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Entrevista: Luiz Pradella, vice-presidente da Febrapdp

“Já ouvimos especialistas falando em trabalhar com até 20 espécies ao mesmo tempo”


Foto: Eliza Maliszewski

O plantio direto é uma tecnologia conservacionista do solo que busca realizar o plantio sem intervenções como aração e gradagem e manter o solo sempre coberto por vegetação. Essa palhada auxilia na recuperação das condições biológicas e químicas do solo. Além disso protege do impacto direto das gotas de chuva, do escorrimento superficial, das erosões hídrica e eólica e ainda diminui a aplicação de herbicidas.

No Brasil a técnica está bem difundida mas há espaço para crescer mais. O Portal Agrolink conversou com Luiz Pradella. Ele é produtor rural, membro da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e vice-presidente da Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação (Febrapdp). Ele explica o método, como age na recuperação do solo e produtividade e os desafios para a expansão. Confira em vídeo e texto. 

Portal Agrolink: que benefícios o produtor pode ter com o plantio direto?
Luiz Pradella:
o plantio direto é a construção de uma ideia. É você mudar de um sistema convencional que foi desenvolvido pelo homem de trabalhar, literalmente contra a natureza, fazer revolvimento de solo, enfim, e produzir mais palhada sobre o solo e principalmente raízes porque quando a gente fala em plantio direto a gente lembra muito de palha, o chapéu na cabeça, mas é muito bom lembrar do que está dentro do solo. O benefício que o produtor tem é a melhoria constante do solo com raízes e por aí vai a rotação de culturas. Quanto maior o número de espécies empregadas no manejo melhor e também a vida biológica do solo que vai se beneficiar com isso e nós vamos ter a natureza trabalhando a favor da produção. Podemos dizer que é uma produção agroecológica.

Portal Agrolink: para o solo que benefícios podem ser notados falando em características químicas, físicas e biológicas?
Luiz Pradella:
na questão química a gente tinha que preparar o solo com corretivos. Falando aqui do solo do Cerrado: é um solo fraco por natureza, uma vegetação baixa que sofreu por milhões de anos queimando, quando tem combustível ele queima porque tem uma época do ano que é seca (6 meses). Os benefícios do solo após a correção e implementação de outras plantas de cobertura é que você vai estar diversificando ali e fazendo um  sequestro de carbono, em forma de matéria orgânica, o que melhora o armazenamento de água e a vida microbiana do solo. A presença de microorganismos que se vê a olho nu como é o caso de minhocas e milhões de bactérias e fungos que vão compor a vida do solo, beneficiando as raízes das plantas, reciclando nutrientes que por hora podem estar perdidos pela lixiviação e com raízes mais profundas com a utilização de gramíneas, braquiárias vão fazer a reciclagem desses nutrientes abrindo canais para as raízes das culturas seguintes como é o caso da soja e do algodão que tem um sistema radicular não muito especializado .

Portal Agrolink: como está a expansão do plantio direto para as culturas nas diferentes áreas do Brasil? Dados do IBGE apontam os estados do MT, RS, PR, MG e Matopiba são os que mais fazem plantio direto. Podemos dizer que a conscientização do produtor vem aumentando?
Luiz Pradella:
o plantio direto nos últimos anos vem tomando grandes proporções e vem melhorando muito a qualidade do plantio direto. Nós temos muitas áreas no Brasil e em outros países com semeadura direta que é uma sucessão de culturas na soja e milho e depois soja e milho novamente ou em determinados locais que o período de chuvas é mais curto às vezes a soja fica em pousio e se faz semeadura direta de soja na próxima safra. Nos últimos anos a gente vê que no plantio direto os produtores estão colocando a cultura do milheto, a cultura da braquiária, o consórcio de milho com braquiária, às vezes com panicum ou brizantha tem aumentado muito. Então o grande desafio é a gente começar a pensar em outros modelos de produção, agregando mais do que uma cultura ao processo de produção. Na cultura comercial temos a hegemonia das braquiárias mas por que não uma crotalária, um feijão  guandu, um estilosante no meio dessa cultura com as braquiárias dividindo espaço? Porque aí nós temos os benefícios das micorrizas, das bactérias e das raízes e quanto maior o número de espécies melhor. Na sucessão quando vai se fazer a planta de cobertura  como pouco de água que resta já há uma grande iniciativa de começar a misturar sorgo, milheto com braquiária, com crotalária e fazer três, quatro, cinco talvez dez espécies. Já ouvimos especialistas falando em trabalhar com até 20 espécies ao mesmo tempo e é isso que vai enriquecer cada vez mais a vida no solo pela diversidade de raízes, pela diversidade do sistema radicular de cada planta que está inserida no processo.

Portal Agrolink: o que ainda impede que mais produtores adotem o sistema em suas propriedades?
Luiz Pradella:
o insumo mais importante é o conhecimento. Muitas vezes não só em plantio direto nós não fazemos algo que é muito bom para nós  por falta de conhecimento. A gente cola as mãos e os pés contra esse conhecimento, a gente não deixa ele entrar na propriedade para começar a mudar o sistema. A busca pelo conhecimento, esse insumo importantíssimo, ele está entre as nossas duas orelhas que é o nosso cérebro, que é quem determina isso, para se fazer esse trabalho. Já são, praticamente, 50 anos do início do plantio direto no Brasil, com muitos casos de sucesso. É buscar o conhecimento e iniciar a mudança. Não existe uma receita de bolo pronta para isso. É cada um de nós produtores buscar entender o processo e criar o processo para dentro da propriedade, para dentro do talhão e às vezes para partes do talhão são necessários procedimentos diferentes . Cabe a cada um de nós a observação, melhorar o nosso entendimento  e observar o que a natureza está nos mostrando. Hoje temos muitas tecnologias  para nos ajudar nisso como fotos alta resolução, drones, satélite, enfim, a tecnologia está aí para nos ajudar como ferramenta.

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