 2008. A contração foi de 13,9% no acumulado no ano e de 5,1% em 12 meses. O recuo sobre os cinco primeiros meses de 2008 atingiu 24 atividades e 63 dos 76 subsetores.

A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria, acredita que a alta na produção vai continuar "razoavelmente forte" nos próximos meses. "O consumo voltou a crescer, a confiança dos consumidores e empresários está se recuperando, o crédito está retornando e a redução do IPI ajuda", diz. Os pontos negativos são a demanda externa, que continua fraca e afeta as exportações, e a paralisação dos investimentos. Em um mau sinal, a produção de bens de capital (equipamentos) cresceu só 0,7% no mês e acumula retração de 22,7% em relação a 2008.

Douglas Uemura, economista da LCA Consultores, afirma que a retomada progressiva não evitará a queda da produção em todo o ano, mas acredita numa diminuição menos pronunciada (-3,5%). O especialista prevê uma expansão econômica de 0,6% em 2009. "O consumo e a produção industrial terão uma retomada mais sustentada no segundo semestre", explica. Nos bens de capital, porém, a produção caiu 31,4% de setembro a março, aumentando só 3% até maio. "Isso limita o crescimento. Ainda mais porque a utilização da capacidade instalada está em 79%. Ou seja, a ociosidade nas linhas produtivas ainda é muito grande, o que atrasa novos investimentos", diz Uemura. O pico histórico do indicador industrial se deu em setembro de 2008, com 83,4%.

Empregos

Exatamente nesse período, os agricultores estavam semeando as lavouras - dando início ao plantio da safra encerrada em junho passado. Com o estouro da bolha imobiliária americana, as preocupações em relação ao futuro aumentaram, mas a safra correu em ritmo normal. "A produtividade caiu, mas foi por causa de fatores climáticos", justifica Airton Camargo, superintendente de informações do agronegócio da COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Estiagens e excessos de chuvas em regiões produtoras tradicionais derrubaram em 10 milhões de toneladas a colheita atual, finalizada em 134 milhões de toneladas.

Na avaliação do analista da CONAB, apesar das más notícias que mobilizaram os mercados financeiros, o produtor não parou de plantar nem descuidou da fazenda, o que dá ao campo boas condições de sustentação. "O pessoal não ganhou aquilo que esperava ganhar porque os preços oscilaram bastante, mas ninguém reduziu a produção", completa. Camargo alerta, no entanto, que as margens de lucro estão apertadas e isso poderá trazer alguma dificuldade no médio prazo para o agronegócio.

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) demonstram que, no acumulado de 2009, o saldo de empregos está no azul. Entre admissões e dispensas, há 71,7 mil postos criados. O indicador revela que, mesmo em meio a incertezas, o homem do campo vislumbra dias melhores e prefere contratar a demitir. Ainda que o segmento rural enfrente problemas localizados, como no setor sucroalcooleiro, de carnes e café, a perspectiva geral é de fôlego em 2010.

Terras

Os investidores tentam se antecipar. Depois de quase um ano estagnado, o mercado de terras rurais voltou a empolgar brasileiros e estrangeiros. A alta no preço das commodities agrícolas teve grande responsabilidade sobre essa retomada. Relatórios da consultoria AgraFNP apontam que, em 12 meses, a valorização média das terras no Brasil avançou 2,5% (em termos nominais). O interesse dos compradores está nos imóveis onde a crise econômica desvalorizou terras antes ocupadas por cana de açúcar e pastagens.

Edilson Guimarães, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, diz que as turbulências que sacudiram os mercados preocuparam os produtores brasileiros. De início, as previsões foram as piores possíveis. "Mas percebemos que o baque não foi tão forte assim. As medidas tomadas no campo ajudaram bastante, o que explica a recuperação", completa. Segundo ele, os preços agrícolas registraram alguma recomposição ao longo do primeiro semestre, o que também ajuda o agricultor a se programar melhor para o próximo período.

O consumo voltou a crescer, a confiança dos consumidores e empresários está se recuperando, o crédito está retornando e a redução do IPI determinada pelo governo ajuda.

Marcela Prada, economista da Tendências Consultoria

Crise não dá trégua aos ricos

Os efeitos negativos da crise não arrefecem nos mais importantes blocos econômicos, indicando que as consequências da desaleração mundial persistirão antes de os países desenvolvidos começarem a ensaiar uma recuperação. Nos Estados Unidos, as demissões em massa continuam; na Europa, o Banco Central tenta incentivar investimentos; e no Japão a economia está no fundo do poço.

Em junho, os EUA perderam 476 mil empregos, levando a taxa de desemprego a 9,5%. O aumento, após dois meses de baixa, é mais forte do que o previsto. Um alento foram os pedidos feitos à indústria americana, que aumentaram em maio pelo segundo mês seguido.

Na Eurozona, formada por 16 países, o desemprego também voltou a subir em maio e atingiu o maior nível em uma década, 9,5%. Segundo as estimativas oficiais, 15 milhões estavam sem trabalho em maio. A maior taxa foi registrada na Espanha, 18,7%. Na expectativa de incentivar investimentos, o Banco Central Europeu (BCE) deixou sua taxa básica de juros sem alterações em 1%. A taxa, que determina as condições de crédito nos 16 países, se mantém, assim, no nível mais baixo de sua história.

No Japão, os sinais são de que o nível de atividade da economia está no fundo do poço. Nessa situação, o consolo é que o novo ministro de Política Econômica, Yoshimasa Hayashi, avaliou que o Japão já passou pelo pior momento da recessão.

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