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Época de definições para a próxima safra

Os fatores fundamentais para a definição dos preços do milho nos mercados mundiais têm contribuído pouco para o fornecimento de um suporte para os preços deste cereal


* João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte

Situação Mundial

Os fatores fundamentais para a definição dos preços do milho nos mercados mundiais têm contribuído pouco para o fornecimento de um suporte para os preços deste cereal. Os preços do petróleo vêm caindo desde meados do mês de julho, o que ameaça a rentabilidade dos empreendimentos para a produção de etanol já instalados nos Estados Unidos e aumenta a incerteza com relação àqueles em processo de análise. A quebra de bancos e corretoras diminuiu a atividade especulativa. As informações sobre a safra européia indicam a recuperação da produção e a conseqüente diminuição das necessidades de importações. A produção de milho na China se mostra suficiente para o abastecimento do mercado, que cresce fortemente, mas ainda não demonstra necessidade de importações. Na Argentina, as estimativas iniciais são de uma redução na área plantada com milho, em virtude dos preços elevados de fertilizantes e elevação das áreas com soja, cujo peso dos insumos adquiridos é menor.

Nos Estados Unidos, após a indicação de que a situação relativa à área plantada não tinha sido tão dramática como a que vinha sendo explorada, a revisão dos rendimentos não foi considerada tão drástica, embora inferior à esperada. No final, se a situação não ficou tão trágica quanto a aventada no início da safra, não existe espaço para especulações e nem para a elevação dos preços. Mesmo assim, o Departamento de Agricultura dos EUA sinaliza um preço para esta safra um pouco superior ao da safra passada. A única notícia realmente ruim é que os estoques continuam em queda, com uma redução de cerca de 35% nos estoque americanos (menos 14 milhões de toneladas) e de 9% nos estoque mundiais (menos 13 milhões de toneladas). Isto mantém aberta a porta da especulação para as próximas safras, sustentando a expectativa de manutenção do atual patamar de preços internacionais. Ficam mantidas as avaliações quanto à redução nas exportações americanas (em um quantitativo superior a 10 milhões de toneladas para cerca de 51 milhões de toneladas).

Situação Interna

No Brasil, o décimo segundo levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) praticamente confirma os resultados da safra 2007/08. Na safra de verão de milho as informações estão definidas, apenas se verificaram pequenos ajustes na produção esperada para o Nordeste, confirmando uma expectativa de produção em cerca de 40 milhões de toneladas e 9,1% acima da safra de verão do ano anterior. A safra do Nordeste é uma das maiores colhidas na região, cerca de 47% superior à safra do ano passado.

No caso da safrinha, registra-se um ajuste para baixo de cerca de 260 mil toneladas em relação ao levantamento anterior. Este acréscimo é decorrente da maior produção obtida no Centro-Oeste, com um reajuste de 300 mil toneladas em relação ao décimo primeiro levantamento.

A produção total esperada agora é de cerca de 58,6 milhões de toneladas, 14% superior à safra de 2006/07.

Uma vez que as perspectivas da safra são favoráveis, as preocupações passam para o lado da comercialização, de forma a evitar que a produção recorde obtida não seja prejudicada por uma eventual redução dos preços.

Ainda sob efeito da colheita da safrinha, os preços continuam a apresentar movimentos de baixa e, em estados como o Mato Grosso, o preço do milho foi reduzido em cerca de R$ 6 desde o início do mês de julho para R$ 11,50 na semana que terminou em 19 de setembro (um acompanhamento semanal do preço do milho pode ser encontrado no site do CIMilho – www.cnpms.embrapa.br/cimilho ). Estes movimentos de preços, em um ano de safra recorde, mostram a importância do suporte que o mercado externo pode dar à queda de preços, em safras de maior porte, como a que estamos colhendo.

