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Estiagem obriga o replantio de soja em diversas regiões de MT


Há mais de 30 anos os sojicultores de Mato Grosso não eram obrigados a replantar. A instabilidade climática – causada pelo El Niño - que paira sobre as principais regiões produtoras do Estado, fez com que muitas lavouras ficassem por mais de 20 dias sem chuvas. Noventa mil hectares de soja foram replantados.

“Essa é uma atitude extrema, só replantamos quando de fato a soja morre. Além de onerar os custos de produção, a soja de hectares replantados perde em produtividade e ocupa espaço por mais tempo, prejudicando outras culturas como algodão e milho safrinha. Há um comprometimento do ciclo produtivo, pois o que colhíamos em janeiro será adiado na mesma proporção de tempo que levou para ser semeado", explica o sojicultor Antônio Sérgio Rossani.

O produtor conta que 70 hectares foram replantados. “Quinze dias após o plantio a soja morreu. A cultura não suporta quatro dias seguidos de sol quente. Os trabalhos que sempre são encerrados entre os dias 27 e 28 de novembro, ainda estão sendo executados. Faltam cerca de 20% para a conclusão do plantio”, aponta Rossani.

Outro fator que interfere na cultura são os sobre-custos que os produtores estão tendo. Mesmo sem saber mensurar o percentual de acréscimo sobre a lavoura, Rossani conta que apenas para o plantio normal da soja, os custos por hectare ficam entre US$ 230 a US$ 250.

O replantio exige novas sementes, novos produtos sobre a semente, adubos, defensivos e inseticidas. Este contratempo não estava orçado pelos sojicultores, que para o início dos trabalhos se depararam com insumos reajustados em até 87%, em função da alta do dólar, se comparados a maio deste ano.

Com relação aos aumentos dos insumos dois produtos importantíssimos na cultura da soja para solos mato-grossenses, em média aumentaram cerca de 50%. Na categoria de fertilizantes e corretivos, o superfosfato simples, era cotado em maio a R$ 300 a tonelada. Em novembro, o mesmo produto e na mesma quantidade está custando R$ 560, um aumento de 87%. Na categoria de formulados, outro componente importante para a sojicultura, em maio a tonelada custava R$ 416, atualmente custa R$ 690, ou seja, uma elevação de custos de mais de 34%.

“Esses são os reflexos dos impactos imediatos que o setor produtivo está sofrendo neste momento de custeio de safra. O cenário começou a ser desenhado em julho, com as primeiras altas da moeda norte-americana. O produtor que não se abasteceu de insumos no momento da venda da produção está pagando por produtos com valores infinitamente superiores ao pico da cotação que negociou a sua produção”, explica o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (IMEA), Amado de Oliveira.

No momento, cerca de 80% da oleaginosa está plantada. A região Norte, caracterizada pela produção do grão precoce, está com mais de 90% de sua área cultivada.

O analista de mercado de Lucra Corretora, em Cuiabá, Geraldo Ornellas, explica que mesmo sobre estiagem, muitos produtores optaram por plantar, na esperança da chegada das chuvas. “Temos uma frente fria chegando, mas as chuvas estão isoladas. Em regiões muito próximas as precipitações acontecem e logo a frente nem uma gota é registrada. De fato, o clima está preocupando produtores em Mato Grosso, a instabilidade climática atrasa a produção, compromete a produtividade e onera custos”, frisa.

Ornellas lembra que as agências internacionais apontavam há algum tempo atrás que a América Latina sofreria com o El Niño em alguma fase de desenvolvimento da lavoura, seja, no plantio, no crescimento ou na colheita.

“Mesmo com as previsões que apontam a América Latina como recordista mundial em soja para a safra 2002/03, com o Brasil produzindo 49 milhões de toneladas e a Argentina 32 milhões, um total de 81 milhões de toneladas, as consequencias do El Niño poderão deixar lastros como o acontecido nos Estados Unidos, que computou uma quebra de mais de 5 milhões de toneladas”, completa Ornellas.

Por enquanto os problemas enfrentados com a soja são contrários aos números de mercado. Alguns exportadores estão cotando a saca de 60 quilos para entrega em janeiro a R$ 36, ou US$ 9,5. Para abril, a cotação com base no porto de Paranaguá está em US$ 11,70.

“Valores bons, pois no início do ano passado o valor da saca era de US$ 7,70, e em reais estava cotada em cerca de R$ 15”, observa Ornellas.

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