Estudo avalia perigo das torres para aviação agrícola
Torres para avaliar ventos ou internet são risco para atividade
A Associação Nacional de Aviação Agrícola dos Estados Unidos (NAAA) elaborou este ano um estudo para indicar qual seria a distância mínima de segurança para instalação de torres próximo a culturas atendidas por aeronaves agrícolas.
O relatório, construído veio em resposta a uma empresa que apresentou o projeto de construção de um parque eólico no Estado da Dakota do Sul. O investidor queria colocar suas torres a um limite de pouco mais de 150 metros das lavouras vizinhas, atendidas pela aviação agrícola. A alegação de que essa seria uma distância segura foi desmontada pela NAAA, que apresentou o estudo indicando a necessidade de, no mínimo, 1,6 quilômetros (1 milha terrestre) para uma curva segura.
A estimativa foi elaborada de duas maneiras: Primeiro, a partir do cálculo do espaço que seria necessário para um Air Tractor AT-802A fazer o balão ao final de um tiro (linha de aplicação). Para isso, foi considerado o desempenho da aeronave, considerando o tempo médio de 45 segundos para um balão. Daí, voando a cerca de 70 metros por segundo, o AT-802 (que é o maior avião agrícola do mundo e voa também no Brasil) faria o retorno em pouco mais de 2,9 mil metros de curva.
O segundo cálculo para a média foi a partir de mapas de DGPSs de aeronaves agrícolas. Neste caso, o Google Earth foi usado para medir a distância necessária de um avião carregado e outra com o avião vazio, no fim da aplicação. Cheio, o avião precisou avançar quase 2,8 mil metros além a lavoura para fazer o balão. Com o avião vazio, a distância foi de quase 700 metros.
O crescimento de parques eólicos e instalação de torres de internet de banda larga em áreas rurais dos Estados Unidos tem sido tema de debates acirrados envolvendo não só o segmento aeroagrícola, mas também entidades da aviação geral. Segundo a NAAA, entre 2008 e 2018 foram 22 acidentes na aviação agrícola, resultando em nove fatalidades. Outros 18 acidentes, com 36 fatalidades, foram registrados na aviação geral, tendo a mesma causa. Isso porque o risco recai também sobre operações aeromédicas, aeronaves dos bombeiros, voos de inspeção e dutos e outras operações no interior.
No caso dos parques eólicos, o risco começa já nos primeiros estudos para implantação dos enormes cata-ventos. É que o processo começa com instalação de torres meteorológicas para conferir a viabilidade do empreendimento. Essas torres podem ter pouco mais de 15 metros, serem estreitas e ancoradas por cabos de aço – que também formam uma armadilha à parte para pilotos desavisados.
A primeira vitória do setor aeroagrícola nesse sentido veio em 2010, quando o então governador da Dakota do Sul, Mike Rounds, sancionou uma lei que obrigando que as torres de testes para implantação e parques eólicos fossem pintadas em faixas laranja e branco, nessa ordem, do topo para a base. Isso além da colocação de esferas de sinalização nos cabos de sustentação.
Em 2013, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes do país recomendou orientação para a marcação de todas as torres abaixo de 200 pés, com a criação e manutenção de um banco de dados com as coordenadas de cada uma. No ano seguinte, mais 14 Estados abraçaram a obrigatoriedade: Kansas, Dakota do Norte, Idaho, Missouri, Mississippi, Califórnia, Colorado, Montana, Nebraska, Carolina do Norte, Oklahoma, Texas, Washington e Wyoming. Ainda em 2014, uma empresa responsável por uma torre não sinalizada teve que pagar US$ 6,7 milhões de indenização para a família de um piloto morto no choque de sua aeronave contra a estrutura no meio do campo.
Em 2016, a Administração Federal de Aviação do país (FAA) determina que torres com altura entre 15 e 70 metros de altura e com menos de 3 metros de diâmetro devem ser sinalizadas e sua localização georreferenciada de ir para o banco de dados da FAA. Porém, em 2018, por pressão do setor de telecomunicações, a FAA passou a exigir que as torres fossem sinalizadas ou registradas (e não obrigatoriamente as duas coisas juntas).
O tema segue exigindo atenção, já que o Departamento de Energia dos Estados Unidos aposta em um fornecimento de até 20% de energia de matriz eólica no país, até 2030. E há setores que defendem uma meta mais ousada na terra do Tio Sam. A chamada 25×25: 25 de eletricidade proveniente de fontes de energia renovável até 2025. A NAAA apoia oficialmente a iniciativa, desde que a implantação de torres pelo interior seja feita de maneira responsável. Para que tanto os cata-ventos quanto as torres de banda larga de internet não inviabilizem terras agricultáveis no País.
A NAAA vem pressionando a FAA para que as regras de sinalização sejam mais rígidas. Ao mesmo tempo, propondo soluções mais baratas como a instalação de luzes e bolas marcadoras nos cabos. A estimativa dos órgãos oficiais norte-americanos é de que existam hoje 150 mil torres sem fio nos Estados Unidos. Número que deve chegar a 200 mil até 2025.
* com informações do Sindag