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Enfezamento do milho é tema de trabalho

Trabalho foi realizado no milho safra 20/21 com o objetivo de avaliar a presença visual dos sintomas típicos de enfezamentos


Foto: Divulgação

Em 2019 as lavouras de milho na região extremo oeste paranaense começaram a apresentar problemas fitossanitários que eram desconhecidos pela assistência técnica agronômica local. Neste mesmo ano, pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo estiveram presente em nossa região e, após o diagnóstico a campo e análises laboratoriais, identificaram que as plantas de milho estavam portando uma doença bacteriana conhecida como enfezamentos da cultura do milho.

Em 2020 devido as restrições impostas pela COVID 19 não conseguimos evoluir nos estudos do problema. Neste ano de 2021 houve a formação de um Grupo de Trabalho (GT) dentro do Conselho de Sanidade Agropecuário (CSA) de Marechal Cândido Rondon, Conselho que congrega todas as instituições públicas e privadas ligadas ao agronegócio deste Município, para agirmos em conjunto na busca de maiores informações sobre os enfezamentos.

A Embrapa recomenda diversas medidas de controle dos enfezamentos que devem ser utilizadas de forma integrada para maior efetividade do controle. Entre  elas a utilização de híbridos de milho tolerantes aos enfezamentos. Assim, o trabalho foi realizado no milho safra 20/21 com o objetivo de avaliar a presença visual dos sintomas típicos de enfezamentos nas folhas e planta como um todo (incidência dos enfezamentos) e a influência na produtividade do milho. Os resultados do trabalho foram redigidos em uma linguagem que o agricultor conseguisse entender, como por exemplo, produtividade em sacas por alqueire, gráficos coloridos de fácil visualização e entendimento.

Quais foram os principais resultados observados?

Neste trabalho observamos alta correlação entre incidência dos enfezamentos e a produtividade do milho. Das amostras de folhas com sintomas de enfezamentos, 60% apresentaram resultados laboratoriais positivos para o enfezamento pálido. A incidência dos enfezamentos nas plantas de milho variou entre 7 a 82% conforme o híbrido avaliado e a produtividade oscilou entre 277 e 540 sacas de milho por alqueire. No entanto, verificamos que a maioria dos materiais avaliados obtiveram produtividade acima da considerada satisfatória (400 sc/alq) para a nossa região.

De forma responsável, não divulgamos os nomes comerciais dos híbridos, pois são resultados obtidos em apenas em uma safra e local de avaliação. Estes mesmos materiais cultivados outro local de produção, período do ano (safra ou safrinha) clima, manejo, presença ou ausência de cigarrinhas podem expressar resultados diferentes ao observado por nós. 

Esta variação do comportamento do híbrido foi observado por nós da ADAPAR em lavouras comerciais de milho safra deste ano cultivado na Regional de Toledo. Observamos que um milho considerado altamente sensível aos enfezamentos atingiu teto produtivo em um local e, em outro local, o mesmo híbrido apresentou quase todos os sintomas de enfezamentos, tais como, folhas vermelhadas/amarelas; acamamento (queda) de 50 % das plantas; multiespigamento; 25% das espigas mal formadas, ou seja, redução significativa da produtividade. Por isso é muito importante que se realizem trabalhos como estes em diversos locais para aprofundar o conhecimento sobre tolerância dos materiais aos enfezamentos, pois o tema ainda carece de muitas informações.

Os mesmos resultados observados no milho safra podem ocorrer no milho safrinha ou segunda safra?
Historicamente o milho safrinha em nossa região tem produtividade inferior quando comparado com o milho safra, portanto, os mesmos materiais cultivados na safra podem trazer resultados de produtividade diferentes quando cultivados na safrinha. No período de cultivo do milho safrinha geralmente temos temperaturas mais altas, deficit hídrico como está ocorrendo no presente momento e também maior população de cigarrinhas do milho presentes no campo. Para avaliação dos enfezamentos do milho safrinha 2021 deste ano, o GT do CSA contou com maior número de colaboradores, incluindo Agência de Defesa Agropecuária, Pesquisa Agropecuária Pública e Privada, Cooperativas, Assistência Técnica, Sindicato Rural, Secretaria de Agricultura e dos próprios agricultores que estão atuando conjuntamente. Uma grande dúvida que temos é até que fase do milho devemos controlar a cigarrinha. Por este motivo estamos realizando o monitoramento e coletas das cigarrinhas nas áreas de avaliação do milho safrinha e já foi possível observar alguns resultados. Em geral, este ano foram observadas pouca presença de cigarrinhas nas áreas comerciais. Porém, o monitoramento constante é de extrema importância porque o inseto tem elevada taxa de crescimento populacional. Observamos área com ausência de cigarrinhas em que não foi necessário a utilização de inseticidas. Teve área com presença do inseto com pequenas flutuações da população e teve área considerada como surtos e grande presença de cigarrinhas durante todo o período de monitoramento. Mas porque ocorrem áreas de ausência de cigarrinhas e áreas de surtos e grande população de cigarrinhas? Como manejar estas áreas de surtos para evitar os enfezamentos? São dúvidas e preocupação da assistência técnica e principalmente dos agricultores, pois podem ter a produtividade significativamente reduzida por danos ocasionados pelos enfezamentos e que precisamos entender o que ocorre nestas áreas para adoção de medidas eficaz de mitigação dos danos.

