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Encontro de Piscicultores em Passos (MG) vai mostrar vacina para a tilápia

Por um período de seis meses, a Emater e a Unesp irão observar a eficácia da vacina em duas unidades


Evento, que será realizado no próximo dia 26, é direcionado a agricultores que se dedicam à atividade, alunos de cursos agrários e técnicos do segmento

A regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) de Passos, no Sul de Minas, promoverá, no dia 26 de abril, um encontro no município sobre piscicultura. O evento, programado para ocorrer durante todo o dia, será direcionado a agricultores que se dedicam à atividade, alunos de cursos agrários e técnicos do segmento. O objetivo é atualizar o conhecimento na área, abordando temas relativos a manejo, nutrição e sanidade do principal peixe de água doce criado na região, a tilápia.

Um destaque será a apresentação de vacina inédita para prevenir doenças na espécie. O coordenador técnico regional da Emater-MG de Passos, Frederico Ozanam de Souza, informa que o aumento da atividade e o uso indiscriminado de antibiótico na ração de peixe vem comprometendo a saúde da espécie na região e por isso o imunizante vem em boa hora.

Segundo Ozanam, para testar a eficácia dessa vacina, já aprovada pelo Ministério da Saúde, a regional firmou parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus Jaboticabal (SP). Por um período de seis meses, a empresa pública mineira e a instituição acadêmica irão observar a eficácia da vacina em duas unidades demonstrativas, que serão montadas nos municípios de Cássia e Carmo do Rio Claro, também no Sul do Estado. “Estamos fazendo contatos com produtores para participarem desta pesquisa, pois precisamos de área e estrutura. A Unesp vai disponibilizar alunos para acompanharem o trabalho, e o laboratório fabricante da vacina vai ceder os imunizantes”, adianta o coordenador da Emater-MG.

“A ocorrência de doenças é um dos principais problemas relacionados à criação de tilápias no país”, afirma a professora de pós-graduação em Aquicultura do Centro de Aquicultura da Unesp (Caunesp), Fabiana Pilarski. À frente da parceria com a Emater-MG, a coordenadora do Laboratório de Patologia de Organismo Aquáticos (Lapoa) do Caunesp, a professora alerta que a bactéria Streptococcus agalactiae é o principal agente de mortalidade de peixes de água doce, sendo responsável por grandes perdas econômicas na produção. O organismo patogênico pode atingir 90% da criação na idade pré-mercado. “Dentre as lesões da bactéria incluem-se redução do crescimento, coloração escura, exoftalmia e meningoencefalite”, enumera Fabiana Pilarski.

Segundo a especialista, o uso de vacinas para enfermidades bacterianas em peixes já é uma realidade em vários países do mundo, principalmente no chile, Noruega e Estados Unidos. A que será testada serve para prevenção de Streptococcus agalactiae Biotipo II e será administrada por via intraperitoneal, com dose única em peixes que pesam mais de 15 gramas. “A proteção ocorre aproximadamente 28 dias após a vacinação e possui duração mínima de 30 semanas”, explica Fabiana. Ainda de acordo com a especialista, o papel do Centro de Aquicultura da Unesp será o de acompanhar o processo de vacinação, avaliando mensalmente a sobrevivência dos peixes vacinados. Para tanto, haverá controle de ganho de peso e sinais clínicos da estreptococose. O estudo, segundo a professora, contará com apoio de alunos de mestrado e doutorado do Lapoa.

O piscicultor de tilápia do município de Cássia, Wilson Hiluany, saiu na frente e resolveu avaliar a nova vacina por conta própria. “Estou fazendo o teste há um mês. Quero ver se vale a pena. Prefiro prevenir, pois já compro os alevinos de fora”, ressalta. Hiluany, que está na atividade há 20 anos, garante que a criação de peixes é um negócio lucrativo e, portanto, vale o esforço com a aplicação da vacina, que é dada individualmente em peixes de até 50 gramas. “Faço isso durante a fase de classificação de tamanho dos peixes”, explica, esclarecendo que esta é uma operação de rotina no manejo de peixes. O produtor, que também trabalha com gado de corte e lavoura de café, tem 75 tanques redes para criação de tilápias no Reservatório Mascarenhas de Moraes, antigo Peixoto, em Cássia. Com produção estimada em 48 toneladas por ano, ele comercializa o quantitativo nos municípios de Cássia e Passos.

De acordo o coordenador regional da Emater-MG de Passos, Frederico Ozanam, existem hoje, na região do médio Rio Grande, que abrange 30 municípios em torno de Passos, cerca de mil pescadores artesanais e 350 piscicultores com produção próxima de 20 mil toneladas por ano. O número, segundo Ozanam, é considerado abaixo do potencial local. “Temos dois reservatórios, o de Furnas e o de Peixoto, com área de 1.720 quilômetros quadrados, e mais inúmeros açudes e tanques escavados, mas alguns problemas dificultam o crescimento da atividade”, diz. Entre as dificuldades, Ozanam aponta “a burocracia da legislação ambiental, que encarece o processo de regularização ambiental, e o escoamento da produção”. No entanto, ele pondera que este último deve melhorar com a implantação de uma unidade de processamento de peixe em Cássia e outra em Carmo do Rio Claro.

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