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Estudo mostra franco crescimento da cafeicultura nas Matas de Rondônia

Cafeicultura familiar cresce com alta tecnologia e produtividade em Rondônia


Foto: Photo: Enrique Alves

Estudo realizado pela Embrapa mostra um panorama positivo e bastante promissor da cafeicultura das Matas de Rondônia, região do estado que se destacou na última década na produção dos robustas amazônicos, espécie desenvolvida para a região que também recebeu manejo e insumos próprios. O raio-x da principal região produtora do estado mostrou que lá o café se concentra em pequenas propriedades, com grau de tecnificação elevado, alta produtividade, sustentabilidade ambiental e boa margem de lucro.

O Perfil socioeconômico e produtivo dos cafeicultores da região das Matas de Rondônia abrangeu os 15 municípios formadores da região das Matas de Rondônia, Responsáveis por 75% da produção rondoniense de café robusta, esses municípios obtiveram, em 2021, o registro de Indicação Geográfica do tipo denominação de origem para o grão produzido na região. No estado como um todo, o trabalho identificou um dado impressionante: a área de cafezais em produção encolheu de 245 mil hectares, em 2001, para apenas 60,6 mil hectares, em 2023. No entanto, a produtividade saltou de 7,8 para 50,2 sacas por hectare no mesmo período, um efeito chamado de poupa-terra.

Baseando-se em um questionário, aplicado com a ajuda do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do estado (Sebrae-RO), além de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e informações coletadas por satélite, o estudo foi realizado no âmbito do projeto CarbCafé, coordenado pela Embrapa Territorial (SP).

“Um dos registros mais positivos foi a boa rentabilidade do Robusta Amazônico”, relata Calixto Rosa Neto, analista da Embrapa Rondônia que assina o estudo. “Uma saca de 60kg tem um custo de R$ 618,00 reais e é vendida a cerca de R$1.300,00, uma margem que tem ajudado a melhorar a vida de muitos produtores”, frisa. Importante efeito disso é a fixação dos jovens no campo, o que foi comprovado pela queda da idade média do cafeicultor que, em 15 anos, passou de 53 para 47 anos.

O impacto social é mais impressionante quando se constata que a imensa maioria dos cafeicultores da região possuem pequenas propriedades, principalmente familiares. São fazendas de até 28,6 hectares, em média, e com cafezais que ocupam cerca de 3,4 hectares. “São mais de sete mil produtores no estado, o que ajuda a promover um amplo desenvolvimento social”, declara Rosa Neto.

“Um ponto positivo encontrado foi o tempo de espera para comercializar a safra. A grande maioria espera por melhores preços. Isso reflete uma certa maturidade econômica dos cafeicultores. Sinal que não estão endividados ou em desespero econômico”, explica o pesquisador Enrique Alves, que também assina o documento.

A atividade tem forte participação no PIB agrícola dos 15 municípios. O estudo retrata que a participação do Valor Bruto da Produção (VBP) do café em relação ao VBP agrícola total da região, verifica-se que ela é de 63,6%, na média, evidenciando a importância da cafeicultura no contexto socioeconômico desses municípios

Com mais dinheiro é possível reinvestir em tecnologia, que por sua vez aumenta a produtividade e a sustentabilidade, impulsionando o faturamento. Esse ciclo virtuoso também foi observado pelos pesquisadores. “Encontramos mais de 200 máquinas colhedoras no campo. A demanda é tanta que descobrimos uma empresa de aluguel de colhedoras de café semi-mecanizadas, algo que não existia na região”, conta Neto apontando esse como um dos sinais de que a cadeia produtiva está crescendo e se consolidando.

Além da mecanização da colheita, o levantamento encontrou outras práticas importantes que indicam bons níveis tecnológicos na lavoura. Manejos específicos de solos e plantas, a prática da fertirrigação (adubos adicionados à água), a adubação correta e as podas executadas nos períodos recomendados são indicadores de uso de conhecimentos, ferramentas e insumos atualizados. A adoção tecnológica começou há mais de dez anos com o plantio de cafeeiros clonais desenvolvidos especialmente para a região, híbridos de robusta e conilon.

Um salto impressionante observado aconteceu em um período menor que dez anos: o da conectividade. Em 2017, o Censo Agropecuário do IBGE havia registrado apenas 9,2% de propriedades conectadas nos 15 municípios que formam a região das Matas de Rondônia. Apenas sete anos depois, 97,7% dos produtores entrevistados para o estudo disseram ter acesso à internet. A tecnologia é usada principalmente para a aquisição de insumos, seguido de comunicação e da comercialização da produção. “Esse é um dos principais desafios das residências rurais. A falta de conectividade afeta a administração da lavoura e é um dos motivos que provoca a evasão de jovens do campo”, revela Neto, “por isso, esse alto índice de acesso à internet é uma excelente notícia”.