Nos monitoramentos também observamos que em alguns materiais não foram registrados a presença de cigarrinha durante o período de monitoramento, enquanto no material cultivado ao lado deste foi possível verificar a presença. A cigarrinha prefere algum híbrido específico? Ou determinado híbrido é mais repulsivo ao inseto? Com essas observações vamos verificar posteriormente os efeitos nas incidências e produtividade do milho.

Quais seriam as recomendações de manejo dos enfezamentos da cultura do milho?

São várias as medidas recomendadas pela Embrapa que começam antes da semeadura do milho e se estendem durante todo o ciclo da cultura:

1º) Melhorar a eficiência na colheita e transporte do milho para evitar perdas de grãos e posterior germinação do milho guacho, tiguera ou voluntário;

2º) Eliminar plantas de milho voluntário, pois elas são consideradas como multiplicador e manutenção tanto dos enfezamentos, quanto das cigarrinhas do milho durante a entre safra. Em 2020 com o apoio do setor produtivo, o CSA realizou uma Campanha local de Eliminação do Milho Voluntário a qual pretendemos realizar novamente neste ano; 

3º) Realizar a sincronia da semeadura buscando homogenizar os controles da cigarrinhas;

4º) Evitar semeadura de milho sobre milho para não formar uma ‘ponte verde’; 

5º) Realizar tratamento de sementes com inseticidas para controle da cigarrinha. Este manejo geralmente é disponibilizado industrialmente junto com a semente de milho, porém o agricultor deve consultar um profissional da agronomia caso a semente não venha tratada.

6º) Escolher híbridos de milho tolerantes aos enfezamentos. Essa informação pode ser consultada junto a um profissional da agronomia ou detentor de sementes de milho híbrido. Cabe ressaltar que esta ferramenta não pode ser considerada como estratégia única, pois a tolerância dos materiais pode ser ineficaz em caso de alta população de cigarrinhas contaminadas com os enfezamentos e o material pode se comportar como sensível ocasionando redução na produtividade; 

7º) Identificar e monitorar a cigarrinha do milho na lavoura. Item mais importante do manejo dos enfezamentos, pois tem áreas com alta presença de cigarrinhas e outras áreas próximas que não haverá presença do inseto.

8º) Após realizar o monitoramento e se necessitar o controle químico ou biológico, utilizar produtos registrados para manejo da cigarrinha conforme recomendado por um profissional da agronomia. A tomada de decisão do controle químico da cigarrinha é um desafio. Como não sabemos quantas cigarrinhas estão ou não infectadas com os enfezamentos, ainda não existe um quantitativo de cigarrinhas que pode ser tolerados na área, ou seja, a simples presença de uma cigarrinha já justificaria a aplicação do inseticida. Tal fato é preocupante principalmente em áreas de surtos onde há grande população de cigarrinhas e alta reinfestação. Nestas áreas, tendo como base o critério de controle da presença x ausência do inseto, as aplicações de inseticidas para zerar a população seriam realizadas com muita frequência, fato que pode elevar o custo de produção, perturbar o ambiente produtivo e principalmente acelerar a resistência das cigarrinhas aos poucos inseticidas cadastrados, tornando mais grave o manejo dos enfezamentos.

De forma geral, os enfezamentos da cultura do milho são problemas antigos no Brasil, porém recente aqui no Paraná. Ainda não sabemos se o problema permanecerá em nossa região ou é apenas um surto. Temos informações sobre o manejo do problema e que devem ser adotadas conjuntamente para reduzir a população de cigarrinhas e minimizar os problemas com os enfezamentos. Há algumas dúvidas sobre a biologia da cigarrinha e manejo dos enfezamentos que aos poucos estão sendo geradas informações que poderão ser utilizadas na mitigação dos problemas.

informações do Conselho de Sanidade Agropecuário de Marechal Rondon

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