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Em rumo a novas tensões nos mercados mundiais do arroz

De acordo com as últimas estimativas da FAO, a produção mundial de arroz em 2021 aumentou 1,7% para 791,4 Mt (525,5 Mt base beneficiado), contra 778,6 Mt em 2020


Foto: Pixabay

Em agosto, os preços mundiais do arroz diminuíram novamente em média 1,5%, influenciados principalmente pela queda dos preços vietnamitas e paquistaneses. Em contraste, os preços tailandeses se fortaleceram em 2% graças à recuperação do bath em relação ao dólar. A demanda de importação foi geralmente moderada, exceto em Bangladesh, onde as necessidades de importação estão aumentando para suprir estoques e mitigar as pressões inflacionárias nos mercados domésticos.

No final de agosto, o mercado mundial estava sob fricções, que foi agravado no início de setembro pelo anúncio da Índia de proibir as exportações de arroz quebrado, que representam 20% das exportações indianas de arroz, e de aplicar um imposto de 20% sobre todas as categorias de arroz, exceto arroz parboilizado e Basmati. Estas medidas têm como objetivo reduzir a pressão sobre os preços domésticos. No passado, tais restrições tiveram um forte impacto sobre os preços mundiais, como durante o primeiro semestre de 2008. Entretanto, o contexto atual é muito diferente. Mais de três quartos das exportações mundiais previstas em 2022 já foram realizadas. Além disso, estamos entrando no período de colheita principal na Ásia, que chegara progressivamente no mercado até meados de 2023. Isto deveria relaxar a pressão sobre os suprimentos com aumentos relativamente moderados nos preços mundiais nos próximos meses.

Além disso, não tem certeza que a Índia mantenha as medidas anunciadas devido à pressão do setor exportador indiano e dos países importadores que, em um contexto já inflacionário, estão pouco dispostos em pagar uma sobretaxa de 20% sobre o arroz indiano. Meados de setembro, os mercados reagiram ao anúncio da Índia com aumentos de 3% em poucos dias, favorecendo os exportadores tailandeses e vietnamitas que têm ainda ampla oferta de exportação graças ao aumento da produção.

Em agosto, o índice OSIRIZ/InfoRice (IPO) diminuiu 2,6 pontos para 189,4 pontos (base 100=janeiro de 2000), contra 192 pontos em julho. Meados de setembro, o índice IPO aumentou quase 10 pontos para 198 pontos. 

Produção mundial

De acordo com as últimas estimativas da FAO, a produção mundial de arroz em 2021 aumentou 1,7% para 791,4 Mt (525,5 Mt base beneficiado), contra 778,6 Mt em 2020. Na Ásia, a produção melhorou 2%, graças principalmente ao aumento de 4% na Índia onde foi alcançado um volume recorde de 192 Mt (127,4 Mt base beneficiado). Na China, a produção também melhorou, mas apenas 0,4%. Na Tailândia, as colheitas aumentaram significativamente em 10%. Em contraste, a produção nos Estados Unidos caiu 15% em 2021, após a redução da área de arroz, e voltando a cair novamente 5% em 2022. No Mercosul, após o
aumento em 2021, a produção caiu 8% em 2022, retornando ao seu nível de 2020. Na África subsaariana, a produção de arroz foi novamente perturbada pelas más condições climáticas, especialmente na África Ocidental.

Em 2022, as previsões de produção mundial foram reduzidas devido às más condições climáticas no sul da Ásia, especialmente na Índia e em Bangladesh. A produção mundial poderia cair 2,1% para 774,8 Mt (515,5 Mt base beneficiado). Espera-se também um declínio da produção na China e no Paquistão.

Comércio e estoques mundiais

Em 2021, o comércio mundial do arroz aumentou expressivamente em 13% para 51,5 Mt contra 45,6 Mt em 2020. Este é o maior aumento desde 2017. As necessidades de importação aumentaram 10% no sul da Ásia, especialmente com o retorno de Bangladesh ao mercado de importação. Na China, as compras externas aumentaram em 42%. A África subsaariana, também tive um forte crescimento das importações, especialmente na Nigéria com a reabertura de suas fronteiras terrestres no final de 2020. Em 2021, a Índia atingiu um nível recorde de exportações com 21,4 Mt, já 48% maior ao seu recorde anterior em 2020 e respondendo por 42% do comércio mundial.

A Tailândia ficou novamente em terceiro lugar, atrás do Vietnã, apesar de um aumento significativo nas vendas externas durante o segundo semestre de 2021. Em 2022, as previsões indicam um novo aumento no comércio mundial de 5,7% para 54,4 MT. A Índia, apesar dos anúncios de redução das exportações durante o último trimestre do ano, manterá sua liderança mundial com uma previsão de 20 MT em 2022, enquanto a Tailândia poderá recuperar o segundo lugar com 7,5 MT, contra 6,5 MT no Vietnã.

Os estoques mundiais de arroz no final de 2021 aumentaram em 3,1% para 192,2 Mt, contra 186,4 Mt em 2020. Isto representa 38% das  necessidades globais e está acima da média dos últimos cinco anos. Este aumento deve-se principalmente ao aumento dos estoques indianos graças às boas colheitas em 2021. Por outro lado, os estoques chineses marcaram uma queda de 0,5%, voltando a cair novamente em 2022. No entanto, as reservas chinesas permanecem expressivas, equivalentes a 70% do consumo anual e 50% dos estoques mundiais.