Em suas previsões, a Conab reduziu a expectativa de uma exportação para cerca de 10,5 milhões de toneladas de milho. Os dados referentes às exportações de milho no mês de agosto continuam não animadores. A quantidade exportada foi inferior à do mês de julho e cerca de 1 milhão de toneladas a menos do que a de agosto de 2007. O total acumulado do ano é dois milhões de toneladas inferior ao acumulado até agosto de 2007 (isto apesar do preço em dólar estar superior ao verificado no ano passado). Nesta altura do ano, dificilmente os valores inicialmente esperados de exportação se verificarão, visto que as necessidades de nossos principais importadores do ano passado se encontram garantidas. Além disto, importadores tradicionais, como o Irã, resolveram acertar suas diferenças com os Estados Unidos e praticamente não importaram milho neste ano do Brasil.

Do lado da demanda por milho, o crescimento da produção de aves segue firme. Segundo o portal Avisite, especializado em avicultura, as exportações de aves nos oito primeiros meses do ano cresceram 17% em relação ao mesmo período de 2007 (o crescimento em valor foi de 57%, o que tem ajudado a referendar os preços mais elevados de milho). O aumento da cotação do dólar certamente irá fortalecer estas atividades e as outras relacionadas no segmento “carnes”. As exportações têm contribuído para manter a produção interna aquecida e em todas as regiões do Brasil o alojamento de pintos de corte tem aumentado, o que implica no aumento do consumo de milho. Isto indica condições muito favoráveis para o setor de aves, com reflexos no mercado interno e sinalizando um mercado firme para o resto do ano.

No caso dos bovinos, devido ao aumento no preço do gado magro (e disponibilidade) e dos grãos, espera-se um pequeno crescimento (5% em relação a 2007) ou estabilização do número de animais confinados. Como o Brasil já confina cerca de 3 milhões de animais por ano, este mercado é muito importante para a demanda de grãos no segundo semestre (pode-se estimar uma quantidade ao redor de 750 mil toneladas de milho apenas para esta finalidade).

Na área governamental, a Conab tem atuado no sentido de dar sustentação aos preços, atuando com mais sucesso, nesta época de redução dos preços em virtude da colheita da safrinha, em regiões localizadas fora das principais regiões consumidoras.

Se os preços ainda estão favoráveis (embora sem comparação com os do ano passado), a grande modificação em relação à safra passada são os custos de produção. Os preços dos fertilizantes, insumo fundamental para a produção do milho, subiram muito no último ano. Em lavouras comerciais, embora algo seja possível de ser feito na busca de um melhor gerenciamento da dose de fertilizantes utilizados (via análise de solos, melhor divisão dos talhões de produção e época e condições corretas para aplicação do nitrogênio em cobertura), os custos dos adubos podem definir a lucratividade dos plantios, mesmo que os outros custos não tenham avançado na mesma intensidade. O que pode ser feito é um melhor gerenciamento destes outros gastos procurando a melhor eficiência de seu uso, principalmente no que diz respeito à utilização da forma e época correta. A condução criteriosa dos outros componentes do sistema de produção, tais como a observação da época do plantio adequada e de operações com pouca influência nos custos, mas que se realizadas de forma adequada podem contribuir para a manutenção do potencial produtivo, é da maior importância nesta fase de elevação dos preços de fertilizantes.

Esta situação já vem afetando os plantios para a safra futura. Nos estados do Sul do Brasil os lavouras de milho já estão sendo implantadas, a começar pelas do Rio Grande do Sul. Uma equipe do CIMilho esteve neste Estado e as informações colhidas dizem respeito à uma redução de cerca de 5% na área plantada com milho. Esta decisão é baseada principalmente na elevação do custo dos fertilizantes (cerca de 105% de aumento). Como nos sistemas de produção de milho o espaço para ajustes sem redução no potencial produtivo é reduzido, agricultores com restrições financeiras optam pela soja, onde este ajuste é um pouco mais flexível. A chave está no nitrogênio, que no caso do milho é essencial, diferentemente do caso da soja.

No início de outubro será divulgada a primeira estimativa da Conab em relação à área plantada para a próxima safra e uma melhor figura estará delineada sobre o próximo ano, com reflexo ainda neste segundo semestre. As informações são do Boletim informativo do Centro de Inteligência do Milho - CI MILHO (Ano 1, Edição nº 9, setembro de 2008).

*Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo

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