O trabalho também lançou luz sobre problemas importantes que precisarão ser contornados como o da escassez de mão-de-obra, por exemplo. Neto explica que os cafezais demandam efetivo grande de trabalhadores nos períodos de colheita, que duram cerca de três meses. “Está cada vez mais difícil encontrar empregados temporários que aceitem atuar somente nesse período, por melhor que seja a remuneração. A mecanização pode ajudar a resolver parte do problema, ela substitui até cerca de 50% da mão-de-obra, mas ainda haverá um efetivo considerável a ser suprido”, prevê o analista da Embrapa ao informar que, desde 2011, a cafeicultura da região já perdeu cerca de 20 mil trabalhadores.

Há de se desenvolver tecnologias próprias de colheita para os Robustas Amazônicos. Com arquitetura diferente das plantas arábica, para as quais há colhedoras eficientes, os robustas ainda necessitam de máquinas específicas para essa atividade. Plantas arábicas possuem um único caule, enquanto os robustas têm vários caules, um dos motivos que impede que as duas espécies compartilhem o mesmo ferramental de colheita.

O controle financeiro é outro item a se aprimorar entre os produtores, 61% deles declararam não fazer registro algum. Apenas 6,6% usam planilha eletrônica para organizar as finanças e 35% anotam receitas e despesas em cadernos.

O custo médio de produção informado pelos produtores foi de R$17,8 mil por hectare. No entanto, o cálculo teve de ser refeito uma vez que a maioria não inclui nesse montante valores como o da mão-de-obra familiar, da depreciação de equipamentos e do custo da terra, por exemplo. “É comum, por exemplo, fazer a contratação temporária de empregados com almoço incluso. No entanto, o custo dos alimentos e a hora da cozinheira não são considerados”, conta Neto.

Como toda atividade agrícola, a cafeicultura de Rondônia já está sendo obrigada a se adaptar às alterações climáticas. Os produtores estão registrando períodos bem maiores de seca. “Há pouco tempo, era preciso irrigar por cerca de três meses. Agora, com maiores temperaturas e períodos mais extensos de estiagem, os cafeicultores têm de estender a irrigação por até cinco meses”, revela o analista. Isso significa aumento no custo de produção, especialmente em energia elétrica, e, o mais preocupante, necessidade de maior suprimento de água. “Recentemente, observamos produtores do noroeste do Mato Grosso que não irrigaram, simplesmente, porque não encontraram água. Os rios secaram”, alerta Calixto Neto. Segundo ele, técnicas avançadas de eficiência hídrica serão cada vez mais necessárias.

Estudo publicado pela Embrapa este ano comprovou que os cafezais das Matas de Rondônia sequestram 2,3 vezes mais carbono do que emitem (leia aqui). Os resultados mostram que a cafeicultura da região tem alta contribuição na mitigação dos efeitos nas mudanças climáticas.

A pesquisa também registrou que em sete dos 15 municípios da região das Matas de Rondônia, houve desmatamento zero entre 2020 e 2023. Em toda a região foram encontrados traços de retiradas de áreas florestais em menos de 1% da área total ocupada pela cafeicultura. O trabalho também demonstra que mais da metade dos territórios dos 15 municípios somados é coberta por florestas, o que totaliza 2,2 milhões de hectares com vegetação nativa e 56% da floresta preservada se encontra em terras indígenas. O trabalho, feito pela Embrapa Territorial (SP), comparou dados de 2020 e 2023 obtidos em fontes oficiais e analisou imagens de satélites dos dois períodos.

Além da conservação ambiental por parte dos produtores, o estudo destaca a contribuição das reservas indígenas, que preservam e conservam grandes “blocos” de florestas nativas primárias num total de 1,2 milhão de ha. Somadas, essas áreas de vegetação nativa chegam a 56% de todo o território das Matas de Rondônia, ou 2,2 milhões de hectares.

Enrique Alves conta que a sustentabilidade ambiental é um dos pontos mais importantes para os produtores, que além de se beneficiarem das vantagens de manter a floresta, também o usam como valor adicional à marca Robustas Amazônicos. “Esse café está se consolidando como produto de alta qualidade, que promove o desenvolvimento social em pequenas propriedades e comunidades tradicionais e que ainda ajuda a manter a floresta Amazônica”, declara o pesquisador da Embrapa. “É importante frisar que o café, apesar de estar entre as três principais culturas agronômicas do estado, ocupa apenas 0,8% da área das Matas de Rondônia, que responde por 75% da produção estadual”, compara Alves.

Esse e outros trabalhos do âmbito do projeto CarbCafé, liderado pelo pesquisador Carlos Ronquim, pode ser acessado neste endereço na página da Embrapa.

 

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