Edição gênica acelera domesticação de plantas
“As ferramentas de edição gênica são recentes"
“As ferramentas de edição gênica são recentes" - Foto: Pixabay
O avanço das ferramentas de edição gênica tem acelerado processos que, ao longo da história, levaram séculos para transformar espécies selvagens em culturas agrícolas produtivas. O tema é analisado por Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo e membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica.
Tradicionalmente, a domesticação ocorreu por seleção e cruzamentos, com aprimoramentos graduais via melhoramento genético clássico. Hoje, técnicas como o CRISPR-Cas9 permitem edições precisas no genoma, direcionando características de interesse de forma mais rápida e eficiente. Um exemplo é o trabalho com Oryza alta, espécie de arroz selvagem nativa das Américas, presente no Brasil e utilizada como fonte genética no melhoramento do arroz cultivado.
Apesar de produzir grãos comestíveis e apresentar resistência a pragas, doenças, salinidade e seca, a espécie não é cultivada comercialmente porque perde as sementes na maturação. Com o sequenciamento e a edição de genes associados a características como tamanho do grão, diâmetro do caule e debulha, pesquisadores buscam torná-la apta ao cultivo. A estratégia, conhecida como domesticação de novo, pode ampliar a resiliência do abastecimento alimentar diante de estresses climáticos.
“As ferramentas de edição gênica são recentes, e muitas inovações virão no futuro próximo, tornando-as ainda mais potentes e precisas. Além dos demais benefícios que podem ser obtidos com a sua aplicação, a domesticação de espécies selvagens, em benefício da sociedade, é um exemplo didático do que as inovações tecnológicas podem propiciar”, conclui.