Agricultura familiar tem potencial para produzir café especial no litoral catarinense
Capacitação teve como público alvo 22 técnicos da Epagri

Estudos recentes desenvolvidos pela Epagri, pelo Instituto Federal Catarinense (IFC) e pelo Instituto Federal do Sul de Minas, indicam que o litoral catarinense tem potencial para produzir um café especial, no contexto da agricultura familiar, com alto apelo econômico e ambiental.
Um dos resultados desse estudo foi a publicação pela Epagri/Ciram de um mapa com a região potencialmente apta, de acordo com o clima, para o cultivo de Coffea arabica no território catarinense.
A cultura do café sombreado na região Leste de Santa Catarina, compreendida pelo Litoral, teve importância econômica em décadas passadas. Tradicionalmente cultivado sob a sombra de árvores nativas ou de frutíferas diversas, ainda é bastante frequente encontrar remanescentes de cafezais antigos em propriedades rurais da região litorânea de SC.
De acordo com a pesquisadora da Epagri, Valeria Pohlmann, com base na pesquisa desenvolvida pelas três instituições, a Epagri está submetendo à Fapesc um novo projeto que, se aprovado, permitirá a realização de análises de risco climático para o cultivo de café arábica em Santa Catarina. “Assim, será possível recomendar oficialmente as áreas aptas e não recomendadas para a cultura no Estado”, esclarece.
Outra ação prevista é a instalação, no município de Tubarão, de um experimento para avaliar diferentes cultivares de café arábica em sistemas de produção distintos: a pleno sol e sob sombreamento agroflorestal. O objetivo é compreender o comportamento das plantas e sua produtividade em cenários que refletem a diversidade de estratégias adotadas pela agricultura familiar catarinense.
Como estratégia para promover cultivos diversificados, sob bases sustentáveis de produção, associado à geração de renda com produtos de alto valor agregado, a Epagri promoveu, nos dias 5 e 6 de agosto, o Curso sobre Produção de Café. A capacitação teve como público alvo 22 técnicos da Epagri e aconteceu no Centro de Treinamento da Empresa em Tubarão.
Os participantes tiveram a chance de aprofundar conhecimentos e trocar experiências sobre a produção de Coffea arabica no Estado, com ênfase no cultivo sombreado e consorciado com outras culturas agrícolas consolidadas na propriedade. Foram discutidas práticas de colheita e pós-colheita adequadas às características climáticas do litoral e às exigências do mercado de cafés especiais.
Na parte teórica da capacitação os participantes discutiram aspectos como escolha de áreas potencialmente aptas ao plantio, características dos cultivares de café arábica e práticas culturais. Também foram apresentadas estratégias de produção visando o manejo conservacionista do solo e em consórcio com outras espécies tradicionalmente cultivadas na região litorânea de SC, como a bananeira, e as palmeiras (palmeira real, pupunheira e palmeira juçara, por exemplo).
Em visita à uma propriedade familiar no município de Treze de Maio, o grupo realizou atividades práticas de poda e manejo em um pequeno pomar sombreado por arbóreas nativas. “No campo, os participantes puderam aplicar as orientações recebidas em sala, observando técnicas adequadas para o equilíbrio produtivo das plantas, melhoria da sanidade e aumento da longevidade do cafezal”, explica Valeria.
As aulas foram conduzidas pelos professores do campus de Araquari do IFC, Fabrício Moreira Sobreira e Fernando Prates Bisso, sob a coordenação do extensionista da Epagri Diego Adilio da Silva.
Segundo Fábio Zambonim, pesquisador da Epagri, essas iniciativas são importantes para atualizar o conhecimento técnico sobre a cultura do café e traçar estratégias de resgate da cafeicultura catarinense, alinhando tradição, ciência e sustentabilidade econômica e ambiental. Fábio destaca que o desenvolvimento de pesquisas, como as que estão sendo agora propostas, são imprescindíveis para atingir esses objetivos.
“Na região litorânea de Santa Catarina, é crescente a demanda de produtores por informações técnicas sobre o cultivo do café sombreado. As iniciativas de recuperação e ampliação dos pequenos pomares tradicionais estão partindo dos próprios agricultores, e quase sempre associadas ao turismo rural e à comercialização local, direta ao consumidor ou às pequenas torrefações gourmet, que têm se mostrado interessadas por um produto diferenciado. Nota-se que o café produzido no Estado já traz consigo um alto significado cultural e histórico. A expectativa é que a cultura do café especial no território catarinense torne-se uma realidade, como mais um produto gerador de renda, agregando valor à produção rural e promovendo a conservação ambiental”, aponta.
Fernando Prates Bisso, professor do IFC-Campus Araquari, conta que as primeiras plantações de café em Santa Catarina foram estabelecidas no final do século XVIII. Segundo ele, o produto catarinense sempre se destacou pela sua qualidade, apesar do pequeno volume colhido, quando comparado às grandes lavouras da região Sudeste do Brasil.
O cenário mudou na década de 1960, como resultado de uma política pública nacional de erradicação de cafezais para regulação dos estoques mundiais do grão. A partir daí, a produção de café no Leste catarinense migrou do status comercial para uma cultura de subsistência. No entanto, levantamento realizado pelo IBGE em 2017 mostrou que pequenos cultivos isolados se mantiveram em 15 municípios de Sul a Norte da costa catarinense, evidenciando a adaptabilidade da cultura às condições de clima e relevo da região.
O sistema de produção e de colheita adotado na região produtora de café no Estado foi o diferencial que garantiu a qualidade do produto catarinense quando era produzido em escala comercial. Os pesquisadores envolvidos no estudo explicam que, cultivado preferencialmente sob a sombra de espécies arbóreas da Floresta Atlântica, o café arábica se adaptou e se desenvolveu muito bem no Litoral do Estado. Por outro lado, a colheita dos frutos, realizada predominantemente de forma seletiva e escalonada ao longo da safra, garantia que os frutos fossem coletados no ponto ideal de maturação, atividade trabalhosa e onerosa, porém viável no contexto típico das propriedades rurais familiares.
Por: Gisele Dias, jornalista Epagri
Informações e entrevistasFábio Zambonim e Valeria Pohlmann, pesquisadores da Epagri/Ciram(48) 3665-5160
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