Nos principais países exportadores, os estoques aumentaram 5% em 2020/21 para 55 Mt, equivalentes a 30% dos estoques mundiais. Em 2022, espera-se que os estoques mundiais aumentem novamente em 2,3% para 196,7 Mt. Em contraste, os estoques mundiais poderiam cair 3% em 2023 devido à redução prevista na produção mundial em 2022/2023.

Na Índia, os preços do arroz permaneceram estáveis, apesar da forte demanda de Bangladesh e das perspectivas de redução da produção de arroz. Embora da oferta abundante, as autoridades indianas anunciaram a proibição das exportações de arroz quebrado e impõem uma taxa de exportação de 20% sobre outras categorias de arroz, exceto o arroz Basmati e o arroz parboilizado, o que poderia incitar alguns compradores a preferir este último. Após este anúncio, os mercados asiáticos reagiram com um aumento médio de 3% em poucos dias.

Se estas medidas forem mantidas, os preços mundiais deveriam permanecer firmes nos próximos meses, apesar da chegada gradual das colheitas principais na Ásia. Em agosto, o arroz indiano 5% marcou $ 344/t Fob, estável em relação a julho. O indiano 25% também ficou estável em $ 330. Meados de setembro, os preços estavam subindo consideravelmente.

Na Tailândia, os preços se fortaleceram em 2%, devido principalmente à recuperação do bath em relação ao dólar. O mercado de exportação estive calmo, mas as perspectivas são promissoras, com exportações acumuladas já 57% maiores em relação ao ano. As autoridades tailandesas esperam exportar entre 7,5 e 8 Mt em 2022, recuperando assim o segundo lugar no mundo à frente do Vietnã. O preço do arroz Tai 100%B atingiu $ 425, contra $ 418 em julho. O arroz parboilizado subiu para $ 424, contra $ 420. O quebrado A1 Super caiu para $ 365, contra $ 394. Meados de setembro, os preços estavam firmes, estimulados pela demanda do Oriente Médio e sobretudo após o anúncio das restrições à exportação na Índia.

No Vietnã, os preços de exportação caíram significativamente em 5% devido em grande parte à mitigação na demanda das Filipinas e da China, seus dois principais mercados. O Vietnã também sofre com a forte concorrência do Camboja, especialmente no mercado chinês. Após o anúncio das restrições às exportações indianas, o mercado de exportação vietnamita começou a se recuperar com o retorno dos importadores. Espera-se também que as Filipinas retomem novos contratos. Por outro lado, as autoridades vietnamitas continuam sua política concentrada na qualidade do arroz, favorecendo os mercados mais exigentes do mundo em termos de padrões sanitários e organolépticos (Estados Unidos, União Europeia e Japão). O arroz aromático e glutinoso representa já quase 60% das exportações vietnamitas.

O Viet 5% foi negociado a $ 396, contra $ 419 em julho. O Viet 25% caiou para $ 381 contra $ 403. Meados de setembro, os preços estavam firmes. No Paquistão, os preços do arroz caíram 3-4% em um mês devido à desvalorização da rupia em relação ao dólar. Os preços já diminuíram em 10% nos últimos três meses. Em condições normais, este declínio deveria continuar em setembro com a chegada da nova safra. Entretanto, as graves inundações que afetaram grande parte do país e o anúncio de novas medidas tarifárias pela Índia estão pesando sobre os preços paquistaneses.

As exportações nos primeiros oito meses do ano marcam um avanço de 45% em relação a 2021. Em agosto, Pak 25% caiu para $ 352, contra $ 364 em julho. Meados de setembro, os preços estavam firmes em $ 375. Na China, as más condições climáticas poderiam afetar os cultivos de arroz em 2022, embora mais de 75% da safra já tenha sido colhida. A demanda de importação de arroz quebrado para ração animal tende a mitigar-se após as medidas anunciadas pela Índia e as enchentes no Paquistão, seus dois principais fornecedores. Atualmente, a China está se voltando para o Vietnã para importar arroz quebrado, onde os estoques ainda são abundantes.

As necessidades de importação em 2022, em todos os tipos de arroz, poderiam chegar a 5,7 Mt em 2022. As exportações devem permanecer estáveis em 2,2 Mt. Nos Estados Unidos, os preços do arroz aumentaram em 1% em um mercado lento. Os novos suprimentos estão chegando ao mercado, mas serão menores após do novo declínio da produção em 2022. O preço indicativo do arroz Long Grain 2/4 subiu para $ 679/t contra $ 674 em julho. Meados de setembro, o preço estava mais firme em $ 685. Na Bolsa de Chicago, os preços futuros do arroz paddy subiram 3%, em média $ 379/t, contra $ 368 em julho.

Meados de setembro, os preços ainda estavam firmes em $ 390. No Mercosul, os preços de exportação caíram 2% em um mercado fraco. No final de agosto, os preços começaram a se fortalecer graças a uma recuperação nas vendas externas. No Brasil, as exportações aumentaram significativamente, atingindo 185.000 t (base beneficiado) contra 145.000 t em julho, já um avanço de 70% em relação a 2021. O preço indicativo do arroz paddy brasileiro aumentou 4,5% para $ 297/t, contra $ 285 em julho. Meados de setembro, o preço estava em queda para $ 293.

Na África subsaariana, as safras do primeiro ciclo já começaram a chegar, mas a oferta local ainda é limitada enquanto a demanda interna permanece forte. Portanto, os preços estão altos nos principais mercados. Embora, os estoques de arroz importado são relativamente abundantes, o que deveria mitigar as tensões nos mercados consumidores. Os importadores africanos estão atentos aos impactos da nova política de exportação da Índia, particularmente no que se refere ao arroz quebrado, analisando também ofertas alternativas de outros exportadores asiáticos.